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CLUBE DE DETECTIVES |
MUNDO DOS
PASSATEMPOS |
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TRAGÉDIA NO CIRCO Autor:
Jartur No interior do “Circo Lança”, uma parelha de trapezistas executava vários lances, ensaiando um novo número que seria estreado no espectáculo da noite. Os trapézios oscilavam numa dança diabólica e os acrobatas pulavam, de um para o outro, com infalível precisão. Os corpos, suados, confundem o seu brilho com o das roupas que os cobrem, parcialmente. De tronco forte e membros musculosos, o homem faz prodígios de acrobacia. Mas a sua companheira não lhe é inferior. Lá fora, com o rosto colado às tábuas, garotos espreitam através das fendas do madeiramento que rodeia o circo. Sempre que o polícia de giro se aproxima, um dos garotos dá o alarme e o bando dispersa rapidamente, ocultando-se os rapazes nas barracas circunvizinhas. Mas o “inimigo” afasta-se e a garotada volta a guarnecer os seus postos de observação. Entretanto, após breves momentos de descanso, os trapezistas recomeçavam as suas evoluções no espaço, procurando conseguir os movimentos mais belos e temerários. Algumas cordas e escadas da mesma matéria, pendentes dos paus que suportam o toldo, estendem-se até ao solo, roçando os coçados tapetes que cobrem a pista. O circo está silencioso. Apenas as cordas rangem e o vento sibila, fustigando o pano gigantesco e colorido. Súbito, um grito de terror ecoou no vazio do circo. Os garotos debandaram, apavorados. A corrida foi curta, porque depressa retrocederam, desejosos de saber o que se havia passado para além do madeiramento. Os olhos dilataram-se-lhes e as pernas fraquejaram, mas logo o grito que anunciava a reaproximação do guarda os dispersou, uma vez mais. O polícia, que se apercebera da debandada, parou. Olhou à sua voltou e resolveu lançar também um rápido olhar para o interior do circo. A mesma expressão que se havia estampado nos rostos dos garotos caracterizava agora a cara do cívico. Era bem macabra a cena que lhe provocava tal reacção. Num dos extremos da pista, um corpo de mulher estava caído, inerte, sem apresentar sinais de vida e sangrando abundantemente do crânio. O guarda continuou espiando; uma porta abriu-se e alguém gritou: – Acudam! Acudam! Alguns feirantes das tendas mais próximas acorrem prontamente e, seguindo o polícia, entram no circo, de onde alguns voltam a sair pouco depois, procurando um médico. Tal cuidado, porém, era já desnecessário. A jovem, que há instantes voava entre os trapézios, com toda a graça e leveza de uma gaivota, era agora apenas um corpo morto. E, quando o médico chegou, nada havia a fazer. Decorridos alguns dias, os espectáculos recomeçaram e Marcos foi assistir, convidado por um dos artistas, a uma das sessões nocturnas. – Quanto a mim – dizia o artista a Marcos – custa-me a crer que a Dina tenha falhado. Era a nossa melhor acrobata, de sangue frio a toda a prova. A ele, acho-o capaz de tudo... E por esta confidência, que ao “detective” pareceu sincera, é que Marcos se decidiu a ouvir o homem que até há pouco fora o marido da infeliz trapezista. Levada a efeito a apresentação, Marcos conseguiu que o homem relatasse o trágico acontecimento: – Eu estava a trabalhar num dos trapézios, quando a Dina falhou o salto. Instintivamente, estendi os pés e ela conseguiu agarrar-se; cairíamos logo, se eu não lograsse agarrar uma das cordas. Mas, com o duplo peso, eu não podia segurar-me e, ainda que abraçado à corda com pernas e braços, escorreguei velozmente. Foi então que as mãos dela se desprenderam do meu corpo e ela caiu, sem que a minha descida fosse abrandada. Na queda, desamparada, Dina bateu com a cabeça no rebordo da pista. E é tudo. Eu nada sofri, pois desci abraçado à corda, até cair, de pé, no solo. Corri, depois, a gritar por socorro. – Mas o senhor não se feriu em parte alguma – observou Marcos, fitando o homem com olhar interrogador. – Não, senhor Marcos! Como já disse, caí de pé. Enquanto que minha esposa perdeu a vida, eu nem sequer uma beliscadura tenho. Cheguei cá abaixo tal como havia subido antes. Marcos ouviu e calou, conquanto não acreditasse na versão do homem. Algo lhe dizia que ele mentira, descaradamente. Naquela mesma noite, o homem recebia voz de prisão e confessava ter sido o culpado da morte de sua mulher. Perguntamos ao leitor: Em que se baseou a polícia para deter o trapezista? Qual o eventual móbil do crime? Como se terão passado, realmente, as coisas? { publicado na secção “Mundo dos passatempos” do jornal “O Almeirinense” em 1 de Junho de 2008 } |
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© DANIEL FALCÃO, 2008 |
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