|
|||||
(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 98 EFEMÉRIDES – Dia 7 de Abril Stephano Vignaroli (1959) – Nasce
em Jesi, Itália. Veterinário de profissão é um
apaixonado por animais, jazz, pela montanha e, nos últimos anos, pela
escrita. Publica o primeiro livro Delitti Esoterici (2011) seguido de Misteri di Villa Brandi
(Janeiro 2012). A protagonista dos dois romances é a Commissario
Caterina Ruggeri, responsável pelo Destacamento Cinotécnico do Aeroporto de Ancona. O autor considera o
género dos seus livros sui generis:
policiário/thriller negro com muitas divagações de fantasia e de ficção
científica. TEMA – TERROR SOBRENATURAL FANTASMAS Na literatura
de terror o efeito arrepio é, em regra, proporcionado pelo sobrenatural,
protagonizado por uma horrível dança macabra de arquétipos estranhos que,
apesar do realismo científico e cultural, ainda faz parte do subconsciente
humano, depositário eterno da herança do primitivismo, quando o homem se
encontra com o aterrador e com o desconhecido potencialmente hostil, com o
insólito e o mistério. Da longa e
horrível galeria, apresentam-se os Fantasmas, os quais desde sempre têm a
primazia. Há-os das mais diversas classes e procedências, infinitas raças e
famílias, porém o modelo é o fantasma invisível, que se limita a manifestar a
sua presença, gemendo, abrindo e fechando portas, mudando a posição de móveis
e objectos ou, ruidosamente arrastando correntes a
que estão aguiolhados. Deste tipo são os veneráveis
habitantes dos castelos da Escócia e da Inglaterra vitoriana, dir-se-ia mesmo
que o fantasma faz parte da valorização do local. Ainda há poucos dias o The Sun noticiava que a Mansão
que a cantora Adele adquirira no Essex era povoado
por um incomodativo fantasma, a rivalizar com a ultra
famosa Dama de Branco que ainda assombra o quotidiano londrino e se
internacionaliza. Armaduras ocas que se movimentam, jovem de longos cabelos
loucos que levanta o véu e revela a caveira terrificante, ou esqueleto sem
cabeça, ancião morto há mais de cem anos que teima em ocupar uma janela e
nunca se encontra, luminosidade perseguidora etc. No entanto também existem
fantasmas de bom coração e que aparecem somente à família para lamentar a
saída prematura para outra vida. Para tornar o
assunto mais tenebroso, a ciência, como é regra, em dúvida vê-se forçada a
expor o domínio do invisível. Os materialistas mantêm que a matéria é tudo, que
tudo começa e acaba com ela. A parte contrária responde com a razoabilidade
de se reconhecer que a matéria e espírito são dois estados diferentes da
mesma substância. A matéria vai-se com a morte do corpo, o espírito faz parte
do outro mundo, cuja existência, mesmo na simples hipótese, a nossa
subconsciência regista num plano de possíveis realidades. TEMA – LITERATURA A VALSA Numa noite de
gélido e distante Inverno, em volta da parreira, ouvíamos as histórias da Ti’Ana. Antecipadamente cientes do terror das narrativas,
como força estranha e irresistível, um frémito esquivo, que não é febre nem
frio, apodera-se-nos do corpo. Em perfeita lucidez, entretanto, vozes
fantasmagóricas, ininteligíveis, introduziam-se no chiar do vento provindo da
alta chaminé. A candeia de azeite mal cheiroso fumegava sombras mostrengas
desenhadas nas paredes deficientemente caiadas. Mal ousávamos
respirar. A velha,
delgada sombria, puxou o xaile negro para os ombros descaídos. O gato preto
de olhos cor de fogo, saltou com um miado de posse,
e foi anichar-se-lhe no colo! A mão esquelética de dedos incrivelmente
compridos acariciou o felino. Ti'Ana começou: – Vocês
conhecem muito bem aquela casa abandonada da Rua do Açude. O que talvez
desconheçam é que aquela moradia teve uma história… uma história terrível e
inacreditável. Fui moça e
bela há muito. Pois já nesse tempo os vizinhos contavam que ouviam, por vezes,
estranhas e indecifráveis vozes que pareciam originadas num complicado idioma
estrangeiro. Isso acontecia, invariavelmente, a altas horas da noite, ia-se
ver, não era ninguém… apenas o ranger da madeira velha, guinchos dos ratos
que infestavam as ruínas… Outrora aquela
casa, fora entretanto, um berço de amor! Um casal de
artistas austríacos, com um filhinho louro e belo, levados por uma
predestinação cruel, sabemo-lo agora, mandaram construir o edifício e nele se
instalaram felizes. A senhora,
esposa e mãe amantíssima, adoeceu, um dia, subitamente. Tuberculose. Vários médicos
foram consultados. Muitos lugares aconselhados foram percorridos na esperança
de se recuperar a saúde perdida. Não melhorando e reconhecendo que as poucas
economias desapareciam, pediu ela para voltar para casa. Apresentou então
melhoras incríveis e, embora cansada, pediu para tocar piano. O marido tentou
dissuadi-la, em vão. Sentou-se e iniciou a melódica execução da sua música predilecta – a Valsa da Meia-noite – mas, quando estava prestes
a terminar, teve uma hemoptise, falecendo pouco depois. O corpo foi a
enterrar coberto de violetas, última homenagem do inconsolável esposo. Precisamente
um mês depois o artista acordou ao som da Valsa da Meia-noite. Correu para a
sala e viu nitidamente o vulto da esposa tocando: um esqueleto cujos cones
fétidos começavam a soltar-se. Um horrível cheiro de podridão e violetas
pairava no ar. – Venho buscar
o meu filho, disse o espectro, e desapareceu. Terríveis
gritos vieram então do quarto do garoto, para o qual o artista correu
apavorado. O menino, de braços erguidos, numa contracção
muscular anormal e inexplicável, como se procurasse o corpo da mãe, estava
morto. No ar, mais
uma vez, o odor de podridão e violetas. Um mês depois,
sentado ao lado do piano, como se apreciasse a execução da doce melodia, o
homem foi encontrado morto. Encurtando
caminho, passei pela vivenda. Tomara-se-me a vontade um anseio de não
acreditar ante o reflexo supersticioso de ser obrigado a reconhecer. Nada vi até
chegar à desconjuntada porta. Depois… a luz de uma vela desceu do primeiro
andar ao rés-do-chão e das ruínas… Saiu o som da Valsa da Meia-Noite… M.
Constantino In Policiário de
Bolso,
7 de Abril de 2012
|
||||
© DANIEL FALCÃO |
|||||
|
|