|
CLUBE DE DETECTIVES |
TORNEIO RÁPIDAS
POLICIÁRIAS 1993 Prova nº 2
– Problema nº 1 |
||
|
O INSP. FIDALGO E O TEJO!... Autor:
Insp. Fidalgo
Naquele
dia de puro Inverno, o Inspector Fidalgo brincava com um colar de “clips” que se entretivera a encadear diligentemente, como
fazia muitas das vezes em que estava aborrecido. Há vários dias que não tinha
nada que fazer, parecendo que, subitamente, todos os criminosos da cidade se
tinham reformado. Desesperou
de nada fazer e pegou, com enfado, no número desse dia do Público. – Bolas, nem no Público vem nada de jeito…
Definitivamente, nada aconteceu de relevante… Bolas!... Foi
então que uma pequena notícia lhe atraiu a atenção. Algures nas Avenidas
Novas, uma velha senhora, viúva e só, aparecera morta na madrugada, em
condições pouco claras. Sem
nada para fazer, o Inspector Fidalgo vestiu o impermeável, colocou o chapéu e
lançou-se para a invernia… Não
ficava muito distante e decidiu ir a pé, apesar da chuva que insistia em cair
com intensidade. A casa era velha, tão velha como a vítima, como lhe contaram
as vizinhas, ainda eufóricas com o acontecido… – Era de esperar… – Estava mesmo a pedi-las… Eu bem a avisei uma série de vezes, mas… O
inspector meteu-se na conversa… – Avisaram-na de quê? – Ora, que a sua mania de andar sempre a dar
comida a cães e gatos vadios ia dar maus resultados… – O que é que a sua morte tem a ver com isso? – Sei lá!... O que sei é que ela já foi ameaçada
uma data de vezes por vizinhos aqui, por causa do cheiro e do barulho que os
cães fazem de noite… – Não é razão para se matar… – Isso já não sei, agora que ali o sr. Filipe e o Ambrósio se fartaram de ameaçar, isso é
verdade. O
inspector foi falar com o Filipe… – Esta gente é doida… Alguma vez eu era capaz
de matar uma pessoa por causa de barulho ou de animais… Francamente, o que
aconteceu deve ter sido ela que se desequilibrou e caiu pelas escadas abaixo…
Não consigo imaginar de outra forma… Sim, é verdade que ameacei e muitas
vezes quase perdi a paciência, mas daí a tentar matar… – Não ouviu nada de anormal? – De que género? – Sei lá, gritos, latidos, sei lá… – Bem, os cães que ela tinha em casa fartaram-se de ladrar, mas faziam isso todas as noites…
Não foi muito diferente… – O que é que tem na perna? – Eu… Bem, eu fui mordido por um desses
rafeiros, mas não foi agora, já foi ontem… Não fui ao médico, fiz eu o
curativo… Foi o cão castanho, a que ela chamava Tejo… Na
verdade, como contaram as vizinhas, o cão fartou-se de lhe ladrar quando o
levaram, quase arrastando o homem que o conduzia pela trela. Mas logo
concluíram que o cão ladrava assim a quase toda a gente, só respeitava a
velha e até já evitara uma vez que ela fosse assaltada. Estava
o inspector a passarinhar pela casa quando uma das alcoviteiras o foi chamar: – Está a chegar o Ambrósio… O
inspector mediu o homem e perante a sua surpresa, pelo menos aparente,
perguntou-lhe o que fizera durante a noite… – Ora essa? Quem é você? O que é que tem com
isso? A
atitude mudou quando o inspector se identificou. – Desculpe, não sabia… Eu sou
vigilante nocturno. Tenho aquela viatura distribuída pela empresa, tenho uma
série de firmas para visitar durante a noite… Compreende, tenho de fazer a
minha ronda… Mas não percebo por que me está a perguntar essas coisas.
Aconteceu alguma coisa à minha mulher? Assaltaram-me a casa? Que se passa? – Tenha calma… Estou a tentar estabelecer
alguma relação entre você e a sua vizinha dos cães… – O raio da mulher fez queixa de mim, não foi?
Pois claro que tinha de ser… Então não é que o raio de um cão que ela lá tem
me tentou atacar ontem, quando saí para a ronda… – O Tejo… – Sim, é o maldito Tejo… Claro que lhe mandei
um valente pontapé, mas o “gajo” é forte como o raio e vi-me às aranhas…
Mandei umas “bocas”, mas longe de mim fazer mal à velha… Que diabo, eu também
sou uma espécie de agente da autoridade, de certa forma, compreende… Já se
adivinhava que um dia ia haver problemas… As escadas não eram para
brincadeiras… Mas, enfim, coisas que acontecem… O
Tejo não ia ver mais a sua “dona”, nem teria que se preocupar mais com a sua
segurança… A – O responsável foi o
Ambrósio, que mentiu descaradamente porque não deu nenhum pontapé no Tejo,
senão tinha de ter marcas de mordeduras. B – O culpado foi o
Filipe, e por isso é que o cão lhe deu a mordidela na perna. C – O culpado foi o
Ambrósio, que não deve ter feito só a ronda, nessa noite, pelas declarações
que produziu. D – O responsável foi o
Filipe que não deve ter sido tão “santinho” como pretende parecer, pelas
declarações que fez. { publicado na secção “Policiário” do jornal “Público” de 7 de Fevereiro de 1993 } |
|
||
© DANIEL FALCÃO, 2005 |
||||