MISTÉRIO E AVENTURA

Publicação: “A Vida Mundial Ilustrada”

Data: 30 de Novembro de 1944

 

 

 

 

PROBLEMA POLICIÁRIO

 

O CASO DE ONTEM À NOITE

Autor: Repórter Mistério

 

I – O CASO

Ontem à noite precisamente às vinte e uma horas e trinta e cinco minutos telefonaram da vivenda “Mar Belo” a comunicar que o senhor Acácio Xavier da Gama, dono da vivenda, fora encontrado morto no seu escritório e que se suspeitava dum crime.

Daí a minutos, no local da morte, tomaram-se os apontamentos necessários para a investigação.

O senhor Acácio Xavier da Gama estava sentado à secretária, com a cabeça tombada sobre o lado direito da mesma e quase a decair na primeira gaveta do mesmo lado, gaveta essa que se encontrava entreaberta e na qual se viam dispersas algumas jóias. A mão direita do morto segurava ainda, amachucada, uma carta anónima, escrita à máquina, em que o ameaçavam de morte breve, por vingança.

A morte fora provocada por um tiro certeiro nas fontes, do lado direito. Junto dos pés do senhor Xavier da Gama, estava o revólver que o matara.

A porta e as janelas do escritório encontravam-se completamente fechadas pelo lado de dentro. A chave da porta apareceu sobre um tapete logo à entrada do escritório.

Perto da secretária, numa mesinha baixa, havia um cinzeiro com restos de “Camel”.

No momento em que o senhor Xavier da Gama foi encontrado morto, estavam na vivenda “Mar Belo”, quatro pessoas: Francisco, o único criado; Lúcio Xavier da Gama, o filho mais velho do dono da casa; Marcos Xavier da Gama, o filho mais novo; e Rodrigues dos Santos, antigo companheiro de Xavier da Gama, nos seus tempos de famoso artista de circo, e que aguardava uma entrevista marcada para as vinte e uma e trinta com o próprio Acácio Xavier da Gama.

De tudo se fez um rápido “cróquis”, para melhor elucidação. Ei-lo:

 

 

II – DECLARAÇÕES

Foram as seguintes as declarações de cada um dos interrogados:

FRANCISCO, o criado – Não sei de nada... O senhor Acácio acabou de jantar às dezanove horas e disse que tinha visitas a receber. Pouco depois das vinte e uma horas dei entrada ao senhor Rodrigo dos Santos e levei-a para a sala. Nessa altura, o senhor Xavier da Gama discutia com uma senhora que não sei como entrou. Ouvi-o apenas dizer: “Isso é uma infâmia tecida pelo Lúcio!”. Nada mais. Quanto às relações do senhor Xavier da Gama com os filhos, ele foi sempre mais amigo do Marcos.

RODRIGO DOS SANTOS – Sim, senhor, ouvi uma violenta discussão do Xavier com uma senhora. Ela chamava-lhe os piores nomes. Pelo que ouvi, quer-me parecer que se tratava de alguma rapariga das relações de Lúcio. Aí pelas vinte e uma e vinte ou vinte e uma e vinte e cinco calaram-se.

Apenas quando daí a uns dez minutos o Marcos apareceu a bater à porta do escritório e a forçou, por não ouvir resposta, é que dei pelo desaparecimento misterioso da tal senhora. Posso jurar que não a vi sair. Mas o Xavier Gama já estava morto.

LÚCIO XAVIER DA GAMA – Confesso que tinha umas certas divergências com meu pai, mas isso nada era de extraordinário. Não o vi, sequer, durante todo o dia. Cheguei às vinte e uma horas e dez minutos. Quanto às afirmações de Rodrigo dos Santos e do Francisco no que respeita à mulher e à discussão, creio que são absolutamente falsas. Talvez qualquer deles tivesse interesse na morte de meu pai.

MARCOS XAVIER DA GAMA – Bem vêm, fui sempre bastante amigo de meu pai. E da sua morte, só meu irmão tem a lucrar, por ser o mais velho. Não sei o que pensar de tudo isto, mas nunca simpatizei com esse tal Rodrigo dos Santos. Só vinha cá para pedir dinheiro ao meu pai.

 

III – OUTROS DADOS

A) Acácio Xavier da Gama vivia riquíssimo depois duma vida agitada, em que fora artista de circo, empresário e capitalista. Agora, encontrava-se retirado dos negócios.

B) Das pessoas que estavam na vivenda “Mar Belo”, todas fumavam tabaco nacional, excepto Lúcio Xavier da Gama, que preferia cigarros americanos.

C) Entre a base da porta do escritório e o solo havia uma abertura por onde entrava perfeitamente qualquer objecto de pouca altura.

D) Acácio Xavier da Gama sofria de crises cardíacas e o seu médico recomendara-lhe uma vida muito calma, pois o seu coração já não aguentava muito tempo.

E) O revólver caído aos pés de Acácio Xavier da Gama, não apresentava impressões digitais.

F) Lúcio Xavier da Gama era um jogador inveterado e perdera ultimamente grandes quantias.

G) Devido a um desastre de circo, Acácio Xavier da Gama tinha partido os dedos da mão direita.

H) Marcos devia partir para uma grande caçada no dia seguinte.

 

IV – QUESTIONÁRIO

1º – Como se deu a morte de Acácio Xavier da Gama?

2º – Quem foi o assassino? Porquê?

3º – Por onde entrou e saiu a dama misteriosa?

4º – Em que época decorreu este caso?

5º – A quem pertenciam os restos do “Camel”?

6º – Como apareceu a chave sobre o tapete do escritório?

7º – Qual o móbil da morte de Acácio Xavier da Gama?

8º – Porque estava a gaveta entreaberta?

9º – Rodrigo dos Santos falou verdade ou mentiu? Porquê?

10º – Às nove horas quantas pessoas estavam na vivenda “Mar Belo”? Quais?

11º – Houve cúmplices no crime? Quem foram os cúmplices? Porquê?

12º – Porque é que nenhum dos declarantes deve ter ouvido o tiro e porque não apresentava o revólver impressões digitais?

13º – Como pensa que se tenha passado o caso?

 

© DANIEL FALCÃO