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CLUBE DE DETECTIVES |
CAMPEONATO
NACIONAL 2001/2002 Prova nº 2 |
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Solução de: MAIS DATAS MISTERIOSAS Autor: O Falcão
Do livro indicado “História de Portugal em Datas”, editado
por Círculo de Leitores em 1994, transcrevem-se os seguintes parágrafos: i) 414 – Viagem de Paulo Orósio, clérigo de Braga, a Hipona, para se encontrar com Santo Agostinho. ii) 1298 – Fundação régia do primeiro condado português (Barcelos), em favor de João Afonso de Albuquerque. iii) 1642 [29 de Janeiro] – Tratado de paz anglo-luso. Os Ingleses exigem, entre outros privilégios, liberdade de comércio nalguns pontos do Império (costa de África e S. Tomé). Estes são os factos descritos mencionados nos manuscritos. Todavia, para concluirmos sobre a eventual veracidade destes manuscritos, devemos deter-nos no calendário utilizado em Portugal nos últimos 2000 anos (sensivelmente). Até 22 de Agosto de 1460 vigorava em Portugal a era de César, cuja contagem se iniciou no ano 38 antes de Cristo. Nesta data, D. João I publicou uma carta régia na qual se ordenava a substituição da era de César pela era de Cristo. Desta forma, eliminaram-se 38 anos do calendário passando o dia 22 de Agosto de 1460 a ser designado por 22 de Agosto de 1422. Consequentemente, os factos da História de Portugal anteriores a 1460 passaram a ser designados como factos prolépticos, isto é, factos fixados a uma data num calendário segundo uma Era até então desconhecida. Ainda que os factos correspondentes aos dois manuscritos mais antigos se fixassem, posteriormente, a 414 e a 1298 da era de Cristo, quando ocorreram decorriam os anos 452 e 1336 da era de César. Assim, quaisquer manuscritos que os relatassem deveriam ter sido produzidos apenas depois destas últimas datas. Logo, os manuscritos mais antigos não são verdadeiros. Adicionalmente, a referência “A.D.” presente no primeiro manuscrito está também deslocada no tempo, pois apenas viria a ser utilizada pela primeira vez no decorrer do século VIII por Bede, o Venerável, na sua história abreviada do Mundo desde a criação até ao ano 725 – “De temporibus liber”. Os dois manuscritos mais recentes referem-se ao mesmo acontecimento, embora tenham sido produzidos em lugares diferentes, o que se infere a partir do idioma em que foram redigidos: um deles em Portugal e o outro em Inglaterra. Caio Júlio César aquando da conquista da Península Ibérica no ano 38 antes de Cristo (ou ano 1 da era de César) trouxe-nos um novo calendário, cujo primeiro dia do ano era o dia 1 de Janeiro. Todavia, em Inglaterra até ao ano 1752 continuou-se a considerar como primeiro dia do ano o dia 25 de Março, tradição esta mais antiga que a era de César. Apenas em 1752 é que a Inglaterra decidiu adoptar, simultaneamente, o calendário gregoriano e o dia 1 de Janeiro como primeiro dia do ano. Desta forma, enquanto em Portugal a 31 de Dezembro de 1641 se seguiu o dia 1 de Janeiro de 1642, em Inglaterra o dia seguinte ao dia 31 de Dezembro de 1641 foi o dia 1 de Janeiro de 1641; a mudança da numeração do ano apenas ocorreu, para os ingleses, na passagem de 24 de Março de 1641 para 25 de Março de 1642. Em consequência deste facto, a data de assinatura do tratado de paz anglo-luso em Portugal foi 29 de Janeiro de 1642 (tal como consta na referência bibliográfica), enquanto para os ingleses ficou registado como tendo ocorrido em 19 de Janeiro de 1641. Estes dez dias de diferença devem-se aos 10 dias de atraso que os ingleses tinham no respectivo calendário por não terem ainda adoptado o calendário gregoriano. Como as datas dos dois manuscritos são posteriores às datas
em que foram registados os acontecimentos, então é possível que estes possam
ser verdadeiros. { publicado na secção “Policiário” do jornal “Público” de 4 de Novembro de 2001 } |
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© DANIEL FALCÃO, 2005 |
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