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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 78 EFEMÉRIDES – Dia 18 de Março Richard Condon (1915-1996) –
Richard Thomas Condon nasce na cidade de Nova
Iorque. Publicitário e produtor teatral é assessor de impressa dos maiores
estúdios da época – Walt Disney, Hal Horne, 20th Century Fox. Num total de 27 obras, escreve 12 romances
policiários protagonizados pelo Captain Colin Huntington, com enredos
intricados onde a sátira tem uma forte marca. As obras mais conhecidas são: The Manchurian
Candidate (1959), prenúncio dos assassinatos do Presidente John F.
Kennedy e do irmão Robert; An Infinity of Mirrors
(1964) tem como pano de fundo o terror nazi; a série bestseller
Prizzi, 4
romances, entre 1982 e 1994. Richard Condon tem
várias obras adaptadas ao cinema. TEMA – ACTUALIDADE PLANETA EM PERIGO A terra tem 4,5
mil milhões de anos de existência. Neste período sofreu transformações
estruturais, físicas, químicas e surgiu vida. Todas estas mudanças ocorreram
lentamente, prolongando-se por centenas de milhões de anos. Não faltam
vestígios de catástrofes mais ou menos profundas: a separação dos
continentes, erupções vulcânicas, glaciações, dilúvios, desaparecimento dos
dinossáurios etc. Michael J. Drake, recém falecido em Outubro
de 2011, director do Lunar and
Planetary Laboratory da University of Arizona, não escondia
a hipótese da extinção terrestre. A comunicação social e revistas científicas
não esquecem a existência de um asteróide 1999 RQ36
de 560 metros e diâmetro, que se aproximará perigosamente da terra entre 2169
e 2199, não sendo o único, já que no início do presente ano se conhecia um
outro asteróide de 840 metros de diâmetro e com
mais de 1 quilometro de extensão que periodicamente
se aproxima da terra. Para Drake era essencial o projecto da NASA, que já gastara 800 milhões de dólares
na sonda OSIRIS-Rex que irá estudar a estrutura dos asteróides
de modo a serem bombardeados e desviar a sua trajectória.
Resta saber se resultará, já que o mais próximo asteróide
poderá roçar o planeta em 2029,faltam poucos anos, um espaço muito curto para
obter uma solução salvadora. TEMA – CONTO POLICIÁRIO O AVISO – De Victor Dimas Quando
acordou, já sabia o que tinha de passar-se na noite seguinte E desta vez
deixaria a bestialidade à solta, não lhe travaria o ímpeto à custa de um
esforço titânico de auto-domínio. Só porque não
podia mais. Nem queria repetir a mais um neurologista, depois a outro e
outro, a mesma história. Não, porque
era absolutamente inútil. O remédio era
só um, inevitável: matar. Nunca o tinha
tomado mas sabia – no certo e necessário como o ar que respirava. E já o
conhecia há muito, estava recomposto do choque que aquela revelação lhe
provocara. Enquanto não destruísse uma vida de mulher, enquanto não sentisse
fluir-lhe entre os dedos enclavinhados um sopro essencial, a sua angústia
cresceria todos os dias, olhando os homens como inimigos até deixá-lo
prostrado de ânsia, doente de esmagadora impotência. Porque a lei… Ah! Mas agora
estava resolvido e não poderia viver sem satisfazer esta necessidade
imperiosa. Vital, Inalienável. O projecto era bom. Tinha a oportunidade e o local. Mas não
a vítima. O rapaz era
alto e de boa presença. Tinha mesmo um ar de distinção. E uma ruga de
preocupação na testa elevada. Mesmo assim,
não devia ser grande problema. Os jovens não têm grandes problemas. E ela
sorriu-lhe, aproximou-se coleando entre as mesas. Ele tinha
pedido uma bebida que lhe acalmasse a inquietação. E olhava-a, hesitando
ainda. Sabia que, se saíssem juntos, ela não voltaria. Ela estava já sentada,
sorrindo sempre, insinuando. E talvez nem
fosse crime libertar a sociedade de uma mulher. Uma mais, que diferença faz? A mulher que
sorria representava a solução. Ou a demência. O local, o
motivo, tinha-os. A vítima inconsciente sorria outra vez, cada vez mais perto
os lábios sanguíneos. Levantou-se. O hotel numa
rua tranquila era muito acanhado. Escuro e pouco frequentado. Mas tinha uma
saída lateral para outra pequena rua. E o recepcionista,
do seu nicho ao fundo do corredor, não podia vigiá-la sem torcer o pescoço.
