|
|||||
(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 71 EFEMÉRIDES – Dia 11 de Março Elizabeth Linington (1921-1988) –
Barbara Elizabeth Linington nasce em Aurora,
Illinois, EUA. É considerada a primeira mulher a escrever romances
policiários do género procedimento
policial que retrata diversas vertentes da acção
das forças policiais: investigação, recolha de provas, interrogatórios,
análise forense, etc como sucede, por exemplo, nos
livros de Ed McBain ou George Simenon.
Elizabeth Linington publica o seu primeiro livro em
1955, é uma escritora que utiliza diferentes pseudónimos. Como Elizabeth Linington escreve 16 livros; como Anne Blaisdell cria a série Ivor Maddox e escreve 12 livros; sob o pseudónimo Lesley Egan cria as séries Vic Varallo (14 títulos) e
Jesse Falkenstein (13 títulos); sob o pseudónimo
Dell Shannon cria a série Lieutenant
Luis Mendoza, que protagoniza perto de 40 livros.
Esta autora tem diversas nomeações para o Edgar Awards:
como Dell Shannon para Best
First Novel em 1961 com Case Pending, que apresenta o Lieutenant Luis Mendoza e em
1963 Knave of Hearts, para Best Novel,
também com Mendoza; como Anne Blaisdell é nomeada
em 1962 para Best Novel com Nightmare. TEMA – NARRATIVA DE TERROR SEMPRE PRESENTE Ontem à noite
à saída do cinema encontrei o Zé Maria, amigo de velha data. Olhamo-nos sem
palavras, porque se falássemos seria para lembrar algo de estranho e sobre o
qual prometemos guardar segredo. Na verdade, se o fizéssemos, algumas pessoas
teriam rido, outras pediriam detalhes ou sugeririam hipóteses para explicar o
que para nós não tem explicação. Ao conhecer o
Zé em Botafogo, estávamos na mesma escola, eu com 18 anos, ele com 19. Um dia
perguntou-me se gostava de acampar. Nunca acampara mas respondi
afirmativamente para não parecer ignorante. Foi no acampamento que conheci
Rosa, sua irmã e também Raul, Ivete, Julião, Ari e Maura que estavam
presentes. Acampar era a paixão de todos eles, a que aderi também, não sei se
por gosto sincero ou porque era o meio mais fácil de ficar perto de Rosa. Sou
tímido, nunca tive jeito de dizer alguma coisa que pudesse dar a impressão de
que estava apaixonado. Sei… Dizem que as mulheres sempre percebem. Mas juro
que a Rosa nunca me disse coisa alguma, nem fez qualquer brincadeira que
deixasse os outros perceberem que tinha consciência do meu interesse por ela.
A não ser o de simples amizade. Tornamos muito amigos. Eu, ela, o irmão e
todo o resto da turma. Estávamos sempre presentes em toda parte: cinema,
festas, praia e, principalmente, nos acampamentos das férias, quando a
aventura estava em descobrir um lugar ainda selvagem de mar ou de montanha,
juntar a barraca e os mantimentos e andarmos para lá. Para “desvendar a
natureza”, como dizia Julião, poeta da turma. Acampámos em
tanto lugar diferente que até perdi a conta. Só me como aquele, numa praia
deserta, perto de Parati, quando fazia uma lua cheia, daquelas enormes, e o
Ari havia levado o violão. Houve muitos outros momentos assim, depois… mas o
que mais lembro ainda é o rosto macio e claro de Rosa, iluminado por aquela
lua enorme… Durou quase
três anos aquela vida feliz. Três anos pode ser muito pouco, para mim foi uma
vida inteira. Nunca mais fui o mesmo. Quando recebi a notícia do acidente
estava em Brasília. Poderia ter voltado ao Rio no mesmo dia, mas preferir
ficar. Queria que minha última lembrança da Rosa fosse cheia de vida, assim
como ela estava quando a vi pela última vez, parecia rir com o corpo inteiro,
parecia dançar quando fazia qualquer movimento, nunca conheci ninguém tão
cheio de vida… queria conservá-la assim, na minha lembrança. Uma semana
depois, voltei. Procurei o pessoal, aos poucos fomos vencendo a fossa. Logo
começaram as férias de fim de ano e Zé Maria insistiu para que a gente
acampasse como antes. Nada poderia ser como antes, mas ele recusava aceitar.
Os outros também. Havíamos planejado acampar em Itatiaia. Zé Maria estudava
fotografia, havia comprado uma máquina nova, estava todo animado. Concordei
em ir, mas só para não estragar a alegria da turma. Foi horrível.
O tempo estava lindo, os riachos estavam transparentes, as montanhas
ensolaradas. Mas o tempo todo a gente lembrava a ausência de Rosa. Bastava
alguém rir para todos se lembrarem dela. “Onde houver riso a Rosa estará
presente”, disse Julião, na volta. Acho que essa frase foi a melhor poesia
que ele já conseguiu fazer. Três dias depois,
Zé Maria apareceu lá em casa. Estava pálido como um defunto. Não falou nada.
Tirou um monte de fotos de um envelope e espalhou sobre a mesa. Fotos do
nosso acampamento, em Itatiaia. É, a Rosa estava em todas. Rindo, brincando,
dançando, só ela parecia estar viva, em contraste com todas aquelas caras
tristes e desanimadas. Vê-la foi um
choque tremendo. Chorei enquanto rasgava furiosamente as fotografias. Rosa
nunca se fora, estava sempre presente no meu coração. Poderia haver outra
explicação? TEMA – FICÇÃO CIENTÍFICA RIFIFI – De Fernando Saldanha Elevou a voz
ao céu e pôs-se a cantar enlevadamente. As estrofes
eram belas e comoventes – a voz maviosa e bem modulada. Cantava,
cantava – cantava com amor a sua amada. Talvez Rififi
fosse belo, tolerante, firme, de bom e doce carácter. Talvez no seu mundo Rififi fosse um chefe na nobre acepção
da palavra. E talvez não. Talvez fosse um ser comum. Quem era Rififi? Quem era a amada de Rififi?
A quem era que Rififi tão concentradamente cantava?
E como cantava ele? Seria formosa
a tema amada de Rififi? Que encantamento o prendia? Talvez Rififi não soubesse. Era noite – a
noite de muitas luas de Andrómeda. E Rififi
cantava, cantava – cantava a sua amada. As estrofes eram belas – a voz
maviosa. A quem era que
Rififi cantava? Cantava a sua
amada. Ninguém lhe
respondia. Rififi desesperava. E cantava,
cantava – cantava com amor a sua amada. Seria coerente
cantar assim? A quem cantava
Rififi? Quem era a sua amada? Subitamente o
belo canto de Rififi calou-se. Pusera-se a lua
no céu do seu mundo. Era a amada de
Rififi. Mas Rififi quem era? Era belo,
forte, firme, de bom carácter. Mas não –Rififi não era humanóide. Rififi era um esquilo. Era belo, forte, firme, de bom
carácter. Só que naquele
mundo de Andrómeda todas as espécies eram suas iguais. Deus Pai lhe
dera voz –doce, maviosa, bem modulada. Naquela madrugada de Primavera no seu mundo ele
pedia ao Pai uma lei protectora das espécies. M. Constantino In Policiário de
Bolso,
11 de Março de 2012
|
||||
© DANIEL FALCÃO |
|||||
|
|