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CLUBE DE DETECTIVES |
TORNEIO RÁPIDAS
POLICIÁRIAS 1993 Prova nº 1
– Problema nº 3 |
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FIDALGO E A MORTE DA “TIA” GILDA!... Autor:
Insp. Fidalgo
Um
pouco como em todas as terras deste país, o feriado municipal é pretexto para
festas e arraiais, folias quase sem limite. Assim acontecia, também, naquela
vila isolada do resto do mundo, onde o progresso ia aparecendo sob a forma de
agências bancárias. Contavam-se já por uma meia dúzia e até caixas
automáticas por lá havia!... Mas
a história que trouxe o Inspector Fidalgo a tão desviado local não tinha que
ver com bailes e festas, mas com o assassinato da “tia” Gilda, a mais idosa
mulher da terra, uma situação que ninguém conseguia explicar sem abordar a
sua forte aversão a bancos ou fortes, constando que tinha uma fortuna
apreciável debaixo do colchão, ou dentro dele, ou coisa que o valha. Para já,
tudo não passava de conjecturas que, ao que se sabia, nunca ninguém tivera
hipóteses sequer de espreitar essa fortuna lendária. Calculada
a hora da morte da velha senhora, iniciou-se o trabalho moroso e monótono de
estabelecer quem poderia ter oportunidade e tempo para executar o crime. De
ilibação em ilibação, porque muitas pessoas estavam, naturalmente, em bailes
e manifestações colectivas, excluindo-se, o círculo de possíveis assassinos
foi-se fechando em torno de duas personagens, aparentemente sem qualquer
relação entre si, afastando hipóteses de cumplicidade… O
João Costa, um dos mais ricos da terra, construtor, gabarola, exibindo um riso
trocista e altaneiro, sempre que havia a carteira, recheada de cartões de
crédito, de multibanco, de tudo quanto era banco
conhecido por esses lados. – Dinheiro? Não uso!... Nas cidades as pessoas
com posses não usam dinheiro… É cartão para cá, cartão para lá e assim se
fazem negócios, compras, vendas… O
José Silva era um tipo pouco escrupuloso, sempre metido em negócios pouco
claros, de que se saía, surpreendentemente bem.
Gastador por excelência, consumia quase sempre mais que o que conseguia
realizar e por isso era quase um cavaleiro-andante,
fugindo de credores, no seu carro desportivo e potente, quase sempre nos
limites. – O dinheiro foi feito para ser gasto e é isso
que eu faço sempre que me chega às mãos… Tenho negócios… O
Inspector Fidalgo ouviu os relatórios dos seus agentes quanto aos
interrogatórios das pessoas da terra e chegou à conclusão que a solução
passava pelos dois principais suspeitos, pelo que resolveu ouvi-los, em
separado… – Claro que não tenho nada a ver com a morte
dessa mulher… Era só o que faltava, eu, o tipo mais rico da terra a
envolver-me numa morte por causa de dinheiro, ao que consta parece que a
mulher tinha dinheiro em casa… Sim, é verdade que fechei um negócio em plena
festa, mas isso não prova… Onde fui arranjar o dinheiro? Ora, dei uma saltada
ao Caixa Automático do Multibanco, porque o tipo queria o dinheiro a contado…
Sim, foram cem contos… Não podia perder o negócio e como nunca ando com muito
dinheiro… Não, não guardei qualquer talão… Nem me lembro, sequer, se a máquina
me deu qualquer talão… Às vezes não têm papel… – Sim, chamo-me José e não sei porque me quer
falar… Dizem-me que a mulher foi morta por volta das 16 horas, mas a essa
hora eu estava O
Inspector Fidalgo olhava fixamente um ponto longínquo, lá no horizonte… A – Foi o José porque
nunca poderia ter levantado o dinheiro no Banco por ser feriado. B – Foi o João porque nunca poderia ter levantado
aquele dinheiro num Caixa Automático da rede Multibanco. C – Foi o João que não pode exibir recibos do
Caixa Automático porque não fez qualquer operação, tendo inventado uma má
desculpa por nunca ter pensado que o apanhassem. D – Foi o José porque não tinha qualquer hipótese
de levantar vinte contos ao balcão do Banco, nas condições que refere. { publicado na secção “Policiário” do jornal “Público” de 31 de Janeiro de 1993 } |
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© DANIEL FALCÃO, 2005 |
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