|
|||||
(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 84 EFEMÉRIDES – Dia 24 de Março John K. Butler (1908-1964) –
Nasce em San Francisco, Califórnia, EUA. Autor de dezenas de contos
publicados entre 1935 e 1942 nas revistas Black Mask, Detective Fiction Weekly, Double Detective e
especialmente Dime Detective.
Os seus personagens mais conhecidos são: Steve Midnight
taxista em Los Angeles, Rex Lonergan detective da polícia, Tricky Enright um policia à paisana e Rod
Case investigador da General Pacific Telephone Company. Butler é ainda conhecido como um dos mais prolíficos
argumentistas de filmes da classe B, westerns,
mistério e suspense. Na década de 50 muda-se para a televisão onde escreve
para as séries The New Adventures
of Charlie Chan, The Adventures of Dr. Fu Manchu e 77 Sunset
Strip, a primeira série de detectives privados na
televisão, exibida entre 1958 e 1964. Donald Hamilton (1916-2006) – Donald Bengtsson Hamilton nasce
em Uppsala, Suécia e emigra em 1924 para os EUA. É escritor e fotografo a
tempo inteiro, começa a carreira literária em 1946 em revistas de ficção e em
1947 publica o primeiro livro Date With Darkness, um romance
de espionagem. No campo da literatura policiária escreve um total 27 romances
de detective/espionagem. O seu personagem mais
conhecido é Matt Helm, um
assassino profissional com o nome de código Eric, que trabalha para uma
agência governamental e mata sem remorsos é muito mais pragmático e
implacável do que o colega britânico, o famoso James Bond.
Os romances desta série, The Retaliators (1976) e The Terrorizers (1977) são nomeados para o
Edgar Award para Best Paperback em 1977 e 1978. Lene Kaaberbøl (1960) – Nasce
em Copenhaga, Dinamarca. A autora pertence a nova vaga de escritores
escandinavos de policiário, embora seja mais conhecida internacionalmente
pelos seus livros de fantasia passados na Idade Média e destinados a jovens.
Em parceria com Agnete Friis
escreve o thriller Drengen
I Kufferten / Boy In The Suitcase (2008) proposto para o Glass
Key Award, um prémio
sueco que distingue anualmente o melhor romance de crime escrito por um autor
nórdico. TEMA – ENIGMA POLICIÁRIO DE TRAJECTÓRIA Este tipo de
enigma tem muitas afinidades com a investigação e técnica policiais
correntes. A direcção ou trajectória,
ponto material no seu movimento ou linha descrita ou percorrida por um corpo
em movimento, revela de imediato, e na generalidade dos casos, os x e y
correspondentes ao arremesso e impacto investigados, corrigidas naturalmente,
as perturbações ou desvios ocasionais a que houver lugar. Em balística,
diz-se trajectória, à curva descrita pelo centro de
gravidade de um projéctil no seu movimento de
transladação através da atmosfera. Tem o seu ponto de origem a boca da arma e
o limite ou termo, o ponto atingido. Dos caprichos
de uma trajectória de um projéctil
nos dá conta um texto mundialmente conhecido, Mostly
Murder, de Sir Sidney Smith, professor de Medicina
Legal da Universidade de Edimburgo É evidente
que, para um estudo profundo em matéria de balística remetemos os
interessados para os vários compêndios existentes, para os efeitos da problemística lembramos, tão só, das vantagens em fixar
pontos de movimento. Também a altura do agente que origina a trajectória, a distância e a posição em relação ao
atingido, quando não a instantânea identificação daquele, são os resultados
extraídos da observação da trajectória. ENIGMA
PRÁTICO UM CASO SINGULAR – De GUSTAVO JOSÉ RODRIGUES in
Quem Foi? (1959) O meu carro
seguia em marcha moderada, o mesmo acontecendo com os dois veículos que me
precediam — um carro baixo, de linhas aerodinâmicas e um camião de mudanças;
que dir-se-ia absorver com a sua altura o carro da frente. A meu lado, o inspector Machado criava uma atmosfera alegre com as suas
curiosas observações. De súbito
virei a cara, espantado, para a direita, onde, no passeio, um homem alto e
bem vestido, que seguia na mesma direcção do
automóvel, depois de dar duas voltas sobre si mesmo, caiu redondo por terra,
como que fulminado. Instintivamente, e logo que o inspector
Machado se apeou lesto, ao mesmo tempo que me dizia para seguir os outros
dois carros. Assim fiz; e se depressa alcancei o camião, já o mesmo não
aconteceu com o outro veículo que, mais veloz que o meu, cada vez se
distanciava mais. A certa altura começou a abrandar e eu pude, então, ver a
matrícula. Anotei-a rapidamente, sob a do camião, e voltei a grande
velocidade para o local do acidente. O inspector Machado, rodeado de alguns curiosos, poucos,
pois a rua era pouco concorrida, debruçava-se sobre um corpo, assim como um
polícia de giro. Aproximei-me.
