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TORNEIO DO
CINQUENTENÁRIO “MISTÉRIO…
POLICIÁRIO” – MA/MP (1975-2025) PROBLEMA Nº 7 O ASSASSINATO DO
VELHO MILIONÁRIO Autor: Rigor Mortis Júlia era uma moça
atraente, simpática, mas longe de ser bonita. A verdadeira beleza dela estava
na sua inteligência e na extraordinária capacidade de observação e perceção
de pormenores. Como desde ainda pequena tinha percebido o seu tio, Tiago
Rodrigues, inspetor da Judiciária. Devotado à sua paixão pela investigação
criminal, não resistiu a submeter a sobrinha, a partir dos seus doze aninhos,
à descrição pormenorizada dos casos em que ia estando profissionalmente
envolvido. Poupando-a aos aspetos mais violentos ou sórdidos, colocava-lhe
cada caso como um mistério a resolver. E a Júlia, nunca se fazendo rogada,
correspondia com plena vontade, descobrindo invariavelmente a solução. Nessa tarde, Tiago
conversava com ela sobre o seu último caso. Um velho milionário
tinha sido assassinado em casa, sentado à sua secretária. Um tiro na cabeça,
com o projétil a entrar logo acima da testa, junto à sutura coronal, e a sair
logo abaixo da nuca, por cima da primeira vértebra. O tiro tinha sido
disparado a relativamente curta distância, entre metro e meio e dois metros,
e não havia quaisquer indícios de que o corpo tivesse sido mexido após o
crime. A arma não estava no escritório. Os suspeitos eram
os seus dois filhos, adultos na casa dos vintes e, obviamente, potenciais
herdeiros da sua fortuna. Os dois estavam em casa na altura do crime, mas era
a tarde de domingo e os dois criados, o mordomo e a empregada, estavam a
gozar a sua folga. Como acontecia muitas vezes em casos semelhantes, não se
davam particularmente bem com o pai. O mais velho, Rui,
um homem atlético a roçar os dois metros de altura, ainda mantinha um
relativo contacto com o pai. Não os unia propriamente uma amizade recíproca,
ainda menos um amor filial ou paternal, mas falavam-se diariamente, com normalidade,
e o velho milionário aprovava sem reservas a atividade profissional do Rui,
num cargo de direção na área comercial de uma das empresas da família. Mas a irmã,
Susana, que parecia uma criança ao seu lado, magra e no seu escasso metro e
sessenta, já nem sequer falava com ele há um bom par de meses, profundamente
revoltada com o facto de o pai se opor ao seu relacionamento com o namorado.
A sua última interação tinha sido uma violenta discussão, em que o pai
ameaçou deserdá-la se ela prosseguisse aquela relação e em que ela, furiosa,
lhe atirou com um livro à cabeça. Filhos de dois
casamentos tardios sucessivos do velho, em ambos os casos terminados em
viuvez. Se as relações deles com o pai eram más, entre eles também não havia
mais do que uma tolerância fria. – Quando lá
cheguei – continuou Tiago – ambos estavam no escritório, sentados em cadeiras
em cantos opostos, com o médico-legista e os peritos que vistoriavam
cuidadosamente toda a divisão. Nenhum deles parecia muito perturbado… Ambos
afirmaram ter ouvido o disparo, mas estavam nos respetivos quartos e disseram
não ter visto ninguém entrar ou sair do escritório. Relutantemente, segundo
as suas palavras, a filha tinha ido ao escritório e vendo o pai obviamente
morto – o orifício de entrada da bala na cabeça era perfeitamente visível,
com o torso do velho deitado na secretária, de frente para a porta – decidiu
chamar a Polícia. O irmão chegou ao escritório pouco depois de ela acabar o
telefonema. – Não foi difícil
descobrir que havia uma pistola em casa, pertença do Rui. Este foi lesto a
dizer que tinha mexido nela uns dias antes, para a limpar, como fazia
regularmente, mas que agora ela não estava no respetivo estojo, não fazendo
ideia onde estaria. Quando ouvira o disparo tinha instintivamente tirado o
estojo do armário onde estava guardado e constatara o seu desaparecimento. – Uma rápida busca
permitiu encontrar a pistola no quarto da Susana – continuou o inspetor – por
baixo das suas roupas interiores numa gaveta da cómoda. A Susana não tinha qualquer
explicação para a arma ali estar, limitando-se a repetir que não tinha sido
ela a pô-la ali. Com o projétil extraído do estofo das costas da cadeira onde
o velho tinha sido assassinado, no topo da pequena lomba da zona dos rins, a
perícia identificou a pistola como sendo a arma do crime, mas não havia nela
quaisquer impressões digitais. Um exame rápido às mãos do Rui e da Susana
também não revelou quaisquer indícios de que tivessem disparado uma arma. – Face às
evidências conhecidas, claro que prendemos a Susana e vamos acusá-la do
assassinato do pai… – Que achas,
Júlia? Júlia manteve-se
uns segundos em silêncio, olhando para as mãos no regaço. – Acho que se
enganaram, tio… – disse, em voz baixa e serena, levantando o olhar. E, caro Leitor,
que acha você? As propostas de solução devem ser enviadas até ao dia 31 de Julho para apaginadosenigmas@gmail.com. OU:
– Por mão
própria, directamente e pessoalmente a “Paulo”,
onde quer que o encontrem; – Via CTT
para Luís Manuel Felizardo Rodrigues, Praceta Bartolomeu Constantino, 14, 2º
Esq., Feijó 2810–032 Almada. |
©
DANIEL FALCÃO |
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