CLUBE  DE  DETECTIVES

 

MUNDO DOS PASSATEMPOS

 

 

A DENÚNCIA

Autor: Jartur Mamede

 

Este foi o primeiro caso em que fui colaborador directo do meu amigo Marcos Dias, o jovem investigador que vem lutando, arduamente, contra todos os que vivem à margem das leis. O caso era fácil e talvez por isso mesmo eu consegui dar uma “empurradela”. De resto, estou certo de que o Marcos não necessitaria dela para desvendar o mistério. Nunca, como dessa vez, um caso entristecera tanto aquele jovem investigador, já tão aclimatado a casos semelhantes. É que o delito tivera lugar no “Clube do Aranhiço”, a que Renato presidia e Marcos dirigia como detective, visto que todos os sócios eram jovens amadores do policiarismo. Os sócios fundadores eram 10, fazendo parte deles eu, Marcos e Renato. Os restantes sete chamavam-se Júlio, Óscar, Amílcar, Albino, César, Saul e Firmino.

O corpo fora encontrado pela mulher da limpeza que logo me fora chamar a casa, ainda eu dormia. Corri, então, a prevenir o Marcos e, no carro dele, partimos para o Clube, onde o triste cenário nos fez humedecer os olhos com lágrimas sinceras e morder os lábios de raiva mal contida, ao depararmos com o corpo do nosso grande amigo. A sede do Clube é um pequeno edifício e no primeiro andar está instalado o gabinete da direcção. Esta dependência foi o teatro do drama.

O corpo de Renato estava caído de bruços, junto da pequena mesa de dactilografia. A seu lado, caída também, estava a moderníssima “Princesa 200”, na qual a sua mão esquerda se crispara fortemente. Um rasto de sangue prolongara-se até junto do cofre, onde, em maior quantidade, coagulava havia pouco. O cofre estava aberto. Depressa verificámos que haviam apenas desaparecido os elementos relativos a três casos, que Marcos tinha entre mãos. Ao lado da mesa da máquina encontrava-se a secretária da vítima, sobre a qual estava instalado o telefone.

Era evidente que o delito fora praticado com uma arma branca, dado que o corpo apenas apresentava um golpe na parte inferior da garganta. Em lado algum do edifício foi encontrada qualquer arma capaz de ter sido utilizada pelo criminoso. Quanto a impressões digitais, nada! Só as do morto, impressas nos objectos mais utilizados em serviço. Isto patenteava que o criminoso tomara todas as precauções para que nenhum pormenor pudesse desmascará-lo.

De uma coisa estávamos certos: Renato reconhecera o culpado, mas não encontrávamos justificação para o facto de ele ter agarrado a máquina de escrever, em vez de lançar mão do telefone. Teria ele tentado escrever o nome do homem?

Nem eu nem Marcos atinávamos com a explicação. E o mistério persistia… até que o funeral se realizou.

Renato era muito estimado por todos os que o conheciam e que com ele privavam amiúde. Nenhum faltou, no acompanhamento até à sua última morada. A bandeira do Clube era transportada por um dos associados e ladeada pelos restantes, que caminhavam maquinalmente, com os olhos marejados de lágrimas.

Foi então que a solução do caso se me apresentou, quando fixei o rosto de um dos colegas. Nunca ele me fora simpático; nem só eu o detestava. Quando contei a Marcos o que pensava do caso, ele imediatamente concordou com o meu ponto de vista. Era aquele, sem dúvida, o culpado da morte de Renato. Fora ele quem o Renato acusara, antes de exalar o último suspiro. Renato era inteligente e sabia que um só pormenor bastaria para que Marcos deitasse a mão ao culpado. E assim aconteceu.

Naquela mesma tarde, no Clube do Aranhiço, Marcos algemou os pulsos de um dos sócios, que, pouco depois, se confessou responsável pela morte de Renato.

Dezenas de anos vividos nas grades, sem luz, sem sol, sem liberdade.

 

Desafio aos Sherlocks:

Qual vos parece ter sido a solução dada ao caso?

Será que a mão esquerda da vítima, crispada fortemente na máquina, pretendia denunciar alguém?

 

{ publicado na secção “Mundo dos passatempos” do jornal “O Almeirinense” em 15 de Agosto de 2008 } 

 

 

© DANIEL FALCÃO, 2008