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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 85 EFEMÉRIDES – Dia 25 de Março Lionel Black (1910-1980) – Dudley Raymond Barker nasce em Londres,
Inglaterra. Jornalista, repórter e editor, escreve sob os
pseudónimos Anthony Matthews e Lionel Black, este utilizado nos livros policiários. Escreve 17
romances deste género literário, o primeiro publicado em 1960 A Provincial Crime. Cria as séries Emma Greaves Mystery (3 títulos), Kate Theobald Mystery (7 títulos) e
Superintendente Francis Foy (3 títulos). TEMA – PEQUENAS GRANDES JÓIAS DO CONTO O HÓSPEDE – De Lúcio Mendonça (1854-1909),
jornalista e escritor brasileiro. Ele aí está,
que o diga o Oliveira, aquele rapagão de bigode louro e olhar azul, que
viajou como caixeiro de cobranças, "cometa", e hoje é repórter. Por
sinal que foi a última viagem de cobrança que fez, e de tão horrorizado mudou
de vida e profissão. Foi ele mesmo quem me referiu o caso. Aqui o dou pelo
custo, sem nada meu. Ao cair de uma
tarde chuvosa de Março, chegava o cobrador, extenuado e faminto, a uma
vendola à beira da estrada, da longa estrada fastidiosa, pelos campos, que
vai de Alfenas ao Machado, no sul de Minas. Junto à venda
havia a casa de morada, pequena, tosca e suja, dum velho casal português, que
ali se fixara e vendia os produtos da pequena lavoura, cultivada nas suas
terrinhas, e os furtos trazidos à noite pelos escravos da vizinhança. Pousada, não
era costume dar-se ali; Alfenas ficava a uma légua, e os donos da casa diziam
despachadamente que aquilo não era hospedaria. Mas, com o Oliveira, o caso
era especial: trazia já as suas oito léguas bem puxadas e uma fome de
carrapato, e depois, com tanta carga de água, não havia meio de continuar
viagem. Pediu pousada e ceia, pagando eu – acrescentou. – Ceia,
arranja-se-lhe – disse o Zé Manuel, o taverneiro velho; lá a cama é que está
mais difícil, que não recebemos hóspedes para dormir. E com o olhar
consultava a mulher, a mulheraça, anafada e pachorrenta, aboborada para
dentro do balcão. – Não, por
isso não seja – opinou ela; dá-se-lhe o quarto do Jequim. – Bem lembrado
– concordou o vendeiro; – temos ali assim um quarto agora desocupado, que é o
de nosso rapaz, que anda por fora; lá para o Carmo do Rio Claro; tem cama e
colchão, que é o preciso para dormir… Se lhe serve… – Serve, serve
– aceitou logo o Oliveira. – E dêem-me alguma coisa que se coma; estou morto
de fome! Enquanto se punha
a janta, desarretou a besta, guardou os arreios no
quarto que lhe destinaram, contíguo à saleta da frente e com janela para a
estrada; levou o animal ao pasto, um pastinho fechado, muito perto; e voltou
para cuidar de si. Antes, porém,
de sentar-se à mesa, onde já fumegava o feijão com couves e a canjiquinha,
pediu que lhe trouxessem uma peneira. – Uma peneira! Ora essa! – É cá para
uma precisão! Trouxeram-lha,
e ele então sacou do bolso das calças um maço de dinheiro em papel, uma
bolada de notas húmidas da chuva que apanhara, e estendeu pelo crivo da
taquara as cédulas grandes, de duzentos, de cem, de cinquenta mil réis, uma
boa meia dúzia de contos. Passou a peneira para a ponta da mesa a que não
chegava a toalha, e entrou a servir-se da ceia no prato de louça azul, com a
colher de ferro. Ao levar à
boca uma colherada, surpreendeu à porta da saleta o olhar aceso com que lhe
comiam o estendal das notas, a velha portuguesa, que o servia, e o marido,
que entrava com uma garrafa de vinho. Tão cobiçoso
era o olhar de ambos, que coou na alma do rapaz um frio de medo e um clarão
de pressentimento. Logo, ali mesmo, resolveu acautelar-se, arrependido da imprudência
de ter mostrado tanto dinheiro. Acabando de
cear, declarou que muito cedo, ao romper do dia, seguia para Alfenas, e por
isso deixava paga a hospedagem; deram-lhe a boa-noite e recolheu, com uma
vela de sebo, ao quarto do Joaquim. Mal se viu só,
tratou de ajuntar as notas que espalhara na peneira, tornou a enfiá-las no
bolso, e apenas a casa sossegou em silêncio, ali por volta da meia-noite,
saltou pela janela com os arreios e a mala à cabeça, foi ao pastinho fechado,
selou a besta e tocou para a cidade, ao belo clarão da lua que despontava. Nem bem se
perdera ao longe o estrupido da besta que levava o cobrador, quando novo
tropel de animal soou no terreiro da venda; era outro cavaleiro, que saltou
do lombilho abaixo e em três tempos desarreou o cavalo em que veio e com um
chupão nos beiços apinhados tocou-o para o campo. – Diacho! A minha janela aberta! – murmurou
consigo. – Melhor! Entro sem precisar bater e acordar os velhos a esta hora. E,
agarrando-se com o braço direito ao peitoril da janela, saltou para dentro,
levando na outra o lombilho, o baixeiro e o freio, e logo tornou a fechar a
janela, que o frio não era graça. À alta
madrugada, quando começava a amiudar o canto dos galos, dois vultos,
cautelosos, sorrateiros, surdiram do interior da saleta da frente; um deles,
o mais alto impeliu de manso a porta, apenas cerrada, e penetrou no quarto. Da cama, ao
fundo, ouvia-se a respiração compassada e forte de um bom sono ferrado.
Aproximou-se o vulto, guiado pelo resfolegar do que dormia e pela ténue
claridade que vinha da saleta, onde o outro vulto, agachado e trémulo,
sustentava e velava com a mão encarquilhada um candeeiro de azeite. Súbito, no
silêncio da habitação, soaram, soturnas, repetidas, machadadas rápidas, uma,
duas, três, muitas, regulares a princípio depois desatinadas. – Anda! Traz a
luz! – estertorou uma voz estrangulada. Entrou no
quarto o outro vulto, a velha gorda, com a candeia acesa. Apenas a luz
bateu na cama, numa horrível massa de roupas e carnes ensangüentadas,
dois gritos sufocados misturaram o seu horror: – O Jequim!!! – O filho!! O meu rapaz!! Fora, na
estrada deserta, voejavam os bacuraus, como almas penadas. M.
Constantino In Policiário de
Bolso,
25 de Março de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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