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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 65 EFEMÉRIDES – Dia 5 de Março Charles Barbara (1817-1866) – Louis-Charles
Barbara nasce em Orléans, França. Estuda em Paris
onde se liga a um grupo de autores e artistas inconformistas; começa a
carreira de jornalista e escritor. Nos seus contos e romances Charles Barbara
mistura habilmente o género realista, fantasia e policial. Na Ficção
Científica o autor é considerado um precursor de Júlio Verne com Le Major Whittington
(1858), onde surgem arranha- céus, robôs, máquinas de calcular e o telégrafo.
No Policiário destacam-se Romanzoff (1846) um texto que retrata um caso criminal, a
sua pesquisa e, principalmente, o julgamento em tribunal: L'Assassinat du Pont-Rouge (1855) que é
considerado por muitos especialistas o primeiro romance policial francês. TEMA – VAMPIROS – LENDA OU REALIDADE? Não, não nos
referimos àqueles animaizinhos repelentes — morcegos — sugadores de sangue
que, na América Central, são conhecidos por esse nome. Referimo-nos
aos vampiros homens ou pseudo-homens que o Larousse
distingue com o conceito: Vampiro: do alemão Vampir,
derivado do eslavo Upuri. Cadáver que sai, de
noite, da sua sepultura e vai sugar o sangue dos vivos. Como se chega
a vampiro? Dizem os
entendidos: Depois de uma vida de infâmia, o pecador é
recuperado pelas forças obscuras que o alistam no exército dos vampiros.
Estes podem, por sua vez, recrutar e vampirizar mesmo criaturas inocentes, se
conseguirem cravar os seus dentes caninos salientes no pescoço das vítimas. Lenda ou
realidade? ROLAND DE VILLENEUVE, um dos poucos especialistas
em vampirismo, remonta a crença nos vampiros à própria formação do mundo.
Representa o temor que o homem das cavernas experimentava em relação ao Além.
Refere muitos textos que falam de vampiros desde o ano 600 a.C., na China,
outros deixados pelos assírios e sumários. Os gregos antigos falavam de Striges
(mulheres que se transformavam em aves de rapina e se alimentavam de sangue
humano), e Lamies,
vampiros especializados em crianças. É, porém, na Idade Média, sobretudo a
partir do século XIII, que os vampiros começaram a pulular. Ingleses,
escoceses, suecos etc., têm os seus vampiros, mas o palco preferido situa-se
na Valáquia, Hungria, Polónia ou Rússia, onde teria sido o seu berço, segundo
CHARLES NODIER. DON AUGUSTIN CALMET, um beneditino que viveu de
1675 a 1757 a quem se deve uma notável Dissertations sur les apparitions des esprits et
sur les vampires et revenants, publicada em
1749, revela curiosos e diversos factos confirmados de vampirismo em datas
designadas de sua época. Em todos os casos suspeitos ouviam-se testemunhas e
os cadáveres eram examinados em busca de sinais reveladores de vampirismo, ou
sejam as articulações flexíveis, a liquefacção do
sangue e a incorruptibilidade da carne. Se se
encontravam esses sinais, os cadáveres eram exumados e queimados. Em alguns
casos os cadáveres gritavam como loucos, agitando os braços e as pernas, como
se estivessem vivos. Afirma-se que esta é a forma de acabar com o morto vivo,
outra, mais eficiente recomenda que se atravesse o coração com uma estaca, se
separe a cabeça do corpo e reduza tudo a cinzas. BRAM STOKER, em determinado passo sobre o
assunto, descreve do modo seguinte a extinção de uma vampira: Pegue nesta junção com a mão esquerda, apoie-o
sobre o peito dela à altura do coração e com o martelo na mão direita, bata
fortemente, enquanto nos oramos pelo repouso da morta.” Depois de uma dilacerante luta interior, Artur
tomou subitamente uma decisão implacável. Sem hesitar, sem tremer, colocou a
ponta aguda do comprido punção à altura do coração de Lucy
e bateu com todas as suas forças. A "coisa" no caixão torceu-se em
pavorosas convulsões, um uivo que nada tinha de humano saiu-lhe dos lábios de
onde se escapava uma espuma avermelhada, e os dentes agudos cravaram-se na
própria carne. O sangue jorrava em jactos vermelhos
do coração trespassado. Depois as convulsões cessaram, a face perdeu a
expressão selvagem e o corpo imobilizou-se. Certamente,
como sabemos, é possível a incorruptibilidade de um corpo. Existem inúmeros
casos de pessoas que se acreditava mortas e que voltaram à vida depois de
serem enterradas. Há doenças que mantêm os pacientes largamento
em estado cataléptico, em morte aparente e reanimáveis após largo período
nesse estado. Mas como
sairiam das tumbas? Como e porquê
voltar a elas? É algo que nunca se explicou e nunca se explicará. Dizer que o
diabo desmaterializa os corpos, é fácil e irracional por não provado. Lenda ou
realidade? Lenda ou
realidade foi, e é, fonte de inspiração literária. Inúmeras obras
sobre o tema têm sido dadas à publicidade. Provavelmente, todavia, nenhuma
outra iguala ou igualará o famoso DRÁCULA
(sem dúvida o mais notável dos vampiros, a pontos de quase se abandonar este
termo em favor daquele) de BRAM STOKER, nome literário de ABRAHAM STOKER,
nascido na capital irlandesa em 1847. DRÁCULA beneficiou, aliás, de todas as lendas na pessoa
de VLAD TEPES ou TSEPECH, conde DRAKUL – o empalador
– poderoso senhor voiévola
que reinou sobre a Wallachia de 1448 a 1476. DRAKUL
(DRÁCULA) significava filho do dragão ou filho do diabo e pelas práticas de
crueldade, de que existem numerosos documentos, bem merece este último
epíteto. Valha a verdade dizer-se que ser vampiro seria o menor dos seus crimes,
já que o método favorito da sua crueldade consistia no empalamento.