Da cabeça da vítima o sangue brotava abundantemente. Indisposto com
tão triste espectáculo, afastei-me um pouco. As
janelas das casas próximas eram todas altas e não tinham persianas – o género
de habitações antigas. Começava a sentir-me um pouco melhor quando o inspector me fez um sinal e se encaminhou para o
automóvel. Entrámos e afastámo-nos do local em silêncio. Naquele
instante passavam alguns peões? – perguntei ao inspector, mal nos acercámos do edifício policial. – Sim. Um que
seguia um pouco atrás do pobre homem e que se preparava para o ultrapassar. – Viu-o? –
Absolutamente. Seguia colado à parede, pois o passeio é bastante estreito. No
outro não reparei porque ia muito à frente, quase no outro extremo da rua. Entretanto,
tínhamos chegado ao gabinete do inspector. Ali,
depois de atirar o casaco para uma poltrona, o polícia perguntou-me: – E por que
esperas, meu rapaz? Tomaste conta da ocorrência? – Claro – disse
eu, ligeiramente perturbado. – Aguardemos, porém, o relatório médico. Decorrida
quase uma hora, uma ordenança entrou no gabinete, portadora do relatório pelo
qual eu tanto ansiava. O inspector leu-o rapidamente. Finda a leitura, acendeu um
cigarro e pôs-se a passear de um lado para o outro. – Toma, meu
rapaz. – disse, estendendo-me o relatório. – É
fácil, mesmo muito fácil. A bala alojou-se à direita, junto à sutura do
parietal com o temporal. Foi disparada à distância de quatro a seis metros. A
sua trajectória fez-se na oblíqua ascendente. Não tive
necessidade de ler o relatório, O meu amigo inspector
poupara-nos esse trabalho. Na verdade, o caso era fácil. – Exacto – disse o inspector,
após ter escutado as minhas deduções. Exacto… Quem matou?
Pense um pouco. TEMA – HUMOR EM LOUVOR DO MÉTODO DEDUTIVO Felix da Picota, um dos grandes do Policiário dos anos
50, honrou-nos com uma paródia dos excessos de confiança de Sherlock Holmes. Li uma vez,
num romance policiário, uma coisa que me fez rir: o detective
tinha, deduzido que tal personagem era procedente da Escócia porque tinha
reparado numa pequena mancha de lama seca, cor de rosa
ou com tons violáceos, na dobra da calça… Ninguém poderá negar que Sherlock Holmes tem muito disto, e é aí que reside o seu maior
mérito. Mas agora encontro-me em condições de provar, com uma experiência
pessoal, o valor e a eficácia do método dedutivo. Foi um livro,
cujo nome esqueci, que me deu o gosto de experimentar. Encontrei-me, assim,
em frente a um par de sapatos, analisando-os. As pasmosas conclusões a que
cheguei – afirmo-o – são absolutamente verdadeiras, nos seus mais pequenos pormenores. A primeira
dedução que fiz poderá parecer irrisória a qualquer espírito menos prevenido
mas revela de forma inequívoca o método seguido: o dono dos sapatos era um
homem, porque aquele era um par de sapatos para homem! Tinha de altura
precisamente 1,74 metros, e pesava 72,300 kg. Era pessoa remediada, porque
tinha podido comprar aqueles sapatos — se já os tivesse pago, é claro. E era
desleixado, sem personalidade e sem a mínima percentagem de bom gosto, porque
os sapatos eram impossíveis, duma cor impossível, e estavam sujos e por
engraxar... Trabalhava num escritório, porque a sola interior estava colada
com cola tudo. E era patriota, porque a cola--tudo era nacional. Chamava-se
Epaminondas (na realidade, só uma pessoa chamada Epaminondas era capaz de
comprar sapatos como aqueles). Tinha 43 anos e três meses, e era casado: o
cabedal da parte superior estava riscado, com marcas que só podiam ter sido
feitas por uma vassoura de varrer a casa. E era casado com uma morena, porque
encontrei, caído sobre um dos sapatos, um longo cabelo loiro. Tinha um calo
no pé esquerdo, no sítio em que vi, pela parte de dentro, uma reentrância.
