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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 31 EFEMÉRIDES
– Dia 31 de Janeiro C.W. Grafton (1909-1982) – Data do
falecimento de Cornelius Warren ("Chip") Grafton. Nasce na China,
filho de pais missionários americanos. Estuda jornalismo e estudos jurídicos.
Em 1943 publica o primeiro livro The
Rat Began to Gnaw the Rope, com o qual obtém o Mary Roberts Rinehart
Award, para o melhor romance do ano. Em 1944 publica The Rope Began
To Hang The Butcher e em 1950 Beyond
A Reasonable Doubt. Os dois primeiros livros têm como
narrador/protagonista o detective/jurista Gilmore Henry. Grafton deixou um
manuscrito para um terceiro romance da série Gil Henry The Butcher Began to Kill the Ox que nunca chegou a ser editado.
Os títulos desta série correspondem a uma lengalenga infantil. UM TEMA – A NARRATIVA DE ESPIONAGEM Lado a lado ou
constituindo apenas um dos ramos da grande árvore do género policiário (tanto
se confundem), a narrativa de espionagem tem um decurso paralelo e
inter-relacionado com o uso do espião. Curiosamente, ou não, talvez na
fatalidade do livro mais distinguido no mundo, onde nada parece faltar, é na
Bíblia que vamos encontrar a primeira referência à espionagem. Moisés,
conduzindo os hebreus após o êxodo do Egipto, não encontra mais do que
inóspitos desertos para acolher o seu povo. Envia espiões às Terras de Canaã em
reconhecimento local. Os fins justificam os meios… aliás, não será a
espionagem um acto tão antigo como a existência humana? Eva espiava Adão para
encontrar o ponto vulnerável, o homem primitivo espiava para atacar o lado
mais débil da caça ou de outros homens. Cipião
(236-183 a.C.) mandou espiar Aníbal para forjar a estratégia de vitória.
Ramsés II (séc. XIII a.C.) usou da inteligência e arte da espionagem para
vencer os hititas, Alexandre Magno, Ciro, Júlio César Augusto seguiram o
exemplo. Mitrídates, Teodorico, os cruzados da Idade Média, reis e vassalos
dos estados modernos e contemporâneos mantiveram e mantêm hordas de espiões,
a pouco e pouco preparados, criaram serviços organizados de espionagem e
contra-espionagem. Hoje, utilizando a experiência adquirida e os meios
adequados. Grandes e prósperas organizações: CIA, Deuxième Bureau, KGB ou
NKWD, Intelligence Service, OSS, Sûreté, FBI, NSA, M-16 etc. etc… a
verdadeira expressão para definir a espionagem actual, é que se trata de um
verdadeiro iceberg, uma enorme montanha de gelo cuja parte visível sobre a
água parece inocentemente inútil, mas a grande massa dura e perigosa
permanece invisível. É deste fenómeno que a narrativa de espionagem se
alimenta. O primeiro
romance deste ramo cabe a James Fenimore Cooper, nascido em 1789 (EUA), que
publica em 1821 O Espião, uma
abordagem patriótica às andanças de um mensageiro do general Washington. Rudyard
Kipling leva a espionagem à Índia com Kimba
(1901), Doyle põe Sherlock Holmes a resolver O Caso Naval (1889), mas descritivamente, com maior acerto, só
Joseph Conrad com O Agente Secreto
(1906) nos dá uma verdadeira dimensão narrativa do tema. Em termos latos –
este texto é uma abertura ao tema – passando por dezenas de autores que
mereceriam citação, até ao maior êxito comercial, que representa o incrível
James Bond, até ao frio Mr Smiley de John Le Carré, vai um mundo
extraordinário de literatura de espionagem CONTO – O PLANO SECRETO O conto apresentado, de um autor desconhecido Tex
Ritter, foi publicado em 1946 ou 1947. Serve para divulgação do tema, que
também têm cultores portugueses que serão futuramente referenciados. Um ponto
luminoso surgiu subitamente na tela do radar, momentos depois o uivo das
sirenes cortou o ar da Base Digger. A incursão dos bombardeiros japoneses
intensificara-se nos últimos dias, mas a floresta camuflava inteiramente a
acumulação de munições que durava há meses, tendo em vista a projectada
ofensiva geral. Mesmo assim os japoneses sobrevoavam o acampamento,
demonstrando que se mantinham alerta. Pouco depois o
uivo das sirenes morreu e deu lugar ao sinal de tido bem. O avião foi
identificado como americano e regressava à base após um voo de
reconhecimento. No radar o ponto luminoso aumentou sobre o mar azul do
Pacífico e o avião aterrou. O piloto permaneceu a bordo enquanto o técnico
entregava um envelope endereçado ao Departamento de Observações e continha
filmes tirados ao longo da frente, situada 65 quilómetros a norte. O avião
manobrou para entrar no hangar, enquanto o filme revelado era examinado… O
tenente-coronel Wertenbaker olhou a tela onde se projectava uma imagem
ampliada e franziu a testa intrigado. Sabia que o inimigo era feroz e dele
tudo havia a esperar. Apanhou uma vara e apontou um ponto da projecção. – O que é
isto? Perguntou. O major Herb,
que olhava para o outro ponto da projecção, voltou a atenção para o ponto
assinalado. – Sim esse
ponto não se encontrava aí a semana passada. Herb retirou
um filme do arquivo e colocou-o no projector, procurando o reflexo da água agora
detectado; não existia. – Eu já sabia.
