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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 99 EFEMÉRIDES – Dia 8 de Abril Baynard Kendrick (1894-1977) – Baynard Hardwick Kendrick nasce em Filadelfia,
EUA. Advogado, a partir de 1931 escreve contos para revistas; em 1932
dedica-se em exclusivo à escrita e publica o primeiro romance Blood On Lake Louisa em 1934. O
autor é conhecido pela série Duncan Maclain, um detective privado
cego que conta com a família e dois cães pastores alemães para investigar
crimes de homicídio; a série tem 14 livros editados entre 1937 e 1961 e é a
base para o argumento de 2 filmes. Baynard Kendrick escreve também a série Miles Standish
Rice, com 3 títulos e ainda mais 7 livros policiários do sub
género Quem matou?. Sob o pseudónimo Richard Hayward publica 2 livros: Trapped (1952) e The Soft Arms of Death (1955). Baynard Kendrick é um dos fundadores do Mystery
Writers of America e em 1967 é galardoado com The
Grand Master Award, a
maior distinção atribuída a um escritor policiário por esta organização. Héléna André (1919-1972) – Nasce em Narbone,
Aude, França. Autor maldito, esquecido pelos seus
contemporâneos e durante muito tempo subestimado. No entanto é um dos
escritores mais prolíficos com uma extensa produção na área do romance negro.
Durante a sua carreira de 30 anos publica mais de 200 livros. Traduzido nos
EUA e Alemanha é considerado nestes países como um dos criadores do romance
Polar — o equivalente em língua francesa do policiário negro americano. Héléna André desmultiplica-se em pseudónimos: Andy Helen
para a série Ennie Murolas;
Buddy Wesson, Patricia Wellwood e Terry Crane para a série La Môme Murielle; Mauren Sullivan e Kathy Woodfield para as
histórias de La Môme Patricia
e Miss Cyclone; Robert Tachet
para a série Le Gars Blankie; e Noël Vexin na série do advogado Valentin Roussel.
Usa ainda os seguintes pseudónimos: Alex Cadourcy,
Andy Ellen, C. Cailleaux, Clark
Corrados, Herbert Smally,
Jean Zerbibe, Joseph Benoist,
Lemmy West, Peter Colombo, Sznolock
Lazslo e Trehall. Com o
seu nome publica um conjunto de romance negro sob o título genérico Les Compangnons du Destin e cria o seu
personagem mais famoso L’Aristo (ver TEMA) com 16
livros publicados. Em Portugal estão editados alguns títulos com assinatura
André Héléna (4 e 5) e todos os restantes sob o
pseudónimo Noël Vexin. 1 – Os Amigos
da Família (1960), Nº2 Colecção Mocho, Agência
Portuguesa de Revistas. Título Original: Ces Messieurs De La Famille
(1956) 2 – O Jogador (1961), Nº10 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de Revistas. Título
Original: Le Flambeur
(1958) 3 – O Segredo de Ursula
(1961), Nº12 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de
Revistas. Título Original: (?) 4 – Proibição de Permanência (1961), Nº15 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de Revistas. Título
Original: Interdit de Séjour
(1956) 5 – Em Fuga (1962), Nº24 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de Revistas. Título
Original: (?) 6 – Os Vagabundos de Nossa Senhora de Paris
(1962), Nº26 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de
Revistas. Título Original: Les Cloches de Notre-Dame
(1956) 7 – O Mistério do Ouro Desaparecido
(1962), Nº27 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de
Revistas. Título Original: Une Affaire En Or
(1958) 8 – A Taberna do Cais (1962), Nº38 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de Revistas. Título
Original: Le Bar de l'Ecluse
(1957) Ursula Curtiss (1923-1984) –
Ursula Reilly Curtiss nasce em Yonkers, New York, EUA numa família de escritores policiários. A
mãe Helen Reilly (1821-1962), o tio James Kieran e a irmã Mary McMullen
dedicam-se à escrita deste género literário. A autora escreve 22 trillers,
muitas vezes com elementos góticos e finais surpreendentes. Os seus contos
estão reunidos em The House on Plymouth Street (1985). O romance policiário mais
conhecido da escritora é The Forbidden Garden (1962),
que também foi editado com o título Whatever Happened to Aunt Alice? TEMA – CONTO DO VIGÁRIO HOTEL AVIZ – De Fernando Saldanha Seriam cerca
das 21 horas quando um imponente Buick negro se
deteve junto à estrada do Hotel Aviz. O porteiro
