CLUBE  DE  DETECTIVES

 

TORNEIO JARTUR MAMEDE

Problema nº 3

 

 

Solução de:

 

A MORTE DA MICAS PEIXEIRA

Autor: Inspector Boavida

 

A tinta encontrada na blusa da Micas, igual à que o Tóino deixou na farda da Pinguinhas ao abraçá-lo, pode ser explicada pelo facto do marido se ter debruçado sobre ela quando a encontrou caída no chão. E quanto aos arranhões no pescoço do Tóino, convém recordar o rebuliço havido durante a noite: há mulheres que, em certas ocasiões, são umas verdadeiras gatas…

A ferida na parte superior do polegar da mão direita do Advogado Camurça também pode ter uma explicação plausível: basta que o causídico seja canhoto ou ambidextro para que possa ter provocado, acidentalmente, um ferimento naquela mão ao descascar uma maçã, durante o seu frugal almoço no escritório.

O olhar esgazeado e as tremuras do neto da cigana Etelvina podem ser explicadas pela sua dependência de drogas, situação que provoca aqueles sintomas, em episódios de ressaca ou de abstinência. Quanto à avó do Chico da Coca, não há nada que faça recair suspeitas sobre ela, sendo natural que não tenha ouvido nada durante a noite: era surda!

Ao contrário de todos os outros moradores do prédio, que não têm como provar no período em que ocorreu a morte da Micas, o piloto Murtosa mostrou talões de compra de Combustível em Lisboa e em Pombal, para atestar a ausência na capital entre as 09h00 e as 19h00, embora não tenha exibido documentos de portagens. Talvez tivesse Via Verde, quem sabe?

Murtosa justificou aquela sua viagem com a necessidade de tratar de assuntos na Câmara da Pampilhosa. Terá sido atendido ao início da tarde e depois passou ainda pelo terreno que possui na Serra. Esta situação é pouco credível, uma vez que dificilmente ele poderia ter abastecido o carro em Pombal às… 16h30. Bom ele voava… mas nos aviões. Nos carros a coisa fia mais fino…

Por outro lado, o Murtosa não poderia ter acedido aos serviços municipais daquele Concelho uma vez que era feriado. O dia do Município assinala-se a 10 de Abril, efeméride que, em 2008, ocorreu no dia em que o Sporting foi eliminado da Taça UEFA, ao perder em Alvalade, frente ao Glasgow Rangers, por 2-0, no jogo da 2ª mão dos quartos-de-final.

Os menos identificados com o fenómeno desportivo poderão questionar se aquelas duas equipas não se teriam defrontado noutra data, no Estádio dos leões. É verdade que sim. Aconteceu no ano de 1972, com a vitória do Sporting por 4-3, em partida a contar para a extinta Taça das Taças. E o jogo não foi disputado num dia 10 de Abril.

 Mas… nessa altura, em 1972, a Esquadra do Rossio ainda tinha porta. Como disse o Pinguinhas, no dia em que a Micas foi estrangulada, a Esquadra de D. Maria (Rossio), posto da PSP que abrange a zona da Rua das Portas de Santo Antão, não tinha porta há três anos. Tal facto viria a ser descoberto e relatado pela comunicação social em Maio de 2008.

Foi o Murtosa quem assassinou a Micas. Ele não conseguiu dormir durante a noite, não devido aos barulhos que ouviu do andar de baixo, mas por ciúmes. Há uns tempos que o Tóino suspeitava que a Micas se deitava com um dos vizinhos e por isso lhe batia. As suas desconfianças eram fundadas. O vizinho com quem a Micas o atraiçoava era o Murtosa.

O piloto terá saído de casa antes da maratona amorosa dos vizinhos do primeiro andar esquerdo terminar e não soube que a Micas tinha feito gazeta à venda. Abasteceu o carro no posto habitual, junto ao aeroporto. E deambulou pela cidade até á hora em que a peixeira costumava regressar do mercado. Bateu-lhe à porta e, em vez de a encher de carícias e beijos, deu-lhe uma sova que a matou.

De nada valeram os eventuais gritos da Micas. No prédio só estava a vizinha do segundo direito, a avó do Chico, e esta é surda que nem uma porta. Murtosa desceu escada abaixo e meteu-se à estrada para encenar a história esfarrapada que contou ao Pinguinhas. O piloto poderá ter enganado o subchefe, mas não escapou à argúcia do detective Marcos Dias e do seu amigo Jartur!

 

{ publicado na secção “Mundo dos Passatempos” do jornal “O Almeirinense” em 15 de Dezembro de 2008 }

 

 

© DANIEL FALCÃO, 2008