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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 32 EFEMÉRIDES – Dia 1 de Fevereiro Ribeiro de
Carvalho (1952) – Data do nascimento em Torres Novas do policiarista Eduardo
Filipe Ferreira Bento. Solucionista e produtor, que conquistaria um amplo
horizonte. Contista de enormes qualidades é lembrado pelo seu anonimato
voluntário. Em sede própria voltaremos a lembrar o autor. H. C. Bailey (1878-1961) – Data do nascimento
de Henry Christopher Bailey em Londres. É repórter do Daily Telegraph entre 1901 e 1946 e começa a escrever literatura
histórica. Publica o primeiro romance policiário em 1930, Garstons (ou The Garston Murder Case), onde cria o personagem Joshua Clunk,
também herói de The Red Castle
(1931), um malandro e hipócrita, uma espécie de detective que chega a
disfarçar-se de beata para atingir os seus fins. No entanto Reggie Fortune é
o primeiro personagem que aparece no conto Call Mr Fortune (1920) e que dá origem a uma série e entra no
romance Shadow on the Wall (1934) e
continua em outros, alternando com Clunk. Reginald Fortune ou Reggie é baixo,
gorducho louro e de olhos azuis, parece uma criança, mas é astuto e é o
favorito do público, chegando a aparecer em dois volumes de contos por ano
durante duas décadas. Matthew Head (1907-1985) – Nasce John Edwin Canaday em Fort
Scott, Kansas-EUA. Frequenta a universidade do Texas e serve no Marine Corps durante a 2ª Guerra. É
professor universitário de História de Arte e publica vários livros sobre
temas de arte sob o nome de John Canaday. Escreve o seu primeiro romance
policiário The Smell of Money em
1943. Em 1945 com apresenta um personagem fixo, a Drª Mary Finney, que volta
a aparecer numa série de romances. A acção de muitos dos livros de Matthew
Head decorre em África em Brazaville, no Congo. Bibliografia: The
Smell of Money (1943), The
Accomplice (1947) e Another Man's
Life (1953); na série Drª. Mary Finney: The Devil in the Bush (1945), The
Cabinda Affair (1949), The Congo
Venus (1950) e Murder at the Flea
Club (1955). Leonard Gribble (1908-1985) – Leonard Reginald Gribble nasce em
Londres. Usa os pseudónimos de Bruce Sanders, Dexter Muir, James Gannett,
Landon Grant, Lee Denver, Leo Grex, Louis Grey, Piers Marlowe e Sterry
Browning. Pertence ao Press and Censorship
Division do Ministério da Informação em Londres entre 1940 e 1945.
Escritor imaginativo e prolífero escreve muitos policiários, mais de uma
centena de romances e múltiplos contos curtos, espalhados pelas revistas da
especialidade. Inicia-se em 1929 com The
Case of the Marsden Rubies, o primeiro da série Anthony Slade e
Departmento X2. Com o pseudónimo Leo Grex começa uma nova série com os
protagonistas Paul Irving and Phil Sanderson: The Tragedy at Draythorpe Hutchinson (1931) e The Nightborn (1931). Leonard
Gribble é um dos membros fundadores da Crime
Writers Association em 1953. Colin Watson (1920-1983) – Nasce em Croydon,
Surrey – Inglaterra. Escritor e jornalista, publica o primeiro romance em
1958. Cria vários personagens: Inspector Walter Purbright and Lucilla
Teatime. É famoso pela série Flaxborough,
um total de 13 títulos, alguns dos quais adaptados pela BBC, na série
televisiva Murder Most English. Bibliografia: Coffin,
Scarcely Used (1958), Bump in the
Night (1960), Hopjoy Was Here (1962),
Lonelyheart 4122 (1967), Charity Ends at Home (1968), Flaxborough Chronicle (1969), The Flaxborough Crab (1969) também
editado com o título Just What the
Doctor Ordered, Broomsticks over
Flaxborough (1972) também editado com o título Kissing Covens, The Naked
Nuns (1975) também editado com o título Six Nuns and a Shotgun, One
Man's Meat (1977) também editado com o título It Shouldn't Happen to a Dog, Blue
Murder (1979), Plaster Sinners
(1980), Whatever's Been Going on at
Mumblesby? (1982). CONTO – O MUNDO É UMA ESPERANÇA Dissemos no início que Ribeiro de Carvalho era um
contista de enormes qualidades, agora podemos acrescentar que nas várias
categorias, porque o conto que transcrevemos, da sua autoria, é um conto de
ficção científica de 1993 publicado na revista Célula Cinzenta, ainda que
extenso é um bem a não perder. Pese embora
todos os esforços e verbas que governos e instituições privadas dedicaram à
investigação, é certo que o vírus continuava a fazer vítimas a um ritmo
alarmante. Dos laboratórios saíam regularmente vacinas, remédios, xaropes e
outros tratamentos para combater o mal. Mas o vírus ia resistindo,
modificava-se, criava novas formas e quando os cientistas esgotaram o
alfabeto a baptizar as suas várias manifestações, passaram a utilizar nomes
latinos tão do agrado da comunidade. Bruxos, gurus,
mães-santas, ervanários, hipnotizadores, iam fazendo fortunas com a cura do
mal, mas o vírus continuava a alastrar. Alguns hospitais sentiam-se já
impotentes para dar guarida e tratamento a todos os doentes que lhes
apareciam e um sentimento de medo ia-se apossando progressivamente de todos
os povos. Os governos apelavam à calma, aconselhavam o uso de preservativos,
faziam grandes campanhas nos meios de comunicação. Mas nada resultava. A primeira
tentativa séria de pôr ordem na Sociedade, veio da Igreja Católica. O Papa
publicou uma encíclica em que excomungava todos aqueles que tivessem relações
sexuais extra-conjugais ou com pessoas do mesmo sexo. Era contra as leis de
