|
|||||
(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 94 EFEMÉRIDES – Dia 3 de Abril Reginald Hill (1936-2012) – Reginald Charles Hill nasce em West Hartlepool, Country Durham, Inglaterra.
Escritor
policiário criador dos detectives Andrew Dalziel, Peter Pascoe e Edgar Wield,
publica o primeiro livro em 1970, A Clubbable Woman, que inicia
a série Dalziel e Pascoe, um conjunto de 24
romances adaptados pela BBC à televisão. Escreve sob o seu nome, ou com os
pseudónimos literários Dick Morland
e Charles Underhilla a série Joesixsmith
– com 5 títulos, 15 romances policiários e 3 livros de short stories. Entre 1971 e 1991, sob o pseudónimo Patrick Ruell, publica 6 thillers. Este
autor é nomeado para o Edgar Award, Best Novel com Bones and Silence em 1991 e para
o prestigiado Anthony Award Best
Novel com On Beulah Height, em 1999; os dois livros pertencem à série Dalziel e Pascoe, que lhe dá também, em 1990, o Gold Dagger. Reginald Hill recebe
ainda em 1995 o prémio mais ambicionado pelos escritores policiários, o
Cartier Diamond Dagger Award,
atribuído pela Crime Writers Association
aos autores que ao longo da vida, contribuíram de forma notável para este
género literário. TEMA – SOCIEDADE POLÍCIA DE FICÇÃO, BOM; POLÍCIA REAL, MAU… O título
supra, encerra um conceito vulgarizado, se bem que sem unanimidade ou nem
sequer maioria. A verdade é que desde o aparecimento do primeiro investigador
privado – polícia amador – criado por Edgar Poe em 1941 seguido mais tarde
por outros autores criadores de vários tipos de polícias amadores e oficiais.
Estes têm fascinado os leitores do mundo inteiro, milhões de pessoas de todas
as classes e credos, deliciam-se, compartilhando as dificuldades, fracassos e
êxitos dos personagens investigadores, procurando por conta própria ajudar ou
tentar desvendar os mistérios, em plena cumplicidade, admirando a habilidade
e inteligência ficcionada. Em
contrapartida, muito pouco se tem escrito sobre os polícias e investigadores
da vida real. De ordinário – a surpresa das surpresas – os nomes dos grandes
criminosos são a notícia e o livro para o grande público, enquanto os homens
que os investigaram e detiveram, arriscando por vezes a própria vida e a dos
seus familiares, quedam obscuros nas páginas da história. São notícia quando
protestam, mesmo quando cumprem um dever. O papel do
polícia, desde a simples vigilância, à protecção da
sociedade, ajuda humanitária, etc., revela-se um importante factor social. E não é fácil, nem digno de estima, por
vezes estar ao lado da lei. Por vezes,
quando o polícia se sente desamparado reage negativamente “a quente”. É
natural, como no caso que apresentamos em seguida. Por volta do
final dos anos oitenta, exercia funções em Santarém. Uma vez por semana, ou
de quinze em quinze dias, ia almoçar a um restaurante chinês – uma amizade
que havia estabelecido – existente por detrás do mercado municipal. Junto ao
portão principal um cego, com uma caixa de cartão, pedia esmola. Num rápido
movimento, um jovem de cerca de 25/30 anos, acerca-se, limpa a caixa das
moedas e põe-se em fuga em direcção ao tribunal.
Tão rápido, surgiu um agente policial que numa corrida apanha o ladrão. Este
debate-se para se soltar. Junta-se uma pequena multidão que ajuda o raptor,
mesmo sem ter conhecimento do acontecido. A autoridade, rodeada, acaba por
deixar escapar o detido, perante a zombaria do pequeno ajuntamento. Meses mais
tarde, passava de carro no mesmo local. Aí dois veículos haviam chocado: nada
de grave, apenas chapa batida. Desviei-me e segui caminho mas, quase a chegar
à rua do Jardim da República, vi um polícia olhar para o acidente, virar-se e
escapulir do acontecido. Acelerei e ultrapassei-o disposto a interpelá-lo em
relação à sua atitude, porém, para meu espanto, reconheci o polícia do outro dia
e compreendi (mal!) a sua atitude de “gato escaldado”. Abanei a cabeça e
comentei em voz alta: “Isso é feio, sr. Guarda!”.