Não usava o tónico capilar “Foi um ar que lhe deu”, porque o exame
microscópico revelou a presença de caspa caída nos sapatos, e só tem caspa
quem não usa o tónico capilar. “Foi um ar que lhe deu”… Outros objectos que encontrei dentro dos sapatos (um pequeno
seixo, uma ferradura, uma luva de boxe, um bilhete de carro eléctrico e fragmentos duma caneta esferográfica)
conduziram-me às seguintes conclusões: o nosso homem era gago, supersticioso,
de espírito prático mas acanhado, e com o sistema nervoso avariado. Ainda
desta vez exporei a maneira como cheguei a tais resultados: 1) Gago – em
virtude do seixo; lembremo-nos de Demóstenes e de como curou a sua gaguez; 2)
Supersticioso – por causa da ferradura (diga-se, em abono da verdade, que se
tratava duma pequena miniatura em latão; 3) De espírito
prático – a luva de boxe estava desenhada num bocado dum jornal, que ele
tinha a tapar uma fenda do sapato; 4) Acanhado – hábito,
ou defeito, que adquire toda a gente que anda de carro eléctrico. 5) Sistema
nervoso avariado – caneta esferográfica… e não é preciso dizer mais nada! Direi ainda
alguns outros resultados a que cheguei, embora omita o processo dedutivo, que
é sempre o mesmo, por me parecer que apresentei já exemplos em número
suficiente. Insisto, porém, em que as minhas conclusões, embora possam
surpreender pelo inesperado, são absolutamente verdadeiras. Assim, soube que
ele morava num 5º andar com elevador; que o porteiro do prédio se chamava
Baptista; que tinha um tio rico na Venezuela, dono duma fábrica de pavios
para velas e que não havia meio de morrer; que nas horas vagas se dedicava a
fazer escritas por fora; e, para finalizar por agora (se relatasse toda a
minha observação, nunca mais acabaria), a mais estranha e incompreensível de
todas as deduções no género, jamais feita por um ser humano: o nosso homem
tinha espirrado três vezes seguidas, em dia e hora que fixei rigorosamente,
na sala de jantar de 2ª classe de um navio para o Brasil, com escala pelo
Funchal, onde ele desceu para visitar um primo que estava com a varicela e
que lhe pagou a passagem! Aqui fica uma
ligeira amostra do muito que se pode conseguir empregando simplesmente um
pouco de dedução e raciocínio. É com entusiasmo que recomendo a toda a gente
este método. E oxalá a minha experiência desperte a curiosidade do leitor.
Você, que me está a ler, analise hoje mesmo um par de sapatos. Verá as
admiráveis mas verdadeiras conclusões a que chega. Principalmente
se pegar nos seus próprios sapatos, que foi o que eu fiz! M.
Constantino In Policiário de
Bolso,
24 de Março de 2012
|
||||
© DANIEL FALCÃO |
|||||
|
|