Deus e da natureza, dizia, e quem não cumprisse estas directivas arderia
eternamente no Inferno. Do alto dos púlpitos, os padres ameaçavam os indignos
com as penas mais pesadas que se pudessem imaginar e apelavam para que os
verdadeiros católicos se lançassem numa nova Cruzada contra todos os
seguidores de Satã. Começaram a surgir distúrbios nas casas nocturnas,
incêndios, destruições, apedrejamentos. As prostitutas e homossexuais eram
ferozmente perseguidos e a mais antiga profissão do mundo estava em vias de
extinção. Seitas
político-religiosas, ultra-conservadoras, formaram-se rapidamente e
espalharam-se por todo o mundo. Em Itália, os Filhos da Virtude, que
preconizavam a abolição de todo o tipo de relações sexuais e a supressão dos
toxicodependentes, ganharam as eleições nacionais com 53% dos votos. Na
Índia, os Guerreiros da Inocência sofreram 60.000 baixas durante uma
manifestação reprimida pelo governo. Durante os dois primeiros anos após o
aparecimento da Encíclica, 27 partidos de cariz nitidamente racista assumiram
o governo dos seus países, em eleições livres e democráticas. O principal
objectivo destes partidos tornou-se a eliminação de todas as formas de
exploração e desejo sexual. Grandes estádios passaram a servir de campos de
concentração onde prostitutas, homossexuais, artistas pomo, livreiros pouco
escrupulosos, pintores de nus, se amontoavam até as autoridades definirem o
seu destino que, normalmente, acabava em valas pouco fundas. Bibliotecas foram
obrigadas a fechar. Estações de televisão proibidas de passarem qualquer
programa que contivesse, explícita ou implicitamente, referência a sexo ou
drogas. A maioria acabou por encerrar. Foi generalizado o uso obrigatório de
véus e saias para as mulheres e túnicas para os homens. Naturalmente, a
investigação sobre o vírus, sofreu fortes retrocessos até que estabilizou num
nível mínimo. Movimentos de
resistência apareciam e desapareciam mas, embora com grandes perdas, iam
consolidando e profissionalizando as suas acções. Os principais alvos que, no
princípio, tinham sido os Santuários da Moral, depressa passaram a ser as
figuras político-religiosas. De entre todos, sobressaiu o movimento conhecido
da Esperança que, nascendo em França, se espalharam rapidamente por toda a
Europa e depois pelo resto do mundo, tornando-se um verdadeiro exército
internacional. As medidas
tomadas pelos vários governos, porém, eram ainda insuficientes. O vírus
continuava a espalhar-se e a aterrorizar as populações. As percas sofridas
pelo C.P.S., Confederação dos Povos do Senhor, formada por todos os países
Defensores da Virtude, corresponderam a 10% do total da população, nos
primeiros quinze anos da Confederação; esta percentagem era nitidamente
inferior às dos restantes países onde, durante o mesmo período, a percentagem
de mortos em virtude do vírus foi de 27%. A apresentação destes números,
acompanhada por uma campanha de propaganda devidamente elaborada, levou à
tomada de poder pelos partidos irmãos da C.P.S. com o apoio de parte
significativa da população. As várias
agências e organizações humanitárias que tiveram a sua missão dificultadas,
foram dissolvidas. Os membros da Organização Mundial de Saúde, da Cruz
Vermelha, do Crescente Vermelho e de todas as outras, foram perseguidos e
presos, considerando-se que todos se tinham mostrado incapazes e Inimigos da
Fé. O edifício da ONU, em Nova Iorque, foi implodido dando assim origem ao
fim do Mundo Velho e ao nascimento da Nova Ordem. Mas ninguém
conseguia eliminar o vírus e embora os Guerrilheiros da Esperança sofressem
baixas altíssimas, as suas forças eram, ainda que lentamente ao princípio,
rapidamente substituídas por elementos da população. Calcula-se que em 25
anos as suas baixas, motivadas pelo vírus, foram da ordem dos 47%. Apesar disso,
as suas acções tornavam-se cada vez mais significativas. Assaltos a depósitos
de armamento, destruições de templos, libertação de crianças dos Orfanatos de
Deus, libertação de áreas geográficas e organização das populações. Nesta
altura, a estratégia definida pelo Alto Comando dos GEs passava pela
consolidação do movimento em áreas significativas. Lembre-se, no entanto, que
um dos feitos mais espectaculares durante esse período, foi o assalto ao estádio
do Maracanã, de onde libertaram 40.000 prisioneiros. O aparecimento
dos Territórios Livres agravou os problemas internos dentro da CPS. Com uma
população a reduzir-se significativamente, em virtude das mortes causadas
pelo vírus e, principalmente, por deserção, a CPS viu-se subitamente com
grandes cidades abandonadas, vias de comunicação destruídas, fábricas
fechadas, insurreições armadas. Culpando os Adoradores do Vírus pelo estado
caótico da economia, o Comando Militar dos Anjos decidiu bombardear os
territórios livres com armas químicas, de neutrões, de protões, com tudo o
que ainda havia nos seus arsenais e estava operacional. Quando ELES
chegaram, verificaram que tinha havido um pequeno erro de cálculo. O
computador da nave informava ainda 27.324 humanos em todo o planeta. Não se
importaram. Tinham passado duzentos anos desde que inocularam o vírus nos
duzentos humanos. Podiam esperar outro tanto. M. Constantino In Policiário de
Bolso,
1 de Fevereiro de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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