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TORNEIO DO
CINQUENTENÁRIO “MISTÉRIO…
POLICIÁRIO” – MA/MP (1975-2025) PROBLEMA Nº 11 O GORRO VERMELHO Autor: Fotocópia Ouviu-se o apito que sinalizava o fim da partida. Bocas abriam-se proferindo gritos, alguns de apoio
outros de escárnio, mantendo o ambiente infernal. Mãos batiam palmas, umas
celebrando a vitória outras de agradecimento pelo esforço dos derrotados,
ainda que pelo meio umas preferissem mexer certos dedos simbolizando
felicidade ou injúria. Vozes roucas, gargantas roxas, juntavam-se ao som de
tambores, cornetas e outros objetos que servissem para fazer barulho. Era nesta envolvente frenética que se procedia aos
habituais cumprimentos entre os intervenientes no final do jogo. Jogadores,
treinadores, delegados, árbitros entre outros, trocavam palavras e gestos,
uns mais quentes que outros, em que os companheiros mais pacientes acalmavam
os ânimos. Um dos árbitros chegou a libertar as mãos enrolando o apito no seu
cordel para tirar o cartão vermelho do bolso, mas acabou por não o mostrar a
ninguém tendo a situação sido regularizada sem a intervenção dos juízes. Emoções! O que seria o desporto sem elas? A desordem ruidosa ia terminando, ficando pequenos
grupos de adeptos que ainda deambulavam pelas bancadas. A equipa de
arbitragem, chateada e cansada deste jogo renhido difícil de ajuizar,
terminara já as suas funções e apressava-se para o seu balneário. Um deles
pegara nas suas coisas com rapidez tal que metera tudo na sua mochila sem
ordem, deixando a mala mal fechada ficando à vista o que pareciam uns cordéis
a baloiçar para fora do fecho. Passaram pelos homens da limpeza, um muito
mais velho do que o outro, que estavam encostados à parede da entrada que ligava
o campo aos balneários. – Boa noite e boa sorte, isto ficou em pantanas. –
Diziam os árbitros de fugida aos homens da limpeza enquanto ainda levavam com
apupos de dois adeptos da casa que permaneciam na bancada. Um com uma t-shirt
com o número 7 nas costas, outro com um gorro que continha duas espadas
cruzadas em “X” na zona da testa como símbolo, não respeitavam os avisos dos
seguranças. – Senhores árbitros… – balbuciou de forma sucinta,
em jeito de cumprimento, o velho puxando ligeiramente a parte da frente do
seu gorro para baixo com o polegar e indicador. Muito vira naquele clube e
aguardava impacientemente, com o sua esfregona encarnada e pano encardido,
que todos saíssem do recinto para iniciar o que fizera inúmeras vezes. Os Los Rojos, equipa
visitante, tinha vencido. Motivo de grande alegria que faziam questão de a
demonstrar no balneário cedido pelo clube visitado. Cânticos eram proferidos,
– Vamos levar daqui umas lembranças… lembranças daqui vamos levar… – ao som
de palmas que ecoavam pelos corredores dos vestiários, chegando o som
abafado, mas ainda audível ao balneário dos derrotados. – Oiçam-nos! – dizia o
treinador da equipa visitada dirigindo-se aos seus jogadores – o que pensam
disto? Foram eles que ganharam ou nós que perdemos? Estou a ver que a alegria
dos Rojos vos é indiferente… Alguns elementos ainda apresentavam olhos
enervados e visão turva, faces rubras do esforço físico. Outros misturavam
essa cor com a vergonha por terem perdido em casa contra o rival. – Não foi nada disto que trabalhámos… o que
aconteceu no jogo? – continuava o treinador, estando
ele próprio abalado pelo desenlace da partida. Entre este balneário que continha um monólogo e o
outro que continuava em festejos, encontravam-se os dois homens da limpeza
que tinham iniciado a sua labuta. – Tolos, todos eles, quero lá saber disto, só me
dão é trabalho desnecessário… estávamos bem era no Rouge a virar uns tintos –
referindo-se ao bar Maison Rouge situado não muito
longe dali, sempre com clientes azarados, taciturnos ou ambos. – Isso é que era. – concluía
o homem da limpeza mais novo. – E aquele idiota do capitão… – Ainda por cima não
recebemos nada de especial… o que vale é que de vez em quando compenso com
estes cinco dedos, não é verdade minha encarnadinha? – dirigindo-se
à sua esfregona, fazendo no ar um gesto circular com o pulso e dedos em que,
à sua vez, cada falangeta tocava na palma da mão, começando pelo mindinho e
terminando no indicador. O homem mais novo ria-se baixinho em concordância
quando é interrompido… – Com licença! – exclamou
o delegado da equipa, quase pontapeando os baldes cheios de água e
detergente. – Eh lá… – exclamou o velho num misto de surpresa
e comprometimento – onde vai com tanta pressa? – continuou. O delegado deixo-o sem resposta dirigindo-se à
porta da sua equipa. Ainda com a respiração ofegante rodou a maçaneta,
abrindo-a. O treinador, virou-se de repente para
trás, num misto de surpresa e repreensão. Não gostava que entrassem assim no
balneário, muito menos quando ele falava com a equipa. – Peço desculpa, mas estava a arrumar o material
de jogo e deparei-me com a falta de bolas de jogo, balizas fora do lugar,
garrafas estragadas, quadro tático rachado, toucas desaparecidas… – disse com
aflição o delegado. O clube não andava bem de finanças e após a derrota não
era este tipo de notícias que se desejava ouvir no seu seio. – Quando… – respondia o treinador. – Nós podemos dar uma ajuda quando sairmos daqui –
interrompeu o capitão da equipa num misto de coragem e oportunismo. O treinador olhou para ele… passou rapidamente os
olhos pela restante equipa. Percebeu que o discurso que transmitia à equipa
talvez tivesse de o fazer sozinho para consigo… tinha de se debruçar sobre as
verdadeiras razões destes comportamentos da equipa em jogo, limpar a cabeça.
