|
|||||
(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 45 EFEMÉRIDES – Dia 14 de Fevereiro 1929 – Massacre do Dia de São Valentim A Lei Seca nos
EUA proíbe o fabrico, a venda e o transporte de bebidas alcoólicas. A cidade
de Chicago está repartida entre Al Capone e Bugs Moran, o primeiro chefia a Zona Sul – italiana e o
segundo lidera a Zona Norte – irlandesa. A cidade parece demasiado pequena
para dois gangs. Numa tarde do dia de São Valentim
no interior garagem de Chicago são encontrados sete corpos de homens, bem
vestidos, com sinais de terem sido alinhados contra a parede e sumariamente
executados. Algumas das vítimas são homens de Moran,
as testemunhas identificam veículos (falsos) da polícia no local, Al Capone está oportunamente de férias, longe de Chicago e
Bugs Moran escapa à cilada por causa de um
providencial atraso. É o início de um intricado processo de investigação, que
ficou conhecido como o Massacre de São Valentim, por ter acontecido no dia 14
de Fevereiro, e também o princípio da decadência de Moran
e da perseguição do governo a Al Capone. LITERATURA POLICIÁRIA E DIA DOS NAMORADOS A Judgement in Stone (1977) de Ruth Rendell No Dia dos
Namorados a governanta Eunice Parchman mata os
quatro membros da família que a emprega. O detective
superintendente-chefe William Vetch investiga para
descobrir evidências da tragédia pessoal que precipitou o crime. Este livro
está editado em Portugal com o título Sentença
em Pedra. The Saint Valentine's Day Murders (1984) de Ruth Dudley
Edwards Robert Amiss funcionário fica envolvido numa teia complexa de
mistério e assassínio quando tenta encontrar o responsável pelo envio de
chocolates envenenados no Dia dos Namorados Saint Valentine's Night (1989) de Andrew M.
Greeley O repórter Neal Connor mistura romance e
perigo quando regressa a Chicago, a sua cidade natal, e reencontra uma antiga
namorada, agora viúva do seu melhor amigo. Deadly Valentine by Carolyn G. Hart
(1991) Um baile
inocente no Dia dos Namorados em Broward's Rock
torna-se fatal. Annie Laurance
investiga o crime em que a sua própria sogra é a principal suspeita. Bleeding Hearts (1994) de
Jane Haddam Ex-agente do
FBI Gregor Demarkian
corre contra o tempo para prevenir um assassinato no Dia dos Namorados. Crimes of the Heart (1995) Uma colectânea de 14 contos tendo como tema a atracão fatal. Inclui Matchmaker de Sharyn McCrumb, Hard
Feelings de Barbara D'Amato e The
Rosewood Coffin, ou The Divine Sarah de P. M. Carlson. Valentine (1996) de Tom Savage Jillian Talbot, um escritor de suspense, vê o seu
quotidiano idílico em Greenwich Village
interrompido pela presença de um indivíduo obcecado que se torna mias
agressivo com o Dia dos Namorados. Love Lies Bleeding (1997) de Susan Wittig
Albert China Bayles espera um pedido de casamento no Dia dos
Namorados, em vez disso o seu noivo, Mike McQuaid,
é baleado. Claws and Effect (2001) de Rita Mae Brown Harry Haristeen e seu gato detective,
Mrs. Murphy, tem um desafio de Dia dos Namorados
relacionado com cartas ameaçadoras e o assassinato de um director
hospitalar. Love and Death (2001) Uma antologia de 14 mistérios do Dia dos Namorados.Contos originais do tipo A whodunit
ou Whodunnit de Dorothy Cannell, Caroyn Hart, Nancy Pickard, Gar Anthony Haywood, Peter
Robinson, Eve Sandstrom, Ed Gorman, Margaret Maron, Jean Hager, Robert J. Randisi,
M. D. Lake, Susan Dunlap, Marilyn Wallace e Kathy Hogan Trocheck. Crimes of Passion (2002) de Nancy Means
Wright e outros Quatro
histórias emocionantes de obsessão e desejo dos mestres do mistério. Inclui The Lovebirds
de B. J. Daniel onde o detective Tempest Bailey tem de resolver
o mistério que envolve o assassinato de Peggy Kane, uma amante que recebeu um presente do dia fatal dos
namorados. Outros contos de Maggie Price, Jonathan Harrington e Nancy Means
Wright. A Catered Valentine's Day (2007) de Isis Crawford No funeral da
mãe de um cliente, as irmãs Bernie e Libby, vêem-se perante um estranho mistério quando o
cadáver de Ted Gorman, o
proprietário da Just Chocolate, que supostamente morreu há
algumas semanas num violento acidente de carro, é encontrado na sepultura de
outra pessoa. Cat Playing Cupid (2009) de Shirley
Rousseau Murphy Quando um
casamento no Dia dos Namorados, é interrompido pela descoberta de um cadáver,
Joe Grey e seus companheiros relacionam o assassinato
com um caso antigo que envolvendo passado romântico pai da noiva. TEMA
– BREVE HISTÓRIA DA NARRATIVA POLICIÁRIA (2) IDADE MÉDIA, RENASCENÇA E DEPOIS… (Continuação
de Caleidoscópio 35) O raciocínio
ORAL e narrativo perde motivação com a Idade Média, não é sem razão que
também se apelida esta época de Idade das Trevas Na realidade
os crimes e delitos não eram considerados como tal, o assassínio inclusive,
