CLUBE  DE  DETECTIVES

 

CAMPEONATO NACIONAL 2002/2003

Prova nº 2

 

 

Solução de:

 

A MORTE DO MORENO DE OLHOS VERDES

Autor: A. Raposo

 

Tempicos, com a sua já longa prática de casos de polícia, sabia que a história contada não batia certo.

Se o que Ornelas contava fosse plausível, então ficava por explicar o facto de a pistola ter sido limpa de impressões digitais.

Por outro lado e de acordo com o depoimento da criada, tinha sido ao acender a luz do hall, quando foi disparado o primeiro tiro que, aliás, nem acertou no Quinzinho. Assim sendo, quem atirou sobre o intruso, sabia que estava a atirar sobre o Quinzinho. O segundo tiro foi-lhe fatal e ele caiu de costas, pois estava voltado para o interior da casa e teve morte imediata. O Tiro foi no coração.

Tempicos, quando chegou, viu o corpo de bruços. Alguém o virou entretanto, para dar a entender que ele ia a sair de casa e estaria de costas, confundindo-se com um vulgar assaltante que tentava sair de casa.

Fatinha diz que nada viu, mas acabou por afirmar aquilo que só alguém que tenha disparado saberia, “levou um tiro certeiro...”. Como sabia ela, se foram disparados dois tiros? Sabemos que o primeiro ficou incrustado na ombreira da porta e o segundo, sim, foi certeiro!

O seu tio Ornelas, querendo ilibá-la, inventou uma história à pressa. Enfiou a rapariga no quarto e deve ter-lhe dito para se calar. Foi virar o corpo do Quinzinho, limpou a arma que retirara das mãos de Fatinha, com pano e colocou-a na gaveta da secretária. Se fosse ele a disparar e a dar-se como atirador, então não tinha nada que limpar a arma!

É claro que não era a primeira vez que Ornelas protegia a sobrinha, mas a jovem impulsiva e irresponsável. Desta vez improvisou e, apesar da sua fértil imaginação, que tanto utilizava nos romances policiais que escrevia, não conseguiu enganar o experiente detective.

Se a história de Ornelas passasse e se o tribunal “engolisse” a trama, acabaria por lhe dar uma pena leve, uma vez que e trataria de homicídio involuntário de um eventual assaltante e onde ele desempenhava o papel de guardião dos legítimos bens.

Só que a história acabou por ter outro desfecho e a menina Fatinha – cabecinha tonta – acabou por ser incriminada pelo assassino do seu marido/amante.

Ornelas, encobridor do crime, teve a sorte de apanhar um juiz amigo da tropa e apanhou uma pena suspensa.

Tempicos bebeu mais uma cervejinha fresca com umas pevides e encerrou o caso.

 

{ publicado na secção “Policiário” do jornal “Público” de 8 de Dezembro de 2002 }

 

 

© DANIEL FALCÃO, 2002