apressou-se a abrir a porta de trás dando saída a um cavalheiro de 45 a 50 anos,
alto e bem parecido, de aspecto
distinto. – Muito boa
noite, senhor. – Boa noite –
disse o recém-chegado em tom de polida delicadeza. E depois acrescentou
dirigindo-se ao motorista: – António, venha buscar-me às 10! Quando o
magnífico automóvel se afastou, o cavalheiro estendeu uma nota de cinquenta
escudos ao porteiro, que se curvou deferentemente: – Muito
obrigado, senhor… – Proprietário
V… – Muito
obrigado, senhor Proprietário V…! O novo cliente
atribuiu generosamente igual gratificação ao recepcionista,
paquete, ascensorista e criado de quarto. E durante dois dias seguidos,
pontualmente, sem uma excepção, Proprietário V…
continuou a distribuir a mesma gratificação a todos os empregados que o
serviam. Tanto bastou para o tornar popularíssimo entre o pessoal. Na manhã do
terceiro dia, Proprietário V… dirigiu-se pessoalmente à recepção. – Estou à
espera de três visitantes. Dois senhores que devem chegar esta manhã e outro
que deve vir de tarde. Quando se apresentarem gostaria que os fizesse
conduzir imediatamente aos meus aposentos. – Sim, senhor
Proprietário V… Não haverá demora alguma! O hóspede
rapou da habitual nota de cinquenta e depô-la nas mãos do funcionário. – Ah! Já me
esquecia! Deve vir também o meu médico particular. Se este ainda se encontrar
nos meus aposentos quando o último visitante chegar, fará o favor de
comunicar comigo pelo telefone a fim de lhe dizer quando deverá mandar subir. – Sim, senhor. – Mais um
pedido. – Faz favor,
senhor Proprietário V… Faz favor! – Se houver
necessidade de me telefonar, faça favor de falar em inglês, pois que o último
cavalheiro que espero é dessa nacionalidade e seria indelicado… – Oh! Mas com
certeza, senhor Proprietário V… Com toda a certeza! Pode ficar inteiramente
descansado. O primeiro
visitante era um homem de estatura mediana, elegantemente vestido e de porte
distinto. – Desejava
falar com o senhor Proprietário V… – disse ele. O recepcionista pediu para aguardar um momento, chamou um
paquete e mandou acompanhar o visitante, sendo gratificado com uma nota de
vinte escudos. A segunda
visita, homem dos seus quarenta anos, de aspecto
respeitável, apresentou-se pouco depois. – Faz favor:
pretendia falar com o Proprietário. – Como? Ah! Ao
senhor Proprietário V…? – Sim, sim… – Certamente,
senhor. É só um momento… – disse o recepcionista
enquanto chamava de novo o paquete. Desta vez a
gratificação foi apenas de dez escudos. Proprietário
V… mandou servir almoço para três nos seus aposentos, dando ao criado a
infalível gorjeta. Cerca das 15
horas chegou um cavalheiro A cena
repetiu-se, mas desta vez não houve gorjeta. O quarto
visitante apresentou-se uma hora depois com uma pequena mala de viagem. Muito
magro, alto e louro, com óculos de grossas lentes, o recém-vindo não deixava
dúvidas quanto à sua nacionalidade. – Boa tarde –
disse em inglês correctíssimo. E acrescentou com
aquela singela economia de vocabulário que caracteriza todo o bom súbdito de
sua graciosa Majestade Isabel I: – Desejo falar
com Proprietário. – Muito boa
tarde, senhor – respondeu o recepcionista também em
inglês – Um momento, faz obséquio. O senhor Proprietário V… está com o seu
médico particular. Vou anunciá-lo imediatamente. – Sim, sim… Depois de
ligar para os aposentos de Proprietário V…, o recepcionista
mandou subir o ilustre visitante. As excelentes instalações do hotel e as
atenções que o pessoal dispensou ao recém-chegado pareciam encantá-lo e ele
entrou radiante nos aposentos de V…, cruzando-se com um homem de maleta na
mão que vinha a sair. – Que
lamentável! – disse o visitante para o aprumado
funcionário que o recebeu. – Esta
arreliadora doença! Esperava que a transacção
pudesse realizar-se ainda hoje, pois necessito deslocar-me sem demora ao
Líbano a fim de adquirir uma cadeia de hotéis… Que pena! Provavelmente
perderei o avião... – Não haverá
certamente impedimento – disse o jovem funcionário polidamente. – O senhor V…
espera que não se importe de ser recebido no quarto. – Claro! De
maneira alguma! v e irrompeu resolutamente pelo
quarto onde se encontrava Proprietário V…, muito enfiado entre almofadas e
cobertores, assistido por um criado de fardamento impecável. – Boas tardes.
