|
CLUBE DE DETECTIVES |
TORNEIO RÁPIDAS
POLICIÁRIAS 1993 Prova nº 4
– Problema nº 1 |
||
|
O INSPECTOR FIDALGO AO LUAR DO VERÃO… Autor:
Insp. Fidalgo
O
Inspector Fidalgo nem queria acreditar no que lhe acontecera. Na verdade nem
parecia possível que, numa noite tal bela e quente como aquela, com um luar
tão perfeito, com a lua a mostrar toda a sua plenitude, redonda e brilhante,
um qualquer topo, certamente com algum problema, viesse ter com ele, daquela
maneira, a gritar que tinha visto um lobisomem e outras coisas igualmente
incríveis. O
inspector olhou o homem com um misto de interesse e compaixão, logo se
arrependendo deste último sentimento. Na verdade, o homem parecia estar
convicto de que tudo acontecera como estava a contar… “Mas
é verdade, inspector, foi hoje mesmo… Julga que sou algum lunático, não é
verdade? Pois não sou… Hoje mesmo, dia 5 de Junho deste ano de 1993, com esta
Lua Cheia que pode ver, que o lobisomem apareceu… Eu mesmo o vi!” “Enganou-se,
certamente… Deve ter imaginado”, retorquiu o inspector. “Não,
não e não! Eu vi-o. Eram mais ou menos 21h30 e a escuridão invadia já os
caminhos ermos por onde tenho de passar, para chegar à minha casa. Foi ali
mesmo, naquele sítio, escuro como breu, como pode ver, só iluminado pela luz
da Lua. Como pode ver, quando a lua se mostra, ainda se vê alguma coisa, mas
quando as nuvens a tapam…” “E
o que é que aconteceu?” “Ora,
aquelas nuvens escuras encobriram a Lua e ficou tudo escuro. Foi então que me
atacou… Só tive tempo de me esquivar, julgando que era algum cão, ou coisa
assim, mas logo a seguiu a Lua descobriu a sua face redonda e pude ver
claramente que era um homem com o corpo coberto de pêlos, com feições de
lobo, horrível… Desatei a fugir e tive a sorte de estarem a chegar outras
pessoas, que espantaram o animal, ou homem, ou lá o que ele é…” “Mas
ele chegou a fazer-lhe algum mal?”, insistiu o Inspector Fidalgo. “Não,
tive muita sorte!”, respondeu o homem. Nenhum
dos indivíduos que ele apresentou como tendo chegado a tempo de o safar viu
fosse o que fosse e tudo o que sabiam era pelo que o “nosso” homem contara. O
Inspector Fidalgo sabia que não podia ser um lobisomem o que ele vira, mas
queria aprofundar se o homem estaria a mentir ou se estaria de boa-fé,
enganado por um qualquer fenómeno… E
pensou… Poder-se-iam
pôr as seguintes hipóteses: A – O homem mentiu premeditadamente, inventando
uma história que nunca poderia ter-se passado como ele conta. B – O homem mentiu sem querer, confundido por
ter visto alguma coisa que alguém, para lhe meter medo, forjou. C – O homem não mentiu, antes viu e sentiu tudo
como indicou, embora não fosse, como é óbvio, um lobisomem. D – O homem não mentiu e nada impede que não
haja mesmo lobisomens e que tudo seja, rigorosamente, como descreveu. { publicado na secção “Policiário” do jornal “Público” de 4 de Julho de 1993 } |
|
||
© DANIEL FALCÃO, 2005 |
||||