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CLUBE DE DETECTIVES |
TORNEIO
RÁPIDAS POLICIÁRIAS 1993 Prova
nº 2 – Problema nº 3 |
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HOJE, O INSPECTOR FIDALGO EM ALGÉS Autor:
Insp. Fidalgo
Vindo
da cidade do Porto na carruagem de primeira classe do mais luxuoso comboio que
liga aquela cidade a Lisboa, muito feliz da vida por viajar a convite da
administração da companhia, pela colaboração na resolução de um caso menor,
daqueles que nem merecem ser relatados, o Inspector Fidalgo abriu o Público
que, calmamente, foi desfolhando, num misto de sonolência e nervoso miudinho,
porque queria confirmar a saída da secção Policiário… Foi
então que, como que impulsionado por uma mola, se ergueu da poltrona ao ler o
título que o dava como presente em Algés nesse mesmo dia, ou seja, hoje
mesmo!... Consultou
o relógio e foi um homem “em pulgas” que saiu a correr da estação de Santa
Apolónia, quase gritando ao taxista que o conduzisse imediatamente a Algés. Aí
chegado, depois de uma correria louca pela cidade preguiçando debaixo de um
sol quase escaldante, logo procurou a Esplanada Caravela, no Jardim de Algés,
onde, a partir das 10h30 a notícia dava garantias de haver gente à espera…
Mas se não estivesse ninguém, porque a hora ia adiantada, podia ir
directamente ao Restaurante Trinitá, na Rua António
Granjo, por volta das 13. Não
foi preciso… Estão a ver aquela senhora “ligada à electricidade”, dois palmos
de gente com milhões de volts de energia, ali mesmo ao canto da sala? É a Pal, a organizadora, que se desdobra para que tudo corra,
como é habitual nas suas organizações, ou seja, optimamente! E aquele ali, de
barbas brancas é o Sete de Espadas e ali está o Constantino, o Gráfico, o F. Perlico, o M. Lima, o Jartur,
o… Já
o almoço ia adiantado, com muita conversa e animação, quando toda a gente
parou bruscamente de falar, dirigindo os olhares incrédulos para a porta do
restaurante, por onde acabara de entrar um vulto embrulhado no que parecia
ser um lençol, apontando uma pistola e gritando: “Nem um movimento… Isto é um
assalto!”. Toda
a gente ficou imóvel, notando-se, apenas, aqui e ali, sorrisos comprometidos,
indiciando que se tratava de uma brincadeira da organização, que a palidez da
Pal desmentia completamente… “Boa!
Excelente ideia”, gritou alguém manifestamente agradado com o espectáculo,
momentos antes de ser atingido no rosto com a arma do assaltante, prova
manifesta que não brincava… O
Inspector Fidalgo estava tenso, com uma atenção redobrada, para ver no que
paravam as modas… Um a um, todos os convivas foram largando os seus valores,
a que nem escaparam alianças de ouro, com alguns a confiarem, ainda, que se
tratasse de uma brincadeira. O
assaltante era homem, mediria um metro e oitenta e cinco, pesaria oitenta e tal
quilos, calçava sapatos de lona, brancos, e nada se via, porque usava um
lençol metido na cabeça e quase até aos pés. Recolheu
tudo o que quis e, sempre ameaçando, recuou para a porta, não sem antes
avisar que dispararia sobre o primeiro que ousasse pôr a cabeça fora da
porta. Assim
que ele desapareceu no canto esquerdo da porta da rua, o Inspector Fidalgo
saltou do seu lugar e correu para a rua, não sem antes ouvir o aviso do dono
do restaurante alertando para não correr porque estava o cão na rua, à solta,
que atacava qualquer vulto que visse… a correr. Abriu
a porta, devagar e com muitas precauções espreitou para o seu lado esquerdo.
Lá estava o cão, monstruoso, muito pacífico e incapaz de fazer mal a uma
mosca, a menos que… Visse alguém a correr! Manias,
pensou. Junto dele, um rapazola com aspecto coincidente com o do assaltante,
fazia-lhe festas. De
dentro do restaurante foram saindo policiaristas
que, num ápice, apanharam nas imediações e até ao fundo da rua três outros
suspeitos, cuja descrição coincidia: o António, o Manuel e o José. O
António, apanhado no fundo da rua, portanto a cerca de duzentos metros,
afirmou que nada tinha a ver com o roubo; estava a passear e não viu nada de
anormal. O inspector vira-o ao fundo da rua quando espreitou, para aí vinte
segundos depois de o ladrão ter desaparecido na esquina da porta. O
Manuel foi apanhado no cruzamento, ao sair de sua casa, como o Inspector
Fidalgo vira ao sair do restaurante a mais de duzentos e cinquenta metros de
distância. Nunca tinha ouvido falar de policiarismo
nem sabia que tinha havido um assalto. Quando lhe falaram do lençol, riu-se
muito e perguntou se era como aquele que estava debaixo daquele carro ali…
Ali era mesmo em frente do restaurante, num local que se não via de dentro. O
assaltante desfizera-se logo do lençol… O
José fartou-se de gozar e disse-nos que descobríssemos quem era o culpado,
uma vez que passávamos a vida a escrever casos desses. Fora apanhado do lado
direito da rua, portanto do lado contrário àquele por onde o ladrão fugiu,
mas começou a gozar, parecendo saber mais do que dizia, ou seja, nada! Acabou
por confessar que vira um tipo a largar o lençol, mas não sabia quem era,
porque via muito mal ao longe e estava quase a cento e cinquenta metros da
porta do restaurante… O
que estava a fazer festas ao cão, era um outro, o Artur, que logo disse não
ter visto nada porque estava muito entretido a brincar com o animal e só
começou a tomar atenção quando ouviu a algazarra dos convivas. Sobre o lençol
que estava ali ao pé dele, disse que não deu conta e como o vento que
soprava, podia ter sido arrastado, o que até era verdade. Do
produto do roubo, nem rasto e, a menos que estivesse no interior de qualquer
carro nas imediações, não se adivinhava local capaz de servir de abrigo, tal
como à pistola… E todos tinham a certeza que havia sido um deles, mas… Quase
à uma, o Constantino olhou para o Sete de Espadas e o Gráfico sorriu ao ver a
Pal descomprimir… A – Foi o Artur B – Foi o José C – Foi o Manuel D – Foi o António { publicado na secção “Policiário” do jornal “Público” de 28 de Fevereiro de 1993 } { re-publicado na secção “Policiário” do jornal “Público” de 5 de Agosto de 2007 } |
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© DANIEL FALCÃO, 2005-07 |
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