DESAFIOS

POLICIÁRIOS

 

 

 

O CASO DE ONTEM À NOITE

Autor: Repórter Mistério

  

I – O CASO

 

Ontem à noite precisamente às vinte e uma horas e trinta e cinco minutos telefonaram da vivenda “Mar Belo” a comunicar que o senhor Acácio Xavier da Gama, dono da vivenda, fora encontrado morto no seu escritório e que se suspeitava dum crime.

Daí a minutos, no local da morte, tomaram-se os apontamentos necessários para a investigação.

O senhor Acácio Xavier da Gama estava sentado à secretária, com a cabeça tombada sobre o lado direito da mesma e quase a decair na primeira gaveta do mesmo lado, gaveta essa que se encontrava entreaberta e na qual se viam dispersas algumas jóias. A mão direita do morto segurava ainda, amachucada, uma carta anónima, escrita à máquina, em que o ameaçavam de morte breve, por vingança.

A morte fora provocada por um tiro certeiro nas fontes, do lado direito. Junto dos pés do senhor Xavier da Gama, estava o revólver que o matara.

A porta e as janelas do escritório encontravam-se completamente fechadas pelo lado de dentro. A chave da porta apareceu sobre um tapete logo à entrada do escritório.

Perto da secretária, numa mesinha baixa, havia um cinzeiro com restos de “Camel”.

No momento em que o senhor Xavier da Gama foi encontrado morto, estavam na vivenda “Mar Belo”, quatro pessoas: Francisco, o único criado; Lúcio Xavier da Gama, o filho mais velho do dono da casa; Marcos Xavier da Gama, o filho mais novo; e Rodrigues dos Santos, antigo companheiro de Xavier da Gama, nos seus tempos de famoso artista de circo, e que aguardava uma entrevista marcada para as vinte e uma e trinta com o próprio Acácio Xavier da Gama.

De tudo se fez um rápido “cróquis”, para melhor elucidação. Ei-lo:

 

 

II – DECLARAÇÕES

 

Foram as seguintes as declarações de cada um dos interrogados:

Francisco, o criado – Não sei de nada... O senhor Acácio acabou de jantar às dezanove horas e disse que tinha visitas a receber. Pouco depois das vinte e uma horas dei entrada ao senhor Rodrigo dos Santos e levei-a para a sala. Nessa altura, o senhor Xavier da Gama discutia com uma senhora que não sei como entrou. Ouvi-o apenas dizer: “Isso é uma infâmia tecida pelo Lúcio!”. Nada mais. Quanto às relações do senhor Xavier da Gama com os filhos, ele foi sempre mais amigo do Marcos.

Rodrigo dos Santos – Sim, senhor, ouvi uma violenta discussão do Xavier com uma senhora. Ela chamava-lhe os piores nomes. Pelo que ouvi, quer-me parecer que se tratava de alguma rapariga das relações de Lúcio. Aí pelas vinte e uma e vinte ou vinte e uma e vinte e cinco calaram-se.

Apenas quando daí a uns dez minutos o Marcos apareceu a bater à porta do escritório e a forçou, por não ouvir resposta, é que dei pelo desaparecimento misterioso da tal senhora. Posso jurar que não a vi sair. Mas o Xavier Gama já estava morto.

Lúcio Xavier da Gama – Confesso que tinha umas certas divergências com meu pai, mas isso nada era de extraordinário. Não o vi, sequer, durante todo o dia. Cheguei às vinte e uma horas e dez minutos. Quanto às afirmações de Rodrigo dos Santos e do Francisco no que respeita à mulher e à discussão, creio que são absolutamente falsas. Talvez qualquer deles tivesse interesse na morte de meu pai.

Marcos Xavier da Gama – Bem vêm, fui sempre bastante amigo de meu pai. E da sua morte, só meu irmão tem a lucrar, por ser o mais velho. Não sei o que pensar de tudo isto, mas nunca simpatizei com esse tal Rodrigo dos Santos. Só vinha cá para pedir dinheiro ao meu pai.

 

III – OUTROS DADOS

 

A)  Acácio Xavier da Gama vivia riquíssimo depois duma vida agitada, em que fora artista de circo, empresário e capitalista. Agora, encontrava-se retirado dos negócios.

B)  Das pessoas que estavam na vivenda “Mar Belo”, todas fumavam tabaco nacional, excepto Lúcio Xavier da Gama, que preferia cigarros americanos.

C)  Entre a base da porta do escritório e o solo havia uma abertura por onde entrava perfeitamente qualquer objecto de pouca altura.

D)  Acácio Xavier da Gama sofria de crises cardíacas e o seu médico recomendara-lhe uma vida muito calma, pois o seu coração já não aguentava muito tempo.

E)  O revólver caído aos pés de Acácio Xavier da Gama, não apresentava impressões digitais.

F)  Lúcio Xavier da Gama era um jogador inveterado e perdera ultimamente grandes quantias.

G)  Devido a um desastre de circo, Acácio Xavier da Gama tinha partido os dedos da mão direita.

H)  Marcos devia partir para uma grande caçada no dia seguinte.

 

IV – QUESTIONÁRIO

 

      Como se deu a morte de Acácio Xavier da Gama?

      Quem foi o assassino? Porquê?

      Por onde entrou e saiu a dama misteriosa?

      Em que época decorreu este caso?

      A quem pertenciam os restos do “Camel”?

      Como apareceu a chave sobre o tapete do escritório?

      Qual o móbil da morte de Acácio Xavier da Gama?

      Porque estava a gaveta entreaberta?

      Rodrigo dos Santos falou verdade ou mentiu? Porquê?

10º     Às nove horas quantas pessoas estavam na vivenda “Mar Belo”? Quais?

11º     Houve cúmplices no crime? Quem foram os cúmplices? Porquê?

12º     Porque é que nenhum dos declarantes deve ter ouvido o tiro e porque não apresentava o revólver impressões digitais?

13º     Como pensa que se tenha passado o caso?

 

{ publicado na secção “Mistério e Aventura” em “A Vida Mundial Ilustrada” de 30 de Novembro de 1944 }

 

SOLUÇÃO

 

 

© 2004, Daniel Falcão