CORREIO POLICIAL

 

Publicação: “Correio do Ribatejo”

Coordenação: Domingos Cabral

 

Data: 9 de Dezembro de 2011

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PROBLEMA POLICIAL

 

UM CASO NO RIBATEJO

Autor: Detective Jeremias

 

Zé Pampilho voltava da cidade de Santarém. A chuva, que caíra forte durante toda a manhã, não o impedira de cumprir o que tinha metido na cabeça. De regresso a Almeirim a camioneta deixara-o na beira da estrada e como o sol decidira comparecer escolheu o caminho mais curto. Assim dali a dez minutos chegaria a casa, ainda a tempo de almoçar com os irmãos. Viviam os quatro, desde a morte dos pais, da exploração agrícola de um terreno que cada um deles conhecia como a palma da mão.

Zé caminhava a passos largos pelo meio da courela de milho num carreiro que atravessava o campo e que lhe permitia a passagem, ao mesmo tempo que lhe enlameava cada vez mais as botas. A folhagem verde do milho alto brilhava, o ar cheirava a limpo e tudo parecia renovado. Mas Zé prosseguiu alheio aos inconvenientes do campo e às belezas da Natureza.

Os seus pensamentos estavam concentrados num único assunto. Maria Campina, a rapariga mais bonita das redondezas e a mais cobiçada por todos, tinha aceitado ser sua namorada há uns largos meses atrás. Agora ele agarrava a caixinha com o fino anel de prata comprado na ourivesaria da cidade. O anel que iria acompanhar o pedido de casamento. Muitos achavam isto tudo uma modernice e um esbanjar de dinheiro sem sentido, mas Maria mostrara o seu agrado em receber um anel de noivado e Zé poupara tudo quanto pudera para fazer face à despesa. Considerava-se o homem mais feliz do mundo, e com mais sorte também, porque entre tantos pretendentes – incluindo os seus três irmãos – o escolhido fora ele.

Zé Pampilho ensaiava: “Maria, queres casar comigo?” … “Queres casar comigo?”

Quase no fim do carreiro, prestes a chegar ao logradouro da casa, o som de caules de milho a estalar interrompeu-lhe os pensamentos. Parou, olhou à volta em todas as direcções, mas o milho estava demasiado alto para conseguir ver alguma coisa.

“Quem está aí?” – perguntou. “Está aí alguém?”

Zé sentia-se sempre esquisito quando estava no meio do milho, apesar de ter passado a infância enfiado nele em brincadeiras e correrias com os irmãos.

De novo o barulho, desta vez mais perto. Zé Pampilho ia a voltar-se, quando sentiu a cabeça a estourar. Desmaiou sem conseguir vislumbrar quem o tinha atacado.

“Zé, ó Zé?” ‘tás para aí? Zé?” Zé ouvia o irmão mais novo a chamá-lo, algures no campo de milho. Abriu os olhos devagarinho, estava caído no meio do lamaçal. “Estou aqui!” gritou, ao mesmo tempo que se levantava. “Estou aqui!”. Começou por sacudir as calças, uma tentativa vã de se ver livre da lama e deu pela falta da pequena caixa da ourivesaria.

Procurou com cuidado, mas a única coisa que descortinou na lama do carreiro foi uma confusão de pegadas, as dela e outras que pareciam menos fundas e menos espaçadas. Seriam, com toda a certeza, da pessoa que o atacara para o roubar, mas dada a balbúrdia não se conseguia distinguir o tamanho ou o tipo de calçado.

“Ah Zé ‘tás aqui!”

Viu o irmão Chico vir em sua direcção.

“’tive à tua procura. O Toni já fez o almoço. ‘tamos todos prontos p’ra comer” disse o Chico.

Zé ia para responder, mas o irmão já tinha corrido, em direcção à casa. Ficou ainda alguns minutos sozinho à procura do anel, apesar de estar convencido de que fora levado por quem lhe batera.

Quando o Zé entrou na cozinha, os irmãos estavam todos sentados à volta da mesa de pinho. Manel era o mais velho, e o maior dos quatro, estava sentado à cabeceira da mesa. À frente de Manel sentava-se Toni, uma cópia quase fiel do irmão, ambos tinham herdado a estrutura do pai. O Chico era o mais novo e também o mais esperto dos quatro.

“Qual de vocês é que foi?” perguntou o Zé.

“Qual de nós é que quê?” perguntou o Manel.

“Qual de vocês é que me roubou o anel?” perguntou o Zé, que começava a ficar irritado.

“Qual anel?” questionou o Toni.

“O anel de noivado, que fui comprar para a Maria. Um de vocês entrou no campo de milho, deu-me uma cacetada e tirou-me a caixa do anel. Vocês gostam dela, mas ela escolheu-me a mim. Então? Digam lá, qual de vocês é que fez isto?”

“Bom, eu é que não fui”, disse o Toni, “não saí de casa durante toda a manhã”.

“Eu cá também não” disse o Chico, “tive a ajudar o Toni a fazer o almoço e depois como ‘tava na hora da carreira fui ver se te via e andei perdido no meio do milho”.

“E eu também não fui” disse o Manel, “tive toda a manhã no telheiro a reparar o tractor”.

Zé olhou para os três, agora tinha a certeza de quem é que lhe tinha tirado o anel.

 

E o leitor, também consegue encontrar as pistas para descobrir o culpado?

 

 

© DANIEL FALCÃO