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TORNEIO DO
CINQUENTENÁRIO “MISTÉRIO…
POLICIÁRIO” – MA/MP (1975-2025) PROBLEMA Nº 4 NAQUELA NOITE DE
MAIO Autor: Virmancaroli Nesse mês de Maio,
com temperaturas amenas para a época, mas com manhãs um pouco frias e
ventosas, envolvia-nos com tardes bem agradáveis que se deixavam arrefecer
para a noite e pela madrugada adentro. Era um ciclo meteorológico
imperturbável, este. E foi numa dessas noites, de Maio, quando eram
precisamente três horas e trinta e nove minutos da madrugada, daquele Sábado,
véspera de lua nova, por sinal, que um forte ruído de vidros estilhaçados
irrompeu pelo silêncio da madrugada. Um início de fim de semana que se julgava tranquilo, como tantos outros
anteriores, já passados, mas que afinal se previa agora desassossegado! Seria
mesmo assim?… Já há muito tempo
que na ribeirinha cidade do Montijo não se registavam incidentes de maior,
pese embora o facto de uma ou outra ocorrência que rapidamente se esfumava e
das quais nem registo havia sequer, tal a irrelevância das mesmas. Naquela Praça da
República, aquela Praça velhinha, no centro histórico da cidade, que apesar
de descaracterizada, privilegiava ainda o comércio local, envolta na sua luz
habitualmente ténue, fruto das tecnologias, e aquela hora, não se viam
pessoas nem automóveis, a praça estava completamente deserta sem movimento
algum pelo que dava a impressão de que o incidente iria passar despercebido. Mas não foi isso o
que realmente aconteceu, imagine-se! O Inspector Alfama, em serviço, de turno, nessa noite na
Esquadra do Borralhal, estremeceu, assustado, outra
coisa não seria de esperar, enquanto passava pelas brasas, ao ouvir o
telefone tocar de repente. Lá lhe iam estragar a noite, pensou ele. Pegou no
auscultador e simultaneamente olhou para o relógio, oferta da esposa em dia
de aniversário, que marcava nesse preciso momento três horas e quarenta e um
minutos. Depois, então, atendeu o telefonema, não sem com alguma
contrariedade. Chamada concluída e no momento em que colocava o auscultador
no descanso, a porta ao lado abriu-se e o Sargento Boaventura entrou na sala. Passou-se alguma
coisa, perguntou ele? Pois, foi isso mesmo! Replicou o Inspector
Alfama, acabaram de assaltar a “Cara & Coroa”! A “Cara & Coroa”?
Exclamou Boaventura, atónito. Aquela loja na
Praça da República que vende e compra moedas? Alfama anuiu que
sim… essa mesmo. Foi o próprio dono
da loja, o Zé Bastos quem me telefonou. Vou para lá, agora, ver o que se
passou e já me estragaram a noite. Olha, Boaventura faz-me o favor de
acordares o Sargento Oliveira, para ele me acompanhar. A ausência
anunciada, nessa noite, do Guarda Nocturno, pago
pelos comerciantes da Praça, já poucos por sinal, possivelmente poderá ter
deixado os comerciantes mais vulneráveis…, mas até porque também já há
bastante tempo que não se registava ali nenhuma ocorrência de roubo, ou de
outro abuso qualquer! Entretanto, algum
tempo depois e quando os dois polícias chegaram junto à loja de numismática,
pertencente ao comerciante Zé Bastos, o sino da Torre da Igreja da
Misericórdia, ali bem perto da Praça da República, batia as quatro horas e
meia, badaladas que bem se fizeram ouvir, nessa noite bem escura e húmida. Via-se um enorme
buraco no vidro da porta da loja e o Sargento Oliveira juntou com o pé os
estilhaços, formando um monte considerável em frente da entrada. Nesse preciso
momento a porta da loja abriu-se. Agradeço-lhes terem, assim, vindo tão
depressa. Eu sou o Zé Bastos proprietário da loja. Os polícias entraram na
loja, sem deixarem, contudo, de observar a grande desarrumação de álbuns em