Continuei, mas não estava satisfeito pela sua atitude e até pela minha, pelo
que logo que consegui voltei para trás, mas não vi o polícia. Prossegui,
passei pelo local do “acidente” e lá estava ele de apito a ordenar o
trânsito. Certo! Certo! Não mais
voltei a ver o polícia, com o tempo duvido que o reconhecesse, guardei para
mim o que lhe queria dizer: “ Meu caro, uma andorinha, não faz a Primavera.
Espero que compreenda, uma pequena multidão pode ser desagradável, mas nunca
representa a Sociedade em si. TEMA – CASOS E ACASOS DO CRIME CRIME MISTERIOSO Uma manhã, a
senhora Payne dirigiu-se à garagem da sua
residência, pôs o automóvel a funcionar e partiu para o seu passeio matutino
que realizava todos os dias. Madame Payne, pois
este era o apelido de seu marido, um advogado muito conhecido em Amarillo, encontrava-se adoentada desde há dias e o seu
médico aconselhou-a a dar todas as manhãs um passeio de automóvel até ao
campo. Naquela manhã, o automóvel, depois de ter percorrido dois quilómetros,
foi pelos ares, autenticamente feito em estilhas. A automobilista, como é de
supor ficou horrorosamente esfacelada A polícia, que
logo foi chamada a intervir verificou, sem dificuldade, que tinha havido uma
explosão de dinamite no automóvel. Pelo mistério que envolvia o acontecimento
e pela categoria da vítima, hábeis agentes empregaram o melhor da sua argúcia
para a descoberta do caso. Passaram-se semanas sem que alguma coisa de
concreto fosse revelada. E, por isso, perante o fracasso das investigações,
fora praticado um crime perfeito. Diz o repórter
A. Mac Donald, que desvendou o mistério. Adquiri todos
os jornais que falavam do caso e fiz constar que novo detective
tinha chegado para proceder a investigações. Nessa qualidade dirigi-me à
vivenda do advogado Payne, porque entendi que devia
falar com ele antes de proceder a qualquer trabalho. Recebeu-me amavelmente e
relatou-me a tragédia num tom de frieza que me surpreendeu. A sua voz não
tinha emoção. A certa altura, disse-me: “Fomos uns esposos modelos, nunca
tivemos um incidente, como o podem testemunhar os nossos vizinhos”. E era
verdade. Perguntei-lhe qual era a importância em que sua esposa estava segura
e respondeu-me que não era coisa extraordinária. O velho refrain da polícia francesa, “Cherchez
la femme”, girava na minha imaginação. Por isso
ouvi a empregada Verona Thompson que, perante a
minha insistência, declarou para minha surpresa que o patrão preparara o
assassínio da mulher. O Sr. Payne na sede da polícia não se fez rogado. – Como
preparou a morte se sua esposa? – Antes disso
retorquiu o sr. Payne –
pergunto: serão capazes de o adivinhar? O seu sangue
frio surpreendeu-me. Cada um dos presentes formulou uma hipotese
e ele ria, ria ao verificar que ninguém acertava. E contou com toda a calma. – Principiei
por lhe aplicar, nos alimentos, uma porção de veneno, mas isso não deu
resultado. Depois, tentei asfixiá-la com o gás e, durante seis horas, deixei
o fluído livre no seu quarto. Também não deu resultado. Abandonei essa ideia
e tentei outro processo. Um dia coloquei, com um dispositivo especial um
revolver na porta do quarto, para que, ao abri-la, a arma se disparasse e a
bala atingisse. Nem assim. Farto de tanta tentativa, comprei três petardos de
dinamite, que uni a um detonador. Na noite antes da morte, coloquei-os
debaixo do assento dianteiro do automóvel, com uma mecha embebida em álcool
cuja combustão calculei duraria dez horas antes que a chama chegasse à
dinamite. Na manhã seguinte minha mulher levantou-se e foi dar o seu passeio
habitual. A minha suposição falhou um pouco. Supus que a explosão se desse a
maior distância da minha casa. Porque resolveu matar sua mulher? – Ainda o
pergunta? Por causa da outra mulher. M.
Constantino In Policiário de
Bolso,
3 de Abril de 2012
|
||||
© DANIEL FALCÃO |
|||||
|
|