|
|||||
(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 50 EFEMÉRIDES – Dia 19 de Fevereiro Yves Dermèze (1915-1989) –
Paul Bérato nasce em Tonneins,
Aquitânia, França. Escritor de policiário, aventura e ficção científica usa
vários pseudónimos, sendo os mais conhecidos Yves Dermèze,
Paul Béra. É galardoado em 1950 com o Prix du Roman
d'Aventures com Souvenance Pleurait.
Em 1977 recebe o Grand Prix
de l'Imaginaire atribuido
pelo conjunto da sua obra. Escreve no total perto de 40 livros. Para registo
eis os pseudónimos usados pelo escritor: André Gascogne,
Michel Avril e Paul Mystère,
este último como co-autor. E ainda Alain Janvier,
Francis Hope, François Richard, Jean Vier, John
Luck, Luigi Saetta, Martin Slang, Serge Marèges, Serge Valentin, Steve Evans, Téka
e outros… No campo policiário estão publicados em Portugal: 1 – Um Anel de Rubis (1951), nº 104 da Colecção Os Melhores Romances Policiais, Livraria
Clássica Editora. Título Original: Double Crime Sans Indices (1946) 2 – Souvenance Chorava (1951), Clássica Editora
1950. Título Original: Souvenance Pleurait Ross Thomas (1926-1995) – Ross Elmore Thomas nasce em Oklahoma City,
EUA. É jornalista, agente de relações públicas, guionista e especialista em
ficção político-criminal. Cria os personagens Mac McCorkle
e Mike Padillo. Inicia-se no romance policiário em
1966 com The Cold War Swap, obra que ganha
Edgar Award para o melhor primeiro romance no ano
seguinte. Para a série Mac McCorkle escreve quatro
títulos, para a série Arthur Case Wu, três, publica treze romances entre 1967
e 1994; sob o pseudónimo Oliver Leeck escreve cinco
livros de suspense e aventura, entre 1969 e 1976, protagonizados por Philip St. Yves, mais tarde adaptados ao cinema. Em 1982
Ross Thomas é convidado por Wim Wenders
para guionista do filme Hammett, onde acaba por desempenhar um pequeno papel. Ganha
o Edgar Award para o melhor romance, em 1985, com Briarpatch
(1984). Depois de trinta anos ao serviço da literatura policiária Ross Thomas
recebe a título póstumo, em 2002, The Gumshoe Lifetime Achievement Award pelo conjunto
da sua obra. A.D.G. (1947-2004) – Alain Fournier nasce
em Tours. Jornalista e escritor policiário assina as suas
obras com as iniciais do seu pseudónimo, Alain Dreux
Gallou. Cria um estilo próprio, muitas vezes
rotulado de neo-polar. A sua escrita é recheada de
gíria, trocadilhos e neologismos e os personagens das suas histórias são
verdadeiros anti heróis livres truculentos. O seu primeiro romance é La Divine Surprise (1971) e seguem-se mais de vinte livros na
mesma linha. CONTO
– QUARTO COM SOL Porque há que
descansar ao fim de semana, propomos um conto de Ficção Científica de Vasco
Fortes. Acordar de manhã. Raios de sol atravessam as
finas cortinas e incidiram sobre o soalho dando um novo tom ao quarto. Uma volta na
cama. O desejo de estar uns momentos mergulhado no sono comprometia o
acordar. Estava em sonhos. Não deviam ser maus pois queria manter-se mais um
pouco. Com um gemido
a consciência aos poucos tornava posse do seu corpo. As pernas mexeram-se,
algo incomodadas com a longa estada na mesma posição. Agora, eram os olhos
que saíam da penumbra característica dos sonhos. Notou a luz que lhe chegou
através das pálpebras numa tonalidade vermelha de sangue. Calmamente caiu na realidade
do tempo. Gradualmente tomou consciência. E, apesar dos olhos fechados
percebeu estar num sítio estranho. De facto os seus acordares não eram assim. Como toda a
família, dormia no interior da pequena e velha casa entalada entre prédios
altos mais modernos, mas mesmo assim já antigos. Apenas a janela da sala
iluminava de luz natural o espaço da casa. O seu quarto não era excepção. Também ele estava completamente imerso na
escuridão, mesmo ao meio-dia. O cheiro
confirmava que estava fora do seu abrigo de todas as noites. Sim, cheirava a
cera fresca, pelo menos do dia anterior, o que lhe causava um certo incómodo,
irritando-lhe as mucosas nasais. “Atchim!!” O espirro
obrigou-o a sentar-se na cama e a abrir os olhos. Apesar de o compartimento
ser de pequenas dimensões, reparou que eram maiores do que as do seu quarto.
Olhou em volta ainda empecilhado com a irrigação excessiva dos seus olhos
provocada pelo espirro e pelo rompante de luz que entrava em fios pelo meio
do quarto. “Atchim!!” Novo espirro
impediu-o de olhar mais atentamente. Fungou com força para tentar evitar novo
ataque. Mais calmo, e
em melhores condições pôde olhar em volta. Era um quarto simples, de pessoa
que vive só. Pelo menos assim dava a entender a estreiteza da cama onde
dormira. Esta coberta com uma colcha de seda natural branca,
localizava-se geometricamente no meio do quarto. De um lado, e a meio ficava
a janela alta e com bandeira. Enquanto
olhava em volta coçava-se, reflectindo no sono
profundo que tinha passado. Como de costume não lembrava o que tinha sonhado.
Apenas traços muito gerais e esbatidos davam-lhe a certeza de ler sonhado.
Não importava; importava, isso sim, saber como tinha vindo ali parar, naquele
quarto estranho. Absorto,
coçava as costas. Estava em roupa interior. O cabelo completamente
despenteado, tomava jeitos e trejeitos a fazer
madeixas de cabelo fino a sair em várias direcções,
o que lhe dava um aspecto esgrouviado. “Ahhhhh!” Bocejou. Um
esgar exagerado da sua boca acompanhava o ruído que fazia. Quando terminou,
coçou a cabeça com força. Deixou-se cair
de novo sobre a cama, ainda em pensamentos confusos, tentando descobrir como
teria vindo ali parar. Fechou os olhos para concentrar-se melhor. Mas apesar
de tentar resistir acabou por adormecer de novo, caindo nos pensamentos que
lhe turvavam a consciência. Acordou de
novo, mas agora perturbado pela escuridão familiar que o envolvia. Estava de
novo no seu quarto, e num salto brusco retomou as faculdades sobressaltadas
pela lembrança do ocorrido havia pouco. Era de facto o seu quarto, e mais uma
vez ficou intrigado pela circunstância. Abriu as gavetas da memória, e, ainda
embriagado de sono, veio-lhe à cabeça uma frase — Quarto com Sol. Fora com
este desejo que adormecera na noite anterior, o que seria acordar num quarto
completamente novo banhado pelo Sol… M. Constantino In Policiário de
Bolso,
19 de Fevereiro de 2012
|
||||
© DANIEL FALCÃO |
|||||
|
|