cima do balcão e foram de imediato os três, para uma sala bem iluminada onde
o proprietário começou então as explicações que motivaram a chamada por si
feita. Como resido fora
da cidade, ali na Jardia, portanto, ainda bem longe da loja e quando tenho
mercadoria para arrumar, pois, ontem fiz algumas compras, costumo dormir
sempre aqui, porque tenho de começar bem cedo com as arrumações, antes de a
loja abrir. Assim, esta noite,
tendo eu o sono leve, ouvi, de repente, tilintar qualquer coisa. Fiquei um
momento à espera, pensando que estava a sonhar, mas depois apercebi-me que
alguém estava a mexer na fechadura da porta da loja. Saltei da cama de
imediato, fui vestindo o roupão e vim logo para aqui. Mesmo no escuro ainda
deu para perceber a silhueta do intruso. Era um homem alto, de óculos escuros
e de gorro pela cabeça, que se pôs logo em fuga assim que se apercebeu da
minha presença. Eu ainda fui atrás dele até ali ao fim da praça, mas ele era
jovem e bem rápido, pelo que desapareceu na noite quando virou à esquina da
Praça. Então, voltei, depois, para a loja e telefonei-lhes. Após um breve
impasse, quase como que uma cortina para meditação, em que se gerou algum
silêncio, Zé Bastos estendeu a mão, mostrando aos polícias um tijolo. Isto
estava ali, ao pé da porta. O gatuno teria partido o vidro com ele, meteu a
mão pelo buraco e abriu a fechadura pelo lado de dentro. E conseguiu levar
alguma coisa, pergunta o Inspector Alfama? Infelizmente, sim.
Levou-me um dos álbuns mais valiosos com moedas romanas que eu tinha recebido
ontem mesmo e que estava ainda aqui em cima do balcão e, que era para ser
arrumado hoje, quando catalogadas as moedas. Não deixa de ser um grande
transtorno para mim, pese embora o facto de já as ter segurado, ontem mesmo,
quando as recebi, como habitualmente o faço com a mercadoria mais valiosa. Sim, e enquanto
avalia o seu prejuízo, ou seja, neste caso, o produto do roubo? Cerca de
cinco mil euros, respondeu Zé Bastos. Foi mesmo muito azar comentou o
Sargento Boaventura, olhando para Zé Bastos, mas como o seguro vai pagar-lhe
tudo, melhor para si. Na verdade assim o espero e que não demore porque o
negócio tem andado ultimamente mesmo muito mal. Já o Inspector Alfama não estava tão confiante quanto
Boaventura, pelo que olhando de frente e bem na cara para Zé Bastos
disse-lhe: Olhe, entretanto, vá-se vestindo para me acompanhar à Esquadra,
pois temos de registar a ocorrência. Vai levantar um
auto, diz Zé Bastos? Sim, isso também. Também? O que é
que quer dizer com isso? Perguntou Zé Bastos, cuja voz enrouquecera, agora,
subitamente. É que também temos
de tomar nota das aldrabices que nos quis impingir, tendo o valor do seguro
que pensaria receber, na mente. Foi tal o susto de
Zé Bastos que os óculos lhes escorregaram pelo nariz abaixo. Com um gesto
nervoso ele tirou-os e começou a limpá-los a uma ponta do roupão. Mas…, mas o que é
isso? Que brincadeira é essa? Eu vou queixar-me de si aos seus superiores
disse Zé Bastos. O Inspector Alfama fez um sorriso. Para quê, se pretendia
enganar a Polícia e depois a Seguradora? É isso mesmo que vai esclarecer no
auto. Pergunta-se: Quais os motivos
que teriam levado o Inspector Alfama a duvidar das
declarações do comerciante Zé Bastos, convicto de que tudo não passara de uma
encenação deste para receber o dinheiro do seguro?! As propostas de solução devem ser enviadas até ao dia 30 de Abril para viroli@sapo.pt. OU:
Via CTT para
Luís Manuel Felizardo Rodrigues, Praceta Bartolomeu Constantino, 14, 2º Esq.,
Feijó 2810–032 Almada. |
©
DANIEL FALCÃO |
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