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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 62 EFEMÉRIDES – Dia 2 de Março Jonathan Ross (1916) – Pseudónimo de John Rossiter, detective chefe
reformado que vive em Wiltshire, Inglaterra. Em The Blood Running Cold, cria o Inspector George Rogers,
protagonista da série com o mesmo nome, com 21 livros publicados entre 1968 e
1997. Escreve também sob o seu nome 7 livros de espionagem com o herói Roger Tallis. David Goodis (1917-1967) –
David Loeb Goodis nasce
em Filadélfia, Pensilvânia, EUA. Estuda jornalismo, escreve o primeiro livro
em 1939 Retreat from Oblivion, ao qual se segue um número indeterminado de
contos (mais de 400) para Pulp magazines,
sob diferentes pseudónimos David Crewe, Lance Kermit, Logan Claybourne e Ray P. Shotwell. A partir da década de 40 trabalha como
argumentista na rádio e no cinema. Publica 19 livros de mistério/detective, o mais conhecido é Dark Passage devido à sua adaptação ao
cinema. Goodis retrata com frequência ambientes
marginais, sórdidos e carregados de pessimismo, parecem reflectir
o seu próprio percurso, e tornam-no num escritor maldito e um dos mais
admirados do romance policial negro do século XX. Em Portugal estão editados
alguns livros de David Goodis: Brigada Nocturna (1964), Nº139
Colecção Xis, Editorial Minerva. Título Original: Night Squad
(1961) Beco Sem Saída (1966), Editorial Minerva. Obsessão (1968), Nº18 Colecção
Clube do Crime, Bertrand Editores. Título Original: Cassidys Girl Disparem Sobre o Pianista (1985), Nº14 Colecção Policial de Bolso, Editorial Caminho. Título
Original: Down There
(1956) A Lua na Valeta (1986), Nº4 Colecção
Estórias, Teorema. Título Original: The Moon In The Gutter (1953) Detenham Essa Mulher (1988),
Círculo de Leitores. Título original: Behold This Woman O Ladrão (1992), Nº152 Colecção
Policial de Bolso, Editorial Caminho. Título Original: The Burglar (1953) Uma Loira na Esquina (1993),
Círculo de Leitores. Título original: The Blonde On The Street Corner (1954) Fernando Luso Soares (1924-2004) –
Fernando Augusto de Freitas Mota Luso Soares, nasce em Alenquer. Advogado,
dramaturgo, ensaísta, tradutor, crítico e ficcionista. Na área do policiário
dirige a revista Investigação – Revista mensal de ciência e literatura
policial (1953-1958) onde publica textos sobre a obra policial de Pessoa.
Destaca-se ainda Crime a Três
Incógnitas (1953), O Crime de um
Fantasma (1954), Crimes e Criminosos
na Divina Comédia de Dante (1954) e A
Novela Policial-Dedutiva em Fernando Pessoa (1976). TEMA – FICÇÃO CIENTÍFICA – OS OUTROS Conto de Hélia Sotta E os outros?
Também seriam? As
interrogações eram tremendas e agoniavam-na na sua persistência… Ele…, era-o de certeza. Não tinha provas reais e concretas mas
vira o suficiente e adivinhara o resto. Continuou
maquinalmente a mudar a fralda ao bebé. Que seria dela…, das filhas… e do
resto da aldeia… talvez até do resto do mundo? Aconchegou a
criança e suspirou. Mas porquê,
Santo Deus, porquê? Tudo começara
naquela manhã em que o carro avariara e de dento da floresta lhe surgira um
jovem atraente e de aspecto trocista que em minutos
lhe resolvera o problema mecânico. Tinham
conversado, trocado cartões, e tinham acabado por ir tomar uma bebida à
aldeia mais próxima… aquela mesma onde agora, passados quatro anos se
encontrava. Houvera encontros, ideias trocadas e o amor irrompera. Tinham
casado e tinham duas filhas. Naquele ano ela insistira para irem passar
férias na aldeia onde se tinham conhecido. Ele esquivara-se mas a suave
teimosia dela prevalecera. Nos primeiros
dias tinha sido maravilhoso, porém… houve o piquenique. Ela
organizara-o para o local onde tivera a avaria no carro e foi com surpresa e
desgosto que ao chegar lá o marido não teve senão um encolher de ombros
aborrecido. Comeram e ela estendendo-se na caruma perfumada deixou-se
adormecer. Acordou de repente com a assustadora sensação de um silêncio
pesado e absoluto. O ruído do bosque cessara e a vida parecia ter parado.
