CLUBE  DE  DETECTIVES

 

TORNEIO RÁPIDAS POLICIÁRIAS 1993

Prova nº 3 – Problema nº 1

 

 

MATARAM O MEU SÓCIO…

Autor: Abílio

 

Naquele dia, como habitualmente acontece às sextas-feiras, o meu amigo Inspector Bernardo foi pontual, como sempre. Notei, no entanto, que vinha um pouco apressado, e, de facto, convidou-me de imediato a acompanhá-lo até à zona do Areeiro, pois tinha recebido um telefonema que dava conta do assassinato de um sócio da firma “Serpex, Lda”, o sr. Sérgio Pereira, ali mesmo nos escritórios da sede.

Chegados ao local, estacionou o carro e esfregou as mãos procurou aquecer-se pois estava muito fria a noite de 22 de Janeiro de 1993. Verificou o endereço, era ali mesmo. Tratava-se de um edifício cor-de-rosa, térreo, mas bem situado sem dúvida, pois os preços do imobiliário nesta zona de Lisboa estão pela hora da morte.

Nas instalações já se encontrava todo o “staff” dos serviços policiais, bem como alguns funcionários e outro sócio da empresa – Almiro Neves, o qual havia chegado há poucos minutos do Funchal.

Sr. Inspector, vim do Aeroporto, directamente para aqui. Fui eu que fiz o telefonema.

Conte lá, como é que tudo se passou – inquiriu o Inspector Bernardo.

Eu tinha-me ausentado por uns dias para a Madeira, a fim de concluir um negócio muito vantajoso para a nossa firma. Está relacionado com a Zona Franca, sabe. Hoje de manhã concluí o negócio e marquei logo o voo para Lisboa, para a tarde, a fim de poder passar o fim-de-semana já em casa. Quando já tinha tudo pronto para ir para o Aeroporto de Santa Cruz e estava à espera do táxi, lembrei-me de telefonar para o meu sócio para lhe dar as boas notícias, pois de manhã, quando telefonei para Lisboa, não tinha conseguido falar com ele.

«Acontece que, enquanto eu falava com ele ao telefone, ouvi do outro lado da linha um som forte, semelhante a um tiro, e não mais ouvi a voz do meu sócio. Telefonei logo de seguida para os outros números da firma, mas ninguém atendeu. Foi então que procurei logo contactar os senhores, e o resto já sabe.

Que horas pensa que eram quando ouviu o tiro? – perguntou Bernardo.

Lembro-me de ter visto o relógio da recepção do hotel, pouco passava das 19 horas. Bernardo, olhou para as anotações que havia trazido e verificou que a chamada a comunicar o crime, havia sido recebida às 19.08 horas.

Quantas pessoas trabalham aqui no escritório? – perguntou Bernardo.

Bom, temos 6 empregados e a secretária particular do meu sócio, a D. Zulmira Alves, que normalmente é a última a sair das instalações, antes de nós, claro – respondeu Neves.

O inspector solicitou a presença desta senhora e a mesma declarou:

Sim, como de costume, fui a última a sair e garanto-lhe sr. inspector que o sr. Sérgio Pereira estava bem vivo. Isto é uma tragédia… Ele era um homem bom, tinha um feitio próprio… mas, no fundo era um homem bom… Não senhor, não notei nada de anormal, nem vi ninguém quando saí.

A que horas saiu das instalações? – inquiriu Bernardo.

Penso que passava pouco das 19 horas, pois não me lembro de ter consultado o relógio, mas apanhei o autocarro do costume, e normalmente saio sempre a essa hora (…) Sim, hoje de manhã recebi um telefonema do Funchal, do sr. Neves, a comunicar que regressaria hoje à tarde. Quando o sr. Pereira chegou ao escritório, por volta do meio-dia, comuniquei-lhe isso mesmo… O último a sair antes de mim foi o Ambrósio.

Bernardo mandou também chamar esse funcionário e o mesmo declarou:

Com um génio destes, o que é que o senhor queria, estava-se mesmo a ver que qualquer dia acontecia uma coisa destas… não me diga que pensa que fui eu… não sou homem para essas coisas. Sim, é verdade que fui eu a sair antes da D. Zulmira, e depois? O senhor já reparou que as janelas são baixas, e olhe o homem tinha sempre as janelas abertas, ele não gostava do ar condicionado.

O inspector Bernardo deu uma volta pelas instalações, enquanto o corpo da vítima era retirado do local do crime. O telefone ainda lá estava fora do descanso. Tomou algumas anotações no bloco de notas e pensou que já nada mais fazia ali, pelo que me dirigiu um gesto convidando-me a segui-lo.

Mais tarde, já nas suas instalações releu os apontamentos que havia tomado enquanto recebia o relatório preliminar do médico legista que apontava a hora provável da morte entre as 18.50 e as 19.10 horas. A bala havia penetrado pelas costas da vítima, o que significa que provavelmente o tiro tinha sido disparado de fora da janela que se encontrava aberta.

Pegou num lápis, como sempre fazia quando pensava, num gesto que eu já me habituara a ver desde os nossos tempos de colegas da Faculdade.

Que te parece? – perguntou-me.

Não consigo ver nada de relevante, parece que tudo se encaixa – respondi. – Mas já sabes que eu embora seja um entusiasta do policiário não tenho grande jeito para decifrador.

Fez-se silêncio durante uns momentos, e pouco depois verifiquei que a expressão do rosto do Bernardo se transformara quase subitamente ao reler o seu bloco de notas.

Pois é!... – exclamou.

 

Nesta altura também o leitor já reunir os seus apontamentos e vai-me dizer quem foi o assassino:

 

A    O empregado Ambrósio

B    A secretária Zulmira Alves

C    O sócio Almiro Neves

D    Alguém que não gostava do Sérgio Pereira, aproveitando a janela aberta, depois de deixar sair todo o pessoal do escritório, assassinou-o.

 

{ publicado na secção “Policiário” do jornal “Público” de 6 de Junho de 1993 }

 

SOLUÇÃO

 

 

© DANIEL FALCÃO, 2005