Publicação: “A Vida Mundial Ilustrada” Data: 2 de Maio de 1946 |
PROBLEMA
POLICIÁRIO UM TIRO O MATOU Autor: Leiria Dias O caso
passou-se num cinema de Lisboa, na altura do primeiro intervalo, durante uma
sessão pouquíssimo concorrida, pois de plateia só uns escassos bilhetes se
venderam. No
momento em que se ouviu uma detonação, correram para o lado do W.C. alguns
dos frequentadores, que passeavam pelo corredor, indo encontrar junto dos
lavabos o corpo de um homem. No chão,
uma pistola, arma que se provou ter disparado o tiro que matou e espectador,
acertando-lhe num parietal. Tudo parecia indicar tratar-se de um suicídio,
mas o Inspector-Chefe que se achava também no
cinema, quis, apesar de tudo, proceder a rápidas investigações, tendentes a
esclarecer completamente o caso. Na busca
feita ao fato do morto encontrara-se, além do bilhete de ingresso, o nº 22 da
fila F, objectos de uso vulgar, como fósforos,
tabaco, uma chave, um lenço, etc. Quase
todas as pessoas declararam nada saber, pois se encontravam do lado oposto do
corredor, e somente se limitavam a indicar um indivíduo que, ao acorrerem,
viram a sair do W.C. Foi
sobre este que o Inspector incidiu a sua atenção. – Ora
diga lá o que sabe. – Em
nada poderão adiantar as minhas declarações, sr. Inspector. Antes de começar o espectáculo
reparei que aquele pobre homem, que estava sentado à
minha frente, mostrava sintomas de um nervosismo que me pareceu estranho. Na
altura do intervalo, vi-o sair pela coxia central, e julguei ler nos seus
olhos qualquer coisa de anormal. «Saí
logo atrás e dirigi-me também para o W.C., mas mal cheguei à porta ouvi um
tiro, e concluí que chegara tarde já para evitar um tresloucado acto. Quando retrocedia, vi que outras pessoas se
aproximavam, e o resto sabe-o o sr. Inspector. – O
senhor conhecia o morto? – Nem de
vista, posso jurá-lo. – Tem
ainda o seu bilhete? – Sim,
senhor, devo ter. E depois
de procurar nos bolsos, o interpelado entregou ao Inspector
o bilhete nº 23, da fila G. – Você
ganhava mais se dissesse a verdade. Fica preso até se resolver a fazê-lo. Pergunta-se: 1 – Que
facto levou o Inspector a dizer que o homem mentia? 2 – Como
reconstituiria o caso? |
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©
DANIEL FALCÃO |
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