Levantou-se e chamou o marido. Correu hesitante por entre as árvores, pro-curando vê-lo. O medo começou a crescer dentro dela. De repente,
estacou. Uma cena arrepiante saltou aos seus olhos. E em segundos todo um
conjunto de pormenores estranhos acerca dele que deliberadamente tentara
sempre abstrair, envolveram-lhe o cérebro num turbilhão de loucura… Aqueles olhos
estranhos e dourados que fitavam e pareciam emitir luz, aquela língua
estranha e de sons incríveis que ele falava enquanto dormia, aquelas mãos que
tinham passado num esfolão e o tinham sarado
instantaneamente, aquele gato que sempre que o via se eriçava e miava de modo
arrepiante… Santo Deus! O
que via ultrapassava tudo quanto a sua mente podia conceber. Ele
encontrava-se no centro de uma clareira com dois homens vestidos de fatos
brilhantes. Falavam mas a tal língua estranha, absolutamente impossível de
ser reproduzida por gargantas humanas. E junto a eles um objecto
esférico pousado aguardava. O suor escorria-lhe pelas faces. Apeteceu-lhe
gritar, correr para o marido e suplicar-lhe que desmentisse todo aquele
pesadelo. Porém não conseguiu mover-se. De súbito voltaram-se na sua direcção e viram-na. Trocaram sons excitados e os dois homens
estranhos e diferentes entraram apressados para o esquisito veículo e numa
nuvem escaldante elevaram-se, desaparecendo vertiginosamente. O marido
encaminhou-se para ela. Calmo e seguro. Ela retrocedeu. Ela sabia que o
horror ainda não terminara. Ele fitou-a intensamente e uma paz quente
envolveu-a. Deixou de ter medo. Ele sorriu-lhe. Estendeu-lhe a mão. Uma mão
que curava, que irradiava amor… Ele não era
humano… sabia-o agora. Qual seria a sua missão? Qual seria o
seu futuro? E das filhas? E do mundo? Teria que se
calar. Amava-o muito mas a maior razão, aquela que a emudeceria para sempre é
que as suas filhas tinham os olhos dourados… e algumas crianças da aldeia
também. TEMA
– O CRIME NA LITERATURA POLICIÁRIA – O ROUBO Extracto de Novelas do Minho de Camilo Castelo Branco Em uma dessas
noites, o chefe, com uma dúzia de escolhidos, entrou na Congosta de Enxiras,
onde morava Bento de Araújo. Ele, com mais dois, acercaram-se da porta; os
outros postaram-se de atalaia nas extremidades da viela. O pedreiro
estava ainda sentado à lareira. Desde que lhe disseram que o filho pernoitava
às vezes em casa do Meirinho, velava até ser dia claro. O receio de ser
assaltado era tamanho que já três vezes, em noites tempestuosas, gritara à
d'el-rei. Os vizinhos, à primeira, acudiram vozeando das janelas com
invulnerável intrepidez, e viram dessa feita que um porco vadio, atraído
talvez pelo cheiro de pocilga, foçava contra a porta de Bento. Depois, ainda
que ele gritasse ninguém se mexia, atribuindo ao porco as agressões incómodas
ao avarento. Foi o que
aconteceu naquela noite de novembro. O pedreiro sentiu o abeirar-se gente da
sua porta, e deu tento do raspar de ferro entre a ombreira e o batente.
Gritou: mas parecia gritar já com os colmilhos apertados. A língua da
fechadura estalou, e a porta foi diante de dois possantes ombros tão
rapidamente que os homens, como duas catapultas, entraram de roldão, e só
pararam filando-se à garganta do velho empedrado. Por entre eles, e à luz do
canhoto que flamejava, o pedreiro viu lampejar o aço de uma navalha e ouviu,
através dos lenços com que os hóspedes cobriram as caras, uma voz disfarçada: – Se grita,
você morre aqui já. Se quer viver, entregue as três mil peças que herdou, e
ande depressa. Não nos conte lérias, nem faça lamúrias. É decidir: o dinheiro
ou a vida. M. Constantino In Policiário de
Bolso,
2 de Março de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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