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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 101 EFEMÉRIDES – Dia 10 de Abril Robert Player (1905-1978) – Robert Furneaux
Jordan nasce em
Birmingham, Warwickshire, Inglaterra. Arquitecto, professor e crítico de arquitectura
publica várias obras de arquitectura,
mas escreve também 5 romances policiários utilizando o pseudónimo Robert Player. Quase todos os livros têm como cenário a época
vitoriana e encerram uma crítica mordaz: The Ingenious Mr
Stone (1945); Let's Talk of Graves, of Worms, of Epitaphs
(1972); Oh, Where
are Bloody Mary's Earrings? (1972) The Homicidal Colonel
(1974); The Month of the Mangled
Models (1977). TEMA – INVESTIGAÇÃO CRIMINAL O CADÁVER E OS INSECTOS Encontrado um
cadáver já em estado de decomposição com evidentes indícios de crime, toda a
necessidade de conhecer o dia e a hora da morte, se possível na medida em que
estão em casa álibis de suspeitos já determinados, é crucial. A autópsia, que
naturalmente se fará, pode nada indicar com verdadeiro rigor. Entretanto o
departamento de homicídios notou a presença de larvas de moscas necrófagas (Calliphora Vicina).
Entomologistas experientes começam a trabalhar e, com base no tamanho e
espécie das larvas, indicam a hora do abandono do cadáver, já que as moscas
estabelecem a prova temporal. Na verdade, a putrefacção
do cadáver divide-se em quatro fases possíveis: 1º –
Normalmente passadas 24 horas sobre a morte surgem umas manchas verdes
abdominais devido à transformação à hemoglobina; 2º – 12 Horas
depois, 36 após o óbito, os gases de decomposição começam a encher o corpo; 3º – Inicia-se
o processo de putrefacção com um cheiro muito
desagradável que lembra queijo podre; 4º –
Desaparecem as partes moles e o corpo fica reduzido a esqueleto – entre 2 a 6
anos; durante este período o cadáver é envolvido por artrópodes até ficar
reduzido aos ossos. Refere-se que
já foram encontrados ovos depositados em pessoas ainda agonizantes, sendo os
primeiros a intervir os insectos do tipo mosca Musca – 3 a 4 meses; chegam novas espécies da família dos
Dermestídeos, mosca Fannia – 6
meses; de 6 a 12 meses, juntam-se outras espécies e por último, os coveiros Ptinus bruneus, Tenebrio obscurus.
Cada um deles deixa as suas marcas bem definidas, pelo que o exame a decifrar
é como e quando nasce, vive e morre cada espécie de modo a comparar com os
dados externos. Vejamos a
metamorfose da mosca. A maior parte
das moscas passa por 6 fases de desenvolvimento: 1 – Os ovos
são depositados e eclodem num período de tempo variável de acordo com a
espécie e com as condições do meio ambiente (temperatura). A mosca Sarchophaga carnaria deposita logo larvas. 2 – Primeira fase. Duração 22 a 28 horas: as larvas
recém-nascidas alimentam-se dos tecidos e atingem 0,5 cm de comprimento. 3 – Segunda fase. Duração: 22 a 28 horas: as larvas
continuam alimentar-se e a crescer até atingir 1 cm de comprimento. 4 – Terceira fase. Esta fase pode ser subdividida.
Na primeira etapa as larvas formam uma massa, continuam a alimentar-se e a
crescer até atingirem um comprimento de máximo de 1,7 cm de comprimento, esta
etapa dura entre 28 a 96 horas. Em seguida seleccionam
um local propício à etapa seguinte. Duração desta etapa: 80 a 112 horas: 5 – Crisálida.
A larva forma a crisálida (9 mm). No interior do casulo dá-se a transformação
até insecto adulto. Duração: 6 a 18 dias. 6 – Adulto. Ocorre a saída da mosca do casulo. Após
5 a 18 dias está apta reprodução e a iniciar um novo o ciclo. TEMA – CONTO O HOMEM QUE SABIA AS HORAS O conto que se segue, da autoria de Carlos
Miranda, é um 1º Prémio de um concurso da revista Selecções
Mistério. Nunca chegamos a identificar o prometedor autor que então referia
ser a sua estreia. Publicamo-lo com prazer. Ele não tinha culpa. Ele não tivera culpa. Nunca
era demais afirmá-lo. Só Deus sabia como se encontrava marcado pelo curso que
a vida lhe traçara. Sentira-se ao mesmo tempo exultante e ridículo.