resolvia-se no seio das famílias que gozavam de liberdade absoluta de agir ou
não e, em caso afirmativo, quase sempre, não pelo crime, mas pela vingança
daquele. A verdadeira repressão de crime apenas era usada quando relacionada
com o culto religioso. O Juiz supremo era o padre, sem apelo quanto ao
veredicto deste. As investigações eram substituídas pelo designado Juízo de
Deus. Uma prova a que os suspeitos se submetiam que, pela sua índole, só
poderia ser positiva. A terra, a
água e o fogo, no pensamento do homem da Idade Média, são os elementos de que
Deus se serve para apontar o culpado ou salvar o inocente. De mãos nuas o
acusado devia levar um ferro em brasa da pedra baptismal
ao altar-mor; caminhar descalço sobre ferros previamente aquecidos ao rubro -
era a prova de fogo. Mergulhar o
braço em água a ferver para extrair uma pedra colocada no fundo, era a prova
do caldeirão ou prova de água que, poderia igualmente consistir em atirar com
o suspeito para dentro da água amarrado de pés e mãos. Se voltasse à tona era
inocente, se mergulhasse era culpado… necessariamente existiam bem poucos
inocentes! O julgamento
pela cruz e pelo caixão eram novas formas de prova. No primeiro caso, os
queixosos deviam ficar de braços erguidos diante do crucifixo sem demarcação
de tempo, o primeiro que baixasse os braços era o culpado; no segundo, o
suspeito era levado perante o corpo da vítima e tocar-lhe, se esta começasse
a sangrar, era considerado culpado. O Juízo de
Deus pelo duelo aparece mais tarde, mas ainda no período da Idade Média e
havia de estender-se até ao Século XVIII. A propósito do
tema, ainda que tenha sido escrito para além da Idade designada, cabe
registar a narrativa de Heinrich Von Kleist, poeta,
dramaturgo e novelista alemão (1777-1811). No dia
designado pelo tribunal para a execução, no qual Friedrich e Littegard deviam morrer queimados na fogueira, o
moribundo conde conseguiu ser levado junto do Imperador e, reunindo as
últimas forças, gritou: – Alto! Antes de lançarem fogo deixem-me falar!
Quero declarar a inocência dos que vão ser queimados, são palavras de um
pecador arrependido que vai morrer. O Imperador levantou-se. – Que dizes? Então não ficou tudo esclarecido com
o Juízo de Deus? – Littegard é inocente!
– exclamou o enfermo. É claro que o Juízo de Deus é
infalível. Von Trotta
atingido três vezes com feridas mortais, cada uma por si só, recuperou… este
pecador que apenas foi atingido na pele, morre sem remédio. Quereis mais
claro onde está a mão de Deus? Littegard é
inocente, foi com a sua criada que me encontrei na noite escura, vestida com
os trajes da bela viúva. O Imperador ordenou que soltassem os
prisioneiros, mandou dar-lhes roupas novas e abraçou-os. Vota Trotta aproximou-se do moribundo e, sem rancor,
abraçou-o, enquanto Jacob Barbaroxa pronunciava as
suas últimas palavras: – Jamais poderei obter o perdão de Deus, nem dos
homens, pois sabei que sou o assassino de meu irmão o nobre Duque de Wilhelm Von Breysach…
a quem mandei matar… na noite… na noite… O cadáver
tomou o lugar dos ex-condenados e, em breve, o fogo purificava o corpo
imundo. Como se viu,
na ligeira amostra, o Juízo de Deus, em qualquer das suas formas, apresentava
riscos consideráveis, sobretudo numa época em que a ameaça das infecções era constante. Para a Igreja, só o espírito
impuro, ou seja o culpado, podia ter sangue impuro, enquanto a pureza de
sangue provava a pureza da consciência. Mais
modernamente, mas não menos feroz era o julgamento do pão, o acusado tinha de
engolir um pedaço de pão sobre o qual se havia lançado previamente uma
maldição; se o engolia sem dificuldade, estava salvo, se o pão não lhe
passava da garganta, era culpado. A este
respeito num dos capítulos de Decameron (1344 – 1366),
de Giovanni Boccaccio, escritor italiano (1313 –
1375), quando conta: … No Roubo do
porco de Calandrino por Bruno e Buffalmacco,
o julgamento pelo pão é-nos apresentado sob a forma de bolinhas de gengibre,
das quais duas haviam sido confeccionadas com aloés
hefático fresco e coberto de açúcar como as outras.
A operação era chamada "tiromanteia" e
preparava-se segundo determinados pedacinhos de pão e queijo, os quais eram
benzidos com especiais fórmulas pela Igreja e distribuída aos presumíveis
ladrões para os identificar, baseando-se a questão na convicção de que o
culpado não era capaz de engolir comida benta. Na História de Boccaccio
dá-se uma inversão às regras. É o dono do porco roubado, Calandrino,
que é submetido ao juízo pelos dois ladrões, Bruno e Buffalmacco,
sendo-lhe distribuídas as bolinhas confeccionadas
com aloés, que não consegue tragar, acabando por se convencer que roubou o
porco a si próprio… (Continua) M. Constantino In Policiário de
Bolso,
14 de Fevereiro de 2012
|
||||
© DANIEL FALCÃO |
|||||
|
|