Tudo o que dissesse agora não ajudaria ninguém. Parou o olhar novamente no
capitão, dizendo afirmativamente: – Equipa, vamos respirar fundo, paremos por aqui.
Vamos ajudar o nosso staff a encontrar o material.
Amanhã dou folga, voltamos na terça-feira em força! Alguns jogadores entreolharam-se. Este
comportamento não era comum no treinador, embora alguns não tivessem gostado
da intervenção do capitão (andavam fartos das suas presunções, especialmente
o guarda-redes suplente), outros sorriram timidamente para o capitão em forma
de agradecimento. Finalmente estavam libertos daquele ambiente de cortar a
respiração. Já no cais da piscina… – Obrigado maltinha – felicitava o delegado a alguns jogadores –
obrigado pelas bolas, vocês agora vão ver o resto ali…, Ò
guarda-redes, os dois, vocês venham cá, preocupem-se com os vossos gorros. – ordenava. – Olhe, desculpe lá, tinha o meu gorro pendurado
aqui com os cordéis atados no fato-de-banho e com isto tudo nem dei conta.
Mas está aqui! – Ok “redes”, o gorro número 1 já está, vão lá
encontrar o outro, por favor. – respondera o
delegado. Percebendo a nova azáfama no cais da piscina o
velho homem da limpeza e o seu parceiro pararam com os seus afazeres,
retirando-se rapidamente, desta feita para o balneário dos árbitros que já se
tinham ido embora, aproveitando para limpá-lo… Assim que terminava um jogo, era costume todos
ajudarem a arrumar o campo e o material de jogo nesta modalidade amadora. No
entanto, devido às circunstâncias do ardente jogo, praticamente todo o
material foi deixado espalhado, à mercê…
Já poucos permaneciam no local de jogo.
Praticamente só estava a equipa da casa a colocar tudo no devido lugar,
juntamente com o restante staff e treinador. Os
homens da limpeza já se encontravam noutra parte do recinto e dois últimos
seguranças da empresa Às Sete Espadas faziam uma última vistoria aos
corredores e acessos aos balneários e bancadas. Esta empresa de segurança
tudo fazia para manter a ordem, “Seguro Às Sete Espadas”, era o lema. Por
sinal, estes dois seguranças já tinham enfrentado problemas com adeptos da
própria casa pois o capitão constantemente os instigava, tendo depois os
seguranças de sossegar a cólera dos torcedores. De repente ouvem-se passos rápidos e curtos! Dois
homens entram no balneário onde estava o capitão. – Ei! Oi! O que é isto?! – pergunta
o capitão espantado. Este tinha se escapulido da
tarefa de ajudar de arrumar o cais da piscina e já se encontrava a tomar
banho sozinho, quando foi surpreendido… – Era mesmo isto que queríamos, apanhar-te
sozinho, enquanto a equipa está ali entretida… esta é por tudo aquilo que já
nos fizeste passar… – berraram os infratores enquanto davam uma surra ao
capitão. – Olha-me para este com uma tatuagem da carta 7 de
espadas no ombro… – dizia um. – Deve ter a mania, nem que fosse um ás, levava na
mesma… – vociferava o outro. Os ainda presentes na piscina ouviram a vozearia e
acorreram ao balneário encontrando o capitão sozinho deitado no chão em
posição fetal derramando sangue de uma das têmporas. Enquanto o treinador ligava para o 112, o delegado
ligava ao médico do clube que tinha acabado de entrar no seu escarlate
Porsche no parque de estacionamento, em vista a que ele pudesse acudi-los. – Inconsciente, mas vivo. – reitera
o médico acalmando a restante equipa, continuando com os cuidados
médicos. – Mas quem terá feito este horror? – diz um dos jogadores. Entretanto chegam ao balneário os dois
seguranças. – Vínhamos para aqui, mas ao cá chegar vimos dois
indivíduos a fugir do balneário… um deles com uma t-shirt com um sete nas
costas. – relata o primeiro segurança, agarrando o
outro adepto endiabrado pelo braço esquerdo. – E este “menino” aqui era o outro delinquente. – continuando o segundo segurança agarrando o braço direito