– Grunhiu Wertenbaker – Uma vez que
é um génio, diga-me o que significa esse reflexo na água – disse Herb
Berkker. O coronel
estudou o filme, substitui-o pelo outro e respondeu: – Isto pode
ser obra da chuva, tem chovido bastante… – É engraçado,
recebi um relatório de manhã que comunica que as nossas provisões de água têm
diminuído bastante, apesar da chuva. Atalhou Herb. Wertenbaker
sacudiu a cabeça: – Pode ser um
detalhe sem importância, aliás temos assuntos mais importantes a tratar, mais
tarde voltaremos ao filme. – Quem sabe se
Joe Fannel do Serviço de Inteligência, não poderia tratar do assunto
considerou Herb. – Está certo,
remeta-lhe tudo para que o estude. Uma pequena aeronave
voltou ao local e três horas mais tarde o tenente Joe Fannel recebia novos
filmes que estudou em detalhe e conferenciou com o seu capitão. Segundo ele,
o ponto do manancial de água coincidia com o local em que seria desencadeada
a ofensiva geral. Para Fannel era um achado importante, vital mesmo para a
ofensiva já marcada. Pediu um avião para o levar até ao local assinalado no
mapa e algum material. Tencionava esconder-se na floresta e iria ao encontro
das tropas leais, na ofensiva, acrescentando: – Os japoneses
encaram esta guerra seriamente e eu também. Eles sabem que preparamos uma
ofensiva e também onde vai começar! Quando
anoiteceu um avião conduziu Fannel próximo das linhas inimigas e a cerca de
1200 metros de altura, lançou-se em pára-quedas, com uma pesada mochila sobre
os ombros. A ofensiva
teve lugar dez dias decorridos, a cerca de 6,5 quilómetros da represa de
água. Vindos da costa, os bombardeiros americanos atacavam a retaguarda das
posições inimigas. Ao sul da cadeia de montanhas defendidas pelos japoneses
encontrava-se o vale, o único ponto de acesso a estas defesas, e foi por ali
que a infantaria atacou. Enquanto os soldados avançavam, aviões, tanques
pesados, e morteiros estabeleciam uma barragem de fogo. Surgiu então da
floresta um homem roto e barbado que alegou ser o tenente do Serviço de
Inteligência das forças armadas americanas. Levado ao quartel-general, Joe
Fannel prestou continência e sentou-se cansado. Sorriu e disse: – Há dez dias
que estou aqui, major, para me desincumbir da missão que o senhor e o coronel
Wertenbaker me deram. A pequena represa encontra-se na foto, major. O senhor
e o coronel achavam que era uma lagoa formada pela água da chuva, mas eu
relacionei-a com a diminuição das correntes no sul, e estava certo. Os japoneses
construíram um dique de cimento armado. O seu plano era acumular água na
represa e quando as nossas tropas avançassem e alcançassem o vale,
dinamitavam a represa. – Quer dizer
se… – Isso. Seria,
se o plano fosse bem sucedido, mas há dois dias abri um buraco no dique e a
água escoou antes de os nossos homens chegarem. M. Constantino In Policiário de
Bolso,
31 de Janeiro de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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