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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 111 EFEMÉRIDES – Dia 20 de Abril 1841 – The Murders In The Rue Morgue é publicado pela primeira vez na Graham’s Magazine, uma revista literária de Filadélfia. The Murders In The Rue Morgue de Eggar Allan Poe é um marco na
literatura policiária actual e é um dos exemplos
mais famosos de mistério em quarto
fechado. A investigação de um duplo assassínio na Rua Morgue em Paris é
um desafio para Auguste Dupin que investiga o crime
e também para o leitor. TEMA – O PERSONAGEM C. AUGUSTE DUPIN Assinada por
Edgar Allan Poe, numa novela intitulada The Murders in the Rue Morgue aparece pela
primeira vez aquele que havia de ser considerado como o primeiro detective da Era Moderna, pai e fundador da enorme
dinastia de investigadores de todas as classes: C. Auguste Dupin. Dupin pertencia a uma excelente e ilustre, mas
arruinada família, devido a uma série de acontecimentos desastrosos. Vivia,
deste modo, com rigorosa economia, reduzido que estava às rendas de um
pequeno património que a benevolência dos credores lhe deixara. Havia, aliás,
perdido todo o interesse em reconstruir a fortuna perdida, e alheara – se,
igualmente, da vida social. A atracção pelos livros proporcionara o encontro, num
gabinete de leitura da rua Montmartre com aquele
que viria a ser seu amigo e biógrafo-narrador. Vivia (viviam
os dois) numa casa retirada e solitária, quase em ruínas, nos arredores de
Saint-Germain, mais exactamente
na rua Dunot, 33-3º da cidade de Paris, que o
referenciado narrador se encarregaria de arrendar e mobilar, em completa
reclusão, quais loucos inofensivos, quebrada por um ou outro dos raros
visitantes. Era um homem
de modos distraídos por vezes glaciais, olhos fitando o vazio, uma rica voz
de tenor, talvez um tanto petulante, cujas originalidades, compartilhadas
voluntariamente com o já citado amigo, correspondiam a: – Uma rara
paixão pela leitura; – Um estranho
prazer pela escuridão: de dia fechavam as janelas da casa e à luz débil de
duas velas perfumadas, liam e conversavam; de noite saíam e, de braço dado,
passeavam pelas ruas da cidade: Rua C, passagem Lamartine, Bairro Saint-Roche, margens do Sena, etc.; – Uma
extraordinária aptidão analítica, que exercia com verdadeira delícia;
afirmava mesmo, com um risinho desabrochado que as pessoas tinham, por ele,
uma janela no coração; – Consumado
poder de observação. As suas
máximas sobre o poder de observação podiam, na verdade, constituir o prólogo
de um manual sobre a matéria: – Observar
atentamente, e lembrar distintamente; – Pela maneira
de levantar uma vaga, se adivinha se a pessoa pode fazer outra; – O embaraço,
a excