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 | TORNEIO DO
  CINQUENTENÁRIO “MISTÉRIO…
  POLICIÁRIO” – MA/MP (1975-2025) PROBLEMA Nº 9 ALMOÇOS GRÁTIS Autor: Detective Jeremias Caro leitor, Gostaria de
  partilhar consigo um desafio que me foi lançado um destes dias. Mas antes,
  tenho de contar como me veio parar às mãos. Não sou muito dada
  a marcar encontros com amigos de longa data e estou segura de que pensam da
  mesma forma. Sei que estão presentes para o que for preciso e eles sabem que
  podem contar comigo, incondicionalmente. Talvez por isso, os planos de
  almoços, passeios, ou outras actividades, foram
  sempre adiados e acabaram por ficar em águas de bacalhau. Agora, depois do
  domingo passado, sou obrigada a reconhecer que afinal foi um dia espectacular que passámos juntos. Também não tive grande
  alternativa. Nesse dia, pelas nove da manhã recebi uma mensagem a perguntar
  onde estava e uma hora depois tive uma invasão na minha casa. Apareceram os
  (poucos) velhos amigos munidos de uma saca de carvão, pão caseiro, vinho,
  geleiras com peixe fresco, carne, queijo, enchidos e sei lá mais o quê. Sem
  hipótese de resistir a este ataque inesperado, rendi-me e meti mãos à obra
  para assegurar a parte que me coube: preparar o pátio, as mesas, as loiças, o
  grelhador, enfim a chamada logística. E o melhor do dia não foram os
  petiscos, mas a música e a conversa animada para relembrar as parvoíces de
  uma altura em que todos nós víamos tudo de forma mais corajosa e
  descontraída. Era um tempo em
  que fazíamos das fraquezas, forças. Tantas coisas divertidas, que já tinha
  esquecido, vieram à baila. Como daquela vez, em que eu estava fartíssima de
  reclamar junto do posto dos correios, porque o telefone da única cabina
  telefónica que servia o bairro estava partido há mais de um mês. Ali, quase
  ninguém tinha telefone fixo e os telemóveis eram ficção científica. Resolvi o
  problema ao enviar, anonimamente, um postal aos CTT denunciando uma situação
  “altamente irregular e perturbadora da ordem pública”: o telefone da cabina X
  estaria com uma falha técnica e permitia fazer chamadas sem usar moedas, o
  que criava um verdadeiro caos de filas de malta nova, principalmente
  estudantes de quartos alugados, que passavam horas sem fim em chamadas
  interurbanas, quiçá até para estrangeiro, sem desembolsar um único centavo. É
  claro que não tardou que aparecessem os técnicos para substituir o telefone
  partido, que “supostamente” funcionava de graça. Tudo historietas deste
  calibre, que muitas vezes só têm piada para quem as viveu na pele, e que nos
  deixaram os maxilares doridos de tanto riso. Bom, o que me traz
  agora aqui é o enigma que me foi deixado no fim do dia, pelo grupo de amigos,
  acompanhado de uma nota onde se podia ler o seguinte: “Já que gostas
  tanto de mistérios, descobre quem cometeu o crime, porquê e com o quê.
  Ganharás almoço, inteiramente grátis, com tudo a que tens direito, num
  restaurante à tua escolha.” UM ÚNICO CULPADO, UMA ÚNICA ARMA DO
  CRIME E UM ÚNICO MOTIVO Num almoço de
  hipotéticos amigos, para recordar velhos tempos, D.ª Etelvina, apareceu morta
  na sua própria biblioteca. Antes de interrogados os suspeitos, e segundo o
  testemunho unânime dos empregados, o que se sabe, é que estalou uma violenta
  discussão entre os presentes: a D.ª Ricardina, a D.ª Severina, o Sr.
  Clementino e o Sr. Sepúlveda, além da D.ª Etelvina, a anfitriã. Também era
  consensual que cada um dos convidados tinha alguma coisa contra a dona da
  casa, mas a confusão era completa − falava-se, à boca pequena, em
  problemas de dívidas, vingança, ciúmes e até chantagem, mas ninguém sabia exactamente qual fora o móbil do crime, nem se conseguira
  relacionar os supostos motivos, com cada um dos suspeitos. Até à chegada do
  médico legista a causa de morte também era alvo de especulação −
  enquanto uns garantiam que a D.ª Etelvina teria sido envenenada, outros
  falavam numa pancada ou num tiro na cabeça. Afinal, primeiro de acordo com o
  legista e, posteriormente com o relatório da autópsia médico-legal, a morte
  fora consequência de uma lesão cardíaca extensa, causada por um objecto cortante. O que se sabe
  sobre o crime? Muito? Muito pouco? O suficiente para descobrir o culpado! Todos eram
  suspeitos, até prova em contrário e a investigação apurou que, curiosamente, cada
  um deles teria um motivo diferente e também um método de eleição próprio,
  para cometer o crime: veneno, punhal, objecto
  pesado e arma de fogo. Sem qualquer
  dúvida, e com absoluta certeza, eis os cinco factos apurados: 1. Se o
  envenenamento fosse a causa de morte, o seu autor teria sido uma das
  mulheres. 2. O motivo da D.ª
  Ricardina estaria relacionado com dívidas de dinheiros. 3. A estatueta
  seria o objecto escolhido por alguém motivado pelo
  ciúme. 4. O Sr.
  Clementino utilizaria o seu revólver, mas nunca teria a vingança por motivo. 5. A D.ª Severina
  era impulsiva e teria usado uma pesada estatueta. Caro leitor, É tudo. Não é um
  verdadeiro enigma policiário ─ os meus amigos nem são sequer policiaristas e temos de dar um desconto. O leitor, se
  quiser, tem aqui material para ocupar o tempo livre. Eu descobri as
  respostas às três questões. E mais, também relacionei cada um dos suspeitos
  com cada “arma do crime” e “motivo”. Consegue fazer o mesmo? Posso garantir que
  o meu almoço grátis “está no papo”. E os meus amigos que se preparem para uma
  sessão de “7 Problemas Escolhidos”, escritos pelo Sete de Espadas. Quem sabe
  não saem de lá verdadeiros policiaristas, com o
  vício da decifração e a criar desafios de fazer suar as estopinhas? SOLUÇÃO E CRITÉRIOS DE PONTUAÇÃO | 
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  DANIEL FALCÃO |  |