CLUBE  DE  DETECTIVES

 

TORNEIO RÁPIDAS POLICIÁRIAS 1993

Prova nº 6 – Problema nº 1

 

 

ENIGMA AO JANTAR

Autor: O Falcão

 

Não era a primeira vez que se reuniam para jantar. Também não era novidade, para nenhum dos elementos do grupo, que todos tinham que seleccionar um dos casos que lhes tinham ido parar às mãos. Esses casos seleccionados seriam, como era habitual, apresentados como antidigestivos aos presentes, para que procedessem à sua decifração.

 

É neste ambiente de salutar convívio que encontramos os inspectores Fidalgo e Rodriguinho, e os detectives Mário Zamith e Jorge Direito. Depois do delicioso repasto a que nenhum dos presentes gosta de se furtar, surgiu o momento da exposição dos casos e respectiva decifração.

Escusado será dizer que o que está em jogo é definir quem há-de despender a quantia, relativamente significativa, de modo a que não tenham que ir todos lavar os pratos. Como sempre, depois da indefinição sobre quem haveria de começar, o detective Jorge Direito deu o pontapé de saída.

 

Para esta jantar, resolvi inventar um caso que poderia ter ocorrido há já uns anos, mais exactamente em Outubro de 1988, encontrava-me eu a gozar uma semana de férias na ilha da Madeira.

Estava uma magnífica manhã, o que habitual naquele paraíso, quando acordei. Depois dos preparativos matinais, desci do quarto do hotel em direcção à sala onde servem o pequeno-almoço.

Quando passava pelo “hall”, apercebi-me dum burburinho, em que estavam presentes, para além de alguns turistas, o gerente do hotel e o recepcionista. Após me identificar como detective da polícia, o gerente contou-me que um dos hóspedes, o sr. Augusto Fontão, acusava o recepcionista de lhe ter furtado uma pequena mala contendo as jóias da sua esposa. Naturalmente, que este negava peremptoriamente ser o autor do furto.

Em face da situação, escutei as declarações de cada um dos envolvidos. O primeiro foi o sr. Fontão:

Isto é incrível. Acabamos de chegar e já fomos roubados.

Conte-me tudo o que aconteceu, desde que chegaram ao hotel até dar pelo desaparecimento da maleta.

Assim que chegámos ao hotel, descarregámos as malas do táxi e dirigimo-nos ao balcão de recepção. A minha esposa traz sempre com ela a pequena mala com as jóias, que desapareceu.

A sra. Pousou a mala em algum lugar? – perguntei à esposa do sr. Fontão.

Oh, não sei que lhe diga… Desde que aterrámos que não me sinto muito bem. Estou muito baralhada, não me lembro do que se passou…

Bom, bom, não se preocupe. Acalme-se – disse-lhe eu, enquanto me dirigia até junto do recepcionista. – Como é que se defende da acusação?

Estou inocente. Reparei quando o casal chegou e, apercebendo-me de que a senhora não se estava a sentir bem, amparei-a na entrada e sentei-a num dos sofás; depois, ajudei a trazer as malas do táxi. Quando me preparava para lhes indicar o quarto, o sr. Fontão começou a acusar-me de lhes ter furtado uma mala. Mas eu não fiz nada disso – assegurou o recepcionista.

Durante esses momentos, passou muita gente pelo “hall”?

Não. Só saiu o hóspede do quarto 123. Como vê, ainda tenho a chave do quarto em cima do balcão. Com a confusão, ainda não a arrumei.

Obrigado. O sr. acha que o seu recepcionista é de confiança? – perguntei ao gerente do hotel.

Na minha opinião, é, embora já tenha havido, há uns meses, um caso semelhante que o envolvia e que não se conseguia desvendar – respondeu o gerente, afastando o detective do balcão de recepção –, mas devo avisá-lo de que ele tem cadastro na polícia.

Como estava ansioso por arrumar o assunto e ir tomar o pequeno-almoço, voltei a dirigir-me ao recepcionista e perguntei-lhe:

Reparou na matrícula do táxi?

Sim, sim. Agora que se refere à matrícula, lembro-me que eram das novas, aquelas em que os números aparecem antes das letras…

 

E pronto! Digam lá a vossa opinião sobre o caso.

 

A   O recepcionista é culpado, porque o facto de já haver dois casos semelhantes e de ter cadastro na polícia é determinante.

B   O recepcionista pode não ser o culpado, pois tudo o que diz pode ser verdade.

C   O recepcionista pode ser o culpado, pois nem tudo o que diz pode ser verdade.

D   O hóspede do quarto 123, aproveitando a confusão, ficou com a mala das jóias.

 

{ publicado na secção “Policiário” do jornal “Público” de 5 de Setembro de 1993 }

 

SOLUÇÃO

 

 

© DANIEL FALCÃO, 2005