do suposto agressor. – Larguem-me eu não fiz nada… – gritava o adepto
endiabrado enquanto esperneava. Os ânimos exaltavam-se! Os outros jogadores
estavam sedentos por agredir o pilantra! – Acho que eram estes dois que só vinham aos jogos
para cometer delitos, desde roubos e ofensas a todos: árbitros, treinador e
até ao capitão da própria equipa… ainda há pouco acho que eram estes dois que
insultavam os árbitros. – refere o primeiro
segurança. – Admito! Eu e o meu “sócio” viemos aqui roubar,
esperámos até que estivesse menos gente e menos seguranças…, mas não batemos
em ninguém. – grita o torcedor. – Roubar o quê? – pergunta
o delegado da equipa – penso que não haja aqui nada de grande valor… – Tudo serve… grão a grão… – diz em risos o de
gorro com um símbolo de espadas em “X” na zona da testa, esquecendo-se da dor
causada pelos seguranças que lhe torciam os braços. – Levaram alguma coisa? – exaltando-se
o treinador com todo aquele teatro. – Só aquele “capacete” vermelho que alguns de
vocês usam, nunca percebi muito bem, só venho para aqui beber e divertir-me
com os meus “manos”, mal sei as regras – soltando uma gargalhada – … estava
no balneário dos árbitros… – sorria – infelizmente não deu para mais nada,
pois ouvimos uma gritaria do outro balneário, parecia que estavam a matar
alguém… e fugimos. Não fossem estes dois “gorilas” terem surgido tão
rapidamente… e terem me apanhado logo e tinha fugido
também com o meu “sócio”. – Nem mais uma palavra… estás a mentir! – dizia o segundo segurança enquanto lhe torcia mais o
braço. – Amigos… – interrompe o velho homem da limpeza –
confirmo a versão desse infeliz. Eu e o meu colega limpámos o balneário dos
árbitros e vimos o gorro vermelho lá, nem sabemos como foi lá parar…, mas
ficou lá, nem lhe tocámos… – Não acredito que o deixaram lá, não sabiam que
estávamos a arrumar? – responde efusivamente o
delegado. – Queremos lá saber! – grita
o velho. Continuando o homem de limpeza mais novo – Se não
fossem estes jogos aos domingos à tarde, já nos estávamos a divertir há
muito… no… – Rouge? – interpela um
dos jogadores a rir provocando reação semelhante aos colegas de equipa. – Calem-se! – remata o
velho. – Sim… – mudando de assunto um dos seguranças –
nós também vimos lá essa touca com nº 12 quando fizemos a ronda…, mas não
ligámos muito… pedimos desculpa por isso. – Pois, ainda pegámos nela e vimos bem a marca e o
número para perceber se era da nossa equipa, mas depois ouvimos passos
rápidos no corredor e fomos investigar, deixando lá a touca – diz o outro
segurança. – Passos rápidos deviam ser os vossos próprios,
quando saíram do balneário onde estava o capitão… – gargalhava o adepto já
ajoelhado forçosamente pelos seguranças. – Vamos todos permanecer serenos e aguardar pela
polícia. – acalma o treinador, trocando olhares com
o delegado e a restante equipa, questionando-se – porque é que eles teriam
feito isto? – referindo-se ao crime que acabara de
acontecer. O treinador só não compreendia a causa, mas já sabia quem era o
par culpado. Ele, o delegado e os jogadores estavam dispostos a serem
testemunhas e a dizer quem eram os culpados à polícia. 1) Que modalidade desportiva está subentendida no
texto? 2) Quem é o par culpado que o treinador, delegado
e jogadores dirão à polícia? 2.1. Como chegaram a
esta conclusão? 3) Por que motivo esse par espancou o capitão? As propostas de solução devem ser enviadas até ao dia 30 de Novembro para apaginadosenigmas@gmail.com. OU:
– Por mão
própria, directamente e pessoalmente a “Paulo”,
onde quer que o encontrem; – Via CTT
para Luís Manuel Felizardo Rodrigues, Praceta Bartolomeu Constantino, 14, 2º
Esq., Feijó 2810–032 Almada. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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