Que contratempo! – ia dizendo o visitante em tom
contrito. – Espero que não seja nada de cuidado. – Muito
prazer, senhor Butler – disse Proprietário V… em
voz sumida e dolorosa, apertando a mão que o outro estendia. Esta maldita
gripe! E logo no dia da sua chegada! As minhas desculpas. – Não tem
importância. O contrato está pronto? – Só precisa
ser assinado – respondeu V… Seguidamente, voltando-se de modo achacado para o
jovem funcionário, ordenou: – Traga-me a pasta de couro que está no gabinete
da administração. – Excelente. Óptimo! – comentava o inglês
enquanto consultava um volumoso maço de documentos que o funcionário retirara
da pasta que fora buscar. — Como vamos nós arranjar para ir ao notário? O
avião parte às 20 horas –
Imediatamente – disse V… – Queira ter a bondade de aguardar um momento na
sala. Cinco dias
depois, quando Proprietário V… há muito abandonara o Hotel, o pessoal ficou
surpreendido com o insólito procedimento de um tal senhor Butler,
súbdito inglês recentemente chegado do Líbano, que declarara ruidosa e
categoricamente ser o novo administrador do hotel e pretendia que este tinha
sido por ele comprado – e pago em genuínas libras – em nome da London National Company, Inc., directamente ao
proprietário V… Só nessa
altura o pessoal deu conta da singular coincidência do cliente que distribuía
notas de cinquenta escudos se chamar V… – como o verdadeiro proprietário do
hotel. Mas o mais trágico era que o senhor Bulter,
com tocante simplicidade e a maior compostura, afirmava ainda que V… lhe
conseguira obter, a peso de boas e sonantes libras do Banco de Inglaterra, um
contrato de aluguer do Arco da Rua Augusta para lá montar um grande anúncio
luminoso do hotel. – Que tremenda
patifaria! – comentou indignado o Chefe Sequeira, da
Polícia Judiciária, quando foi encarregado do caso. – Ora esta, esta!
Instalar um cartaz publicitário no Arco da Rua Augusta! TEMA – UM CRIMINOSO INCOMUM L’ARISTO, O ÉMULO DE LUPIN Aristo é um
ladrão cavalheiro na linha de Arsène Lupin, mas um Arsène Lupin um pouco degradado, mais parecendo uma versão
caricatural por causa do calão e da linguagem vulgar utilizada
deliberadamente por André Héléna. A Série Aristo
foi publicada pela Editions de la Flamme d'Or de 1953 a 1955. Mas deixemos
ao próprio autor o trabalho de nos apresentar o seu personagem num texto da
contra capa dos seus livros: Aristo
apresenta-vos os melhores cumprimentos e tem o prazer de anunciar que tomou a
decisão de contar as suas façanhas mais marcantes ao velho amigo André Héléna, que as irá pôr preto no branco, com uma bela capa
a cores da autoria de Jef de Wulf. O leitor verá Aristo aumentar a sua colecção de pinturas de grandes mestres e de livros
raros. Verá Aristo aplacar a miséria – de preferência com o dinheiro dos outros.
Verá Aristo chegar mesmo a tempo para arrebanhar de passagem os bens mal
adquiridos e dar-lhe um uso nobre e aristocrático, o que não o impede de ser
um barra em golpes duros – dar e receber – dar e levar pela medida grande. Mas também verá surgir sempre no momento crucial,
para lhe dar uma mão, Suplice, um matulão de
coração sensível. Há apenas um ser humano no mundo, que nem a um
nem a outro poderá levar a melhor, é a sedutora, a terna, a apaixonada e
ferozmente ciumenta Martine, a amiga de Aristo Cada volume da série tem uma das aventuras de
Aristo, Suplice e Martine,
mas é uma história completa. A biografia de André Héléna
assinala que o escritor aos 17 anos foi assistente de Diamant-Berger
no filme Arsène Lupin Détective. De Arsène Lupin a Aristo, uma boa
persistência… M.
Constantino In Policiário de
Bolso,
8 de Abril de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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