Funcionava como um mecanismo. Perfeito. Ilógico. A seu ver a lógica era a
negação da perfeição. E ele, era perfeito. Perfeito
só num ponto. Ou antes, na hora, no minuto, no segundo. E, como viria a
confirmar mais tarde, até no milésimo de segundo. Quando nascera, e ao contrário
de outras crianças que soletram papá ou mamã, ele não. Pronunciara de forma
clara e concisa, HORA! Aos dois anos,
de mistura com frases próprias da idade, sem ter passado pela fase de
aprendizagem, sabia ver horas correctamente. Os pais,
orgulhosos, mostravam-no à vizinhança e amigos, massacrando-o com as palavras
gastas. “Diz as horas meu menino”. Quando entrou
para a escola, já acertava os relógios lá de casa, sem necessitar de ouvir o
sinal horário. A mania da pontualidade manifestava-se a tal ponto, levando-o
a pretender sair antes da aula terminar ou, antes
pelo contrário, a ficar sentado quando tocava para o intervalo A sua vocação
no tempo levou-o a especializar-se em precisão, após os estudos secundários. Aí sim. Foi o
que se pode chamar as horas certas da sua vida. As suas
proezas abalaram o mundo convencional. Era consultado a toda a hora para que,
por ironia, dissesse as horas. Tornara-se
célebre. Os jornais falaram dele durante algum tempo. Tempo suficiente para
que os Estados o procurassem e “disputassem”. Dada a sua
precisão, foi consultor espacial, onde substituiu com toda a vantagem os
relógios mais complexos existentes. Trabalhou,
eliminando todas as margens de erro na construção de novas máquinas. Contribuiu
para que todos os relógios saíssem de todas as fábricas a horas certas. Provou o
engano dos mais sofisticados aparelhos. Ele nunca. Acertou, se
assim se pode chamar, a HORA UNIVERSAL. Casou. Sua
mulher, após os sonhos, e porque até o achava certo e original, cansou-se. Cansou-se no
supermercado onde toda a gente perguntava as horas ao marido. Cansou-se em
casa, onde a pontualidade acabou tornando-se loucura. Cansou-se de
tudo bater certo até ao momento em que o marido se tornou despertador. Agora ele
lembrava-se, atónito de como a hora lhe tinha passado por cima, remetendo-o
para uma obscura repartição dos arredores, onde a sua certeza não era mais
aproveitada. Parecendo até que as pessoas, o mundo, não queria regular as
horas. De casa para o
trabalho, do trabalho para casa, aquela rotina já o aborrecia. Dava-lhes
razão. Chegara à conclusão de que para ele, sabendo a hora certa no momento exacto, tudo era demasiado penoso e longo. Se ao menos
errasse uma vez, a sua certeza ficaria abalada e poderia refazer a sua vida.
Mas não! Infelizmente nunca se enganava. Acordou
satisfeito, o que já não acontecia há muito tempo. O dia estava
lindo, azul. Vestiu-se rapidamente e saiu, caminhando desenvolto para a
estação, pensando não sem uma certa tristeza que a sua utilidade quase se resumia
a relógio de ponto. O melhor era deixar-se de conjecturas.
Iria apanhar o comboio das 08.11 H. No meio disto tudo, pensou: os comboios
ainda andavam a horas. Eram 08.10 H, ele sabia. Olhou para o relógio da
estação, mais por descargo de consciência, verificando sem espanto que estava
adiantado 1 minuto. Marcava 08.11 H. Atravessou a
passadeira a correr Chamaram-no. Olhou, e foi surpreendido. O comboio
cumpriu o seu horário. “Errei”, ainda
teve tempo de pensar. “Felizmente errei!”. O comboio
cumprira o seu horário. M.
Constantino In Policiário de
Bolso,
10 de Abril de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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