Nem estaria interessado. “Senhor e senhora qualquer coisa” – escreveu em
letra de imprensa. – Bagagem? – Não. É só
por esta noite. Pagou. O homem estava
habituado. Mirou-os. – Bem. Não
queremos fitas, hein? – Tirou a chave. “22”, dizia a
pequena etiqueta adjunta. Subiram
calmamente. Já não era possível
retroceder. Ela iria prodigalizar-lhe carinhos, estandardizados mas que o
são. E umas mãos, um corpo vibrante de mulher completa, excitante, dão sempre
resultado. Quase sempre,
aliás. Porque com ele... bem, ela rir-se-ia quando
descobrisse. Talvez lhe voltasse as costas, simplesmente. Ou lhe exigisse
compensação. “Pelo tempo que perdemos”…. O costume. Era a
situação, a humilhação que faria dele o assassino Inexorável,
avizinhava-se o momento. Depois seria livre, humano e igual a todos os
outros. Um homem,
enfim. Sem complexos. Ela pareceu
surpreendida com a sua lentidão. Tirou o fato, calmo, meticuloso. Depois,
puxou a carteira do bolso interior e abriu-a. Ela
compreendeu e estendeu a mão aberta, com os dedos a falarem. Sem uma palavra,
ele tirou duas notas e, suavemente, deixou-as cair sobre a cama. Ela, com uma
perna em ângulo agudo, apanhou-as maquinalmente e estendeu-se para a malinha.
Sobre a mesinha oval, no centro do quarto, a carteira dele com o monograma,
com os documentos, ficou à espera. Ela abre muito
os olhos. Ri histericamente. Esforça-se em vão. No peito, ele
sente uma torrente de fogo a desfazer-lhe os últimos resquícios de prudência.
É a sua oportunidade de destruir o demónio que o inibe. Frustração
psicopática, ou lá o que é. A morte como recurso, na guerra de que não tem
culpa. A lei do mais forte. Pronto. A mulher
parece dormir, de cara para baixo. Ele voltou-a. Sente-se despersonalizado. É
um assassino agora, mas um homem, acima de tudo. E vai prová-lo, embora ela
não possa sentir. Mas é a ele que interessa saber se não foi inútil. É um animal,
pois. Mas os homens são animais. Monstros, até. E vencem. Agora, é
preciso ponderação. Não dar largas à euforia, à sensação de vitória que o
percorre. Tapa a mulher,
mete no bolso os papéis que encontra na malinha. Deixa o dinheiro. Passeia a
vista pelo círculo do quarto. A mesinha, ao centro é apenas uma oval perfeita
com uma jarra de flores artificiais que fazem sombra no centro. Encaminha-se
para a porta, tranquilizado. Antes de apagar a luz, os olhos afloram um aviso
rectangular. Mas não lêem,
não percebem que as letras formam palavras. Nem lhe
interessa o que possa dizer um letreiro de hotel. Desce a escada com cuidado.
Rápido, vê-se na rua. Em casa. E dorme,
tranquilo pela primeira vez em muitos anos. Até ao meio do dia seguinte.
Quando abre os olhos, estúpida, inexplicavelmente, o aviso no quarto do
hotel, na face interior da porta, salta-lhe na memória: “Por Favor,
Verifique Se Não Esqueceu Nada. Obrigado”. E soube então que
na mesinha oval tinha esquecida a sua sentença de morte. M.
Constantino In Policiário de
Bolso,
18 de Março de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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