DESAFIOS

POLICIÁRIOS

QUER SER DETECTIVE?...

 

 

 

MORTE NA BANHEIRA

Autor: Inspector Boavida

 

O subchefe Pinguinhas estava furibundo. Nunca um dia da sua já cinquentenária vida tinha começado tão mal. O despertador não tocou de manhã, as torneiras da sua casa na Charneca da Caparica não brotavam uma gota de água, o automóvel só pegou de empurrão e ao chegar ao gabinete de trabalho deparou com mais três novos processos em cima da sua secretária, onde já existia uma imensa pilha de “casos” pendentes.

Quando estava a tratar, de uma forma apressada e improvisada, da sua higiene pessoal na casa de banho do posto onde presta serviço, em Lisboa, o superintendente Pezinhos chamou-o com urgência ao seu gabinete. De cara mal lavada e ainda com restos de gel de barbear no canto da orelha direita, o subchefe Pinguinhas perfilou-se em frente ao seu superior e nem queria acreditar no que os seus ouvidos escutavam: o engenheiro Barbosa Ramos, que vivia ali a pouco menos de cem metros, estava há mais de duas horas enfiado no seu quarto de banho e não respondia ao chamamento da criada.

Destacado pelo seu superior hierárquico, o subchefe Pinguinhas dirigiu-se a casa do engenheiro para se inteirar do sucedido. Ao chegar ao local, identificou-se à criada e dirigiu-se de imediato ao quarto de banho. A porta estava fechada, mas como se tratava de uma fechadura vulgar, o subchefe utilizou uma das muitas chaves que trazia sempre consigo e conseguiu abri-la com a maior facilidade. Lá dentro deparou com um cenário pouco agradável. Entre os vapores da água, jazia Barbosa Ramos. A sua cabeça estava tombada sobre o peito. E, na nuca, tinha uma brecha enorme. Pinguinhas voltou-se para a criada e “disparou” a pergunta inevitável: O que se passou aqui?

«Após mais uma violentíssima discussão, motivada por ciúmes doentios, com a mulher e com o irmão, o sr. engenheiro fechou-se no quarto de banho para o seu habitual banho de imersão, que eu lhe preparo todas as manhãs, passava muito pouco das nove horas. Voltei para a cozinha e cerca de dez minutos depois ouvi sair o irmão, furioso, batendo com a porta da rua. A senhora saiu por volta das dez horas, como é costume, para a sua aula de musculação diária no ginásio que fica perto do Saldanha!»

Enquanto o subchefe Pinguinhas olhava disfarçadamente para o corpo roliço e apetecível da criada, esta prosseguia o seu depoimento: «Eram quase onze horas e o sr. engenheiro continuava no quarto de banho. Estranhei e resolvi bater à porta, mas não obtive resposta. Ainda procurei ver alguma coisa pelo buraco da fechadura, mas a chave, do lado de dentro, impediu que eu visse fosse o que fosse. Foi então que decidi telefonar para a polícia e depois para o irmão do sr. engenheiro e para a mulher, que devem estar por aí a chegar.»

Naquele preciso momento irromperam pela porta da casa o irmão e a mulher da vítima, que foram de imediato postos ao corrente da ocorrência e objecto de interrogatório sumário, em separado. O irmão de Barbosa Ramos confessou que naquela manhã tinha tido uma discussão acalorada com o engenheiro, situação que era recorrente há um mês a esta parte, e que saiu furioso porta fora quando ele foi tomar banho. A mulher do engenheiro Barbosa Ramos foi dizendo, entre soluços e lágrimas, que amava muito o seu marido e que será incapaz de suportar o desgosto de o perder, apesar de nos últimos tempos a relação entre eles ter esfriado um pouco devido a ciúmes infundados do seu esposo.

O subchefe Pinguinhas voltou ao quarto de banho do engenheiro, mirou de novo o cadáver, olhou enternecido para a viúva, esboçou um sorriso triste para o cunhado desta e deitou um olhar malicioso para as pernas da criada. Depois, regressou à sala de estar, pegou no telefone, ligou para O LIDADOR… das CINZENTAS e perguntou aos seus leitores: «Como morreu o dono da casa?»

A – O engenheiro deu uma queda na banheira.

B – O irmão perdeu a cabeça e matou-o.

C – A mulher decidiu eliminá-lo para ficar a viver com o cunhado.

D – A criada desfez-lhe a nuca por qualquer razão desconhecida.

 

{ publicado no boletim “O LIDADOR… das CINZENTAS” nº 24 de Abril de 2006 }

 

Desafios policiários de INSPECTOR BOAVIDA

 

 

© DANIEL FALCÃO, 2006