Inúmeros infortunados, sem distinguir mulheres, homens e crianças, foram
espetadas de pernas para o ar ou de cabeça para
cima, pelo umbigo, órgãos genitais ou através do coração. Estrangulados uns,
esfolados e desmembrados em vida, outros. Num só dia sangrento massacrou
30000 pessoas, na aldeia de AMLS, cortando-as como couves. Escreveu o seu
romance a partir de factos históricos atribuídos a TEPES, investigando
crónicas vampíricas existentes nos recônditos do Museu Britânico e através de
correspondência com sábios romenos. DRÁCULA, publicada em Londres em 1897, forma com Carmilla (a mulher vampiro) do irlandês JOSEPH SHERIDON
LE FANU, publicada pouco antes daquela (1872), a mais famosa parelha de
relatos de ficção sobre o assunto. Assim o afirmou recentemente o erudito
francês TONY FOIVRE, autor de Os
Vampiros, aturado estudo no domínio do real e fictício. VOLTAIRE, no Dicionário
Filosófico alcança que: não se ouviu falar senão de vampiros, desde 1730 a 1735;
espreitaram-nos, arrancaram--lhes o coração, queimaram-nos mas, tal como os
antigos mártires, quantos mais se queimavam mais apareciam. Lenda ou
realidade? A crença dos
antigos gregos no retorno dos espíritos desaparecidos não era mais racional
que a crença em fantasmas e vampiros. A ignorância,
o temor, alimenta a fantasia, daí que muitos dos casos nos parecem pueris. No cinema, o
assunto é inspiração para fartos filmes. E aí sim, parece não ser possível
acabar de vez com o macabro e terrorífico personagem, porque, não importa
quantas vezes seja espetado ou queimado, acaba sempre por se erguer de novo. Lenda ou
realidade? Questão que
deixamos às mentes destacadas e animosas para resolver. Será prudente não
obstante, prevendo um mau encontro, o uso de um colar de alhos ou ferraduras,
a defesa com as bolas marcadas com uma cruz, ou ter em casa um crucifixo de
pau de espinheiro ou abrunheiro. TEMA – CRIME PERFEITO O investigador
mandou acender os reflectores apontados para os
olhos do preso e deu início ao interrogatório. – Poderia ser
um crime perfeito – disse ao pálido acusado – mas o senhor cometeu um pequeno
engano. Só um… O acusado
passou um dedo no colarinho, sufocado pelo suor. Quis responder, mas o detective prosseguiu implacável, apanhando a faca que
estava sobre a mesa: – Não há
impressões digitais, nem marcas de sangue, nem cabelos reveladores. Só sabemos
que o senhor odiava o velho; é ou não é? O senhor seguiu-o até ao
apartamento, cheio de ciúmes porque ele acompanhava a sua garota. Naquele
momento o seu ódio era intenso por saber que ele era rico e lhe roubava a
mulher amada. Ruminando crimes seguiu os dois. Entrou no apartamento às 8h e
10m. Cinco minutos depois, precisamente às 8 horas e 15 minutos, foi apanhado na rua com a tal sua namorada, tendo nas
mãos uma garrafa de Porto da reserva do velhote, dois quadros de nu artístico
que cobiçava há muito tempo e – envergonhe-se ladrão! – três
camisas e um maço de cigarros turcos! Finalmente, esta faca, melhor, este
punhal de cabo ricamente dourado, estava nos seus bolsos! Confesse, canalha! – Confesso,
confesso! – balbuciou o acusado horrivelmente pálido. –Sim – continuou o investigador – poderia ter sido um crime perfeito. Mas
o senhor cometeu um velho esquecimento: Por que raio
de motivo não matou o idiota do velho? Porquê? Foi a única
coisa que esqueceu! M. Constantino In Policiário de
Bolso,
5 de Março de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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