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CLUBE DE DETECTIVES |
TORNEIO
RÁPIDAS POLICIÁRIAS 1993 Prova nº 1
– Problema nº 1 |
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O INSPECTOR FIDALGO DESVENDA O CRIME… Autor:
Insp. Fidalgo
Estava
um daqueles dias aborrecidos, pastosos, complicados, em que nada apetece
fazer. O céu estava bem carregado e havia tempestade no ar. O Inspector
Fidalgo detestava esses dias. Por sua vontade deitava-se a dormir, numa
inconsciência total, alheado de tudo e de todos… Só que o crime espreita em
cada esquina e foi assim que lhe comunicaram que o famoso financeiro Antero
Bilardo aparecera morto, em sua casa, em circunstâncias bastante estranhas.
Crime, ao que tudo indicava, mas tornava-se necessária a sua presença, por
via das dúvidas… A
casa era verdadeiramente espantosa e a sobriedade misturada com um requinte
exótico transformava aquele ambiente num misterioso quadro digno das mil e
uma noites. O frio intenso que se fazia sentir no interior do escritório
contrastava com o calor abafado e doentio que andava à solta nas ruas. No
chão, bem perto da janela escancarada, jazia o corpo da vítima, deitado de
costas, com os olhos azuis fitando o branco do tecto. No peito, lá estava a
marca produzida pela arma da morte, um punhal de cabo prateado, que estava
abandonado no outro extremo do compartimento. O
inspector olhou para os presentes, aguardando algum sinal que o pusesse na
rota certa. E ouviu: – Senhor inspector, eu sou o primo do Antero,
chamo-me Afonso e tenho alguma coisa a contar-lhe, mas gostaria que fosse em
privado… Retiraram-se
para um canto… – Eu fui o primeiro a chegar ao escritório,
onde ia falar com o meu primo de uns projectos de negócio em que ando
embrenhado… Ia pedir-lhe uma opinião e também, porque não confessá-lo, um
financiamento! Só que não tive tempo… Ao chegar, ele já estava morto… O
assassino deve ter entrado pela janela e matou-o. O que ele não sabe é que o
meu primo deixou um sinal… – Um sinal? Que sinal? Não notei nada de
especial… – Claro que não porque eu apaguei-o para não
espantar o assassino… Sabe, o meu primo tem sempre a mania de estar com a
janela aberta de par em par e, como é um andar térreo, sujeitava-se ao que
aconteceu… Mas o que o assassino não sabe é que ele não morreu logo… Viu onde
estava o punhal? O meu primo arrastou-se até junto da janela e escreveu no
embaciado do vidro o nome do criminoso… – Estranha história… – Eu sei, mas é a verdade. Está aqui a prova, nesta
máquina fotográfica com que fotografei o vidro embaciado e o nome do
criminoso… – Vejo que já revelou o rolo… – Sim, é verdade… Leia só… – ADRIANO… Quem é o Adriano? – É o secretário do meu primo… Ou melhor, era. O
Adriano metia os pés pelas mãos, não sabia o que tinha feito em determinadas
horas, não sabia dizer a que horas tinha estado pela última vez com a vítima,
mostrava-se, em suma, baralhado e assustado. – Senhor inspector, não sei de nada… Eu não
tinha nada a ganhar com a morte do meu patrão… Nada! Não me lembro das horas
porque aqui perdemos a noção do tempo, não temos horários a cumprir, nada!...
Sim, é verdade, que o patrão estava sempre com a janela escancarada e hoje
mesmo, de manhãzinha, quando vim do mercado, notei a janela aberta e vi o
vulto do patrão a trabalhar… Também
o Silveira, o carteiro, confirmou que pelas 9 horas da manhã, quando passou,
ele estava vivo e bem vivo, porque lhe entregou a correspondência em mão,
pela janela, tendo estado até um pouco à conversa. O
resultado laboratorial apontou a hora da morte para as 11 horas e o Inspector
Fidalgo meditava… A – O assassino foi o carteiro, talvez farto de
entregar a correspondência numa casa tão isolada. B – O assassino foi o Afonso porque inventou toda
a história e simulou o sinal no embaciado do vidro. C – O assassino foi o Adriano, denunciado a tempo
pelo patrão ao escrever o seu nome no embaciado do vidro. D – Não houve crime, mas apenas e só suicídio,
talvez por estar farto da vida de escravo que levava ou por os negócios não
estarem tão bem como desejaria. { publicado na secção “Policiário” do jornal “Público” de 17 de Janeiro de 1993 } { re-publicado na secção “Policiário” do jornal “Público” de 19 de Agosto de 2007 } |
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© DANIEL FALCÃO, 2005-07 |
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