CLUBE  DE  DETECTIVES

 

I TORNEIO “O LIDADOR… das CINZENTAS”

Prova nº 2

 

 

Solução de:

 

UM DIA DE FÉRIAS ESTRAGADO

Autor: Zé - Viseu

 

A conclusão que transmiti aos meus amigos polícias que investigavam o caso foi a que me pareceu mais lógica, com os elementos de que dispunha, no momento:

Não tendo entrado ninguém na vivenda, por não haver qualquer vestígio estranho, dentro ou fora do cenário do crime (os existentes, perfeitamente identificados – correspondem às personagens que falam, no texto, não habitantes da casa – foram feitos muitas horas depois da morte), esse crime só poderia ter sido cometido por um dos sobrinhos, com a motivação, óbvia, de acelerar a herança.

E o criminoso foi o Carlos, que, por as coisas não lhe terem saído como queria e pensara, acabou por atingir os seus objectivos – acelerar a herança, mas para o João (se se confirmar o testamento)!

Pensei que só um canhoto poderia colocar o peso no corpo na mão esquerda e, golpeando o tronco do tio, com uma lâmina pequena, ter contactado com a parte superior direita da vítima e, com a força e direcção do movimento, ter partido o termómetro que o tio tinha colocado sob o braço direito. Um dextro, golpeando da direita, em trajectória inclinada, teria tocado no ombro esquerdo e continuado a golpear para a esquerda, sem chegar ao ombro direito (onde não há golpes). E o Carlos era canhoto, como mostrou, ao escrever o número de telefone (o João pegou no cinzeiro, com a mão direita).

Ao partir o termómetro, cortou-se, ligeiramente, na mão (o que justifica ter posto o penso, na mão esquerda, para disfarçar o corte). E, mais grave do que isso, colocou a sua aliança de ouro (a noiva seria dextra e colocou-lha na mão, para ela, normal) em contacto com as bolinhas de mercúrio que se soltaram (correu-lhe tudo mal). Como sabemos, o mercúrio actua sobre o ouro (não é por acaso que muitos rios brasileiros estão poluidíssimos com mercúrio, pois os garimpeiros usam-no, para “aglutinar” as partículas de ouro, impedindo-as de escapar às peneiras que utilizam nos areais dos rios que atravessas jazidas auríferas). Por isso, ele tirou a aliança, que o denunciaria.

As coisas ter-se-ão passado assim:

Pouco depois de entrarem no quarto, Carlos, ao ver que o tio colocava o termómetro (ele sabia que, frequentemente, isso acontecia), pretexta uma ida à casa de banho (tinha-me falado dos seus problemas intestinais). Pega, com a toalha, em três copos de água (que, previamente, havia para lá levado, sem lhes tocar com as mãos - usou luvas?), coloca-os sobre os pires e enche-os de água. Porém, coloca, dentro de cada um dos copos, um poderosíssimo sonífero. Pega nos pires e, num gesto de grande “amabilidade”, oferece-os ao tio e primo, que bebem, avidamente. Vai buscar o seu, que coloca ao lado do sofá que utiliza. Passados 2/3 minutos, os alvos adormecem, profundamente. Carlos ataca o tio com uma pequena navalha (de ponta e mola?), o que justifica a necessidade do elevado número de golpes (apesar de o tio estar magríssimo e a lâmina atingir, facilmente, um canal sanguíneo/órgão vital, decidiu jogar pelo seguro).

Na casa de banho, lava-se de eventuais esguichos de sangue, muito bem, para não sujar a toalha. Repara no pequeno corte e coloca o penso. Vê que a aliança foi atacada pelo mercúrio e lança-a na sanita, assim como a navalhinha e o invólucro das drogas. Puxa o autoclismo, empurrando tudo.

Traz a toalha para a sala e pega, com ela, no rebordo dos copos, retirando os pires (não mexe no seu). Lava os pires, seca-os e volta a colocá-los sob os copos, segurando o copo com uma das mãos na ponta da toalha e o pires com a outra, na extremidade oposta. Coloca a toalha no sítio próprio.

Fecha a porta, por dentro (as janelas estavam fechadas, devido à chuva), bebe a sua água e adormece, também.

Fácil, como vêem. Difícil terá sido procurar as ”provas”, no fim da sanita e nas caixas de visita, dos esgotos. Mas, como não estava lá para ver (nem cheirar!).

Ah, já me esquecia – as perícias confirmaram tudo!

 

{ publicado no boletim “O LIDADOR… das CINZENTAS” nº 13 de Março de 2005 }

 

 

© DANIEL FALCÃO, 2005