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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 80 EFEMÉRIDES – Dia 20 de Março Ernest Bramah (1868-1942) –
Ernest Bramah Smith nasce em Hulme,
Manchester, Inglaterra. Jornalista e editor inicia a carreira de escritor em
1900 com The Wallet of Kai Lung,
o primeiro da série Kai Lung
um chinês contador de histórias, protagonista de 7 livros. Cria Max Carrados,
um detective cego, coleccionador
de moedas – reflexo do interesse em numismática do autor; este personagem,
que é mais tarde adaptado à rádio e à televisão, surge em 1914 no livro de short stories:
Max Carrados. Ernest Bramah escreve diversas short stories e um total de 21 livros. TEMA – CRIMINOLOGIA MÓBIL DO CRIME O elemento
impulsionador do delito, seja contra ou património ou delito de sangue – homicídio
– é, em regra considerável, o detonador que revela o autor do crime. Sem
dúvida que, também em regra, um quebra-cabeças para o investigador, mas uma
vez encontrado, é como ter descoberto a placa identificadora de uma rua que
se procura. Com os motivos assegurados, os indícios e as provas dos delitos
surgem com naturalidade fora do comum. Na lista das
motivações, relacionada com maior frequência: 1 – Lucro
(roubo, burla, peculato, corrupção, herança, partilha, etc.) em delitos
materiais acompanhados ou não de assassínio, 2 – Vingança,
ciúme e traição muitas vezes ligadas, que nos parece impossível apontar com
infalibilidade, cada um deles (o crime passional irreflectido,
também emocional ou ponderado), 3 –
Eliminação, que também pode ser enquadrado no ponto anterior (sempre que se
trate de eliminar um marido ou esposa que se tornou indesejável, a remoção de
um amante pelo marido ou cônjuge), um chantagista ou uma testemunha que sabe
demais etc.; 4 – Convicção,
exemplo de um rival politicamente perigoso por qualquer circunstância; 5 – Prazer de
matar, o criminoso nato, o psicopata, que se satisfaz no acto
ou na vaidade de ver o assunto na comunicação social; 6 – Sexo
(violação, orgia tortura, sadismo, etc., às quais se segue a morte — para
esconder os actos ou pelo caso de ser abrangido
pelo ponto anterior) Outras
hipóteses seriam de aludir, o mundo é vasto e as motivações parecem ainda
maiores. TEMA – CASOS E CASOS O DILEMA DO PISTOLEIRO Eddie Simpson era chamado o Houdint Louco por causa do brilho selvagem dos seus olhos
e da sua extra-ordinária habilidade para fugir,
mesmo quando trancado numa cela. Como membro da
infame quadrilha Kilgallen, em Boston, Eddie havia adquirido a fama de ser o melhor atirador do bas-fond. Entretanto, embora a sua especialidade fosse
assassinar os concorrentes, guardava seu mais acerbo ódio para a polícia. Mais de uma
vez havia sido encurralado, mas depois que o fumo dos tiros se dissipava, Eddie havia desaparecido. Mesmo quando a polícia o
prendeu em 1923, acusado de tentativa de assassinato contra um polícia
escapou facilmente. Traiu os amigos e livrou-se da pena. Em 1937 era um
bandido solitário, odiado no seu meio, evitado pelos seus antigos amigos e
perseguido desesperadamente pela polícia que o agarrou e encarcerou na Cadeia
da Rua Charles, em Boston. Entretanto, alguns dias mais tarde, o Houdint Louco tinha desaparecido. Usando um fio
humedecido com saliva e coberto com esmeril em pó, abriu passagem cerrando as
barras da janela do seu cubículo. Novamente em
liberdade, furtou um carro, roubou alguns restaurantes e arranjou dinheiro
para comprar roupas vistosas. Queria a companhia das mulheres, mas sabia que
qualquer das suas antigas conhecidas entregá-lo-ia à polícia na primeira
oportunidade. Assim, no carro roubado e bem vestido fez uma conquista. A moça
manifestou o desejo de aprender a guiar Eddie,
ansioso para agradar à sua nova namorada, entregou--lhe o volante. Alguns
minutos depois ela avançou num sinal vermelho. Dois polícias do trânsito,
Henry Bell e William Phelan, obrigaram o carro a
encostar. Ser preso,
mesmo por violação do regulamento do tráfego, era uma coisa que Eddie não podia sofrer. Tentou subornar os policiais, o
que foi um erro, pois fez William Phelan ir ao café
da esquina e telefonar ao distrito. – Há qualquer
coisa esquisita neste negócio – disse Phelan ao
colega, antes de partir. Vigie esse sujeito. Não tem boa cara. Logo que Phelan partiu no carro da polícia, Eddie
perdeu a cabeça, Pôs a moça fora do carro, sacou uma arma, e obrigou Bell a
entrar. – Vá guiando –
ordenou – e depressa! Este foi o
segundo erro. A moça,
gritando que um polícia tinha sido raptado, chamou a atenção de outro,
Lawrence Murphy, que partiu velozmente em perseguição, na sua motocicleta. Eddie percebeu então que tinha avançado muito para
recuar. As balas da sua mortífera pistola abateram Murphy. Bell soltou o
volante e atracou-se com o homem ao seu lado. Eddie
disparou contra ele, depois saltou do carro e começou a correr. Murphy, embora
mortalmente ferido, levantou-se e disparou contra o fugitivo. O homem
cambaleou, porém não caiu. Um instante depois tinha desaparecido. Uma vez mais
estava livre. Mas… O tiro de
Murphy tinha-o atingido nas costas. A bala alojara-se numa vértebra do
pescoço. Havia nela as marcas balísticas que a identificariam como disparada
pela arma de Murphy. Durante dias
ficou de cama no seu esconderijo, tratado empiricamente e servido por um
homem com quem travara amizade na prisão. O ferimento o atormentava e em vez
de sarar, estava dando sinais de infecção. Eddie viu-se pela primeira vez, numa situação contra a
qual nada podia fazer. Pior do que isso, encontrou-se nas portas de um dilema
como poucas pessoas se têm encontrado. Se mandasse extrair a bala por um
médico, a polícia saberia e a bala condená-lo-ia à cadeira eléctrica. Se não a mandasse extrair, morreria de infecção. Ainda
permanecia indeciso quando a polícia invadiu o seu esconderijo. Mesmo no
leito do hospital da prisão, delirando de febre, ele não tomou uma resolução.
E a lei não podia intervir. Em Massachussetts
nenhuma pessoa encarcerada pode ser submetida a uma operação sem seu próprio
consentimento. Somente quando
percebeu que ia morrer cedeu. Uma rápida intervenção cirúrgica salvou-lhe a
vida. E a mesma operação revelou a bala de Murphy e condenou-o à morte. M.
Constantino In Policiário de
Bolso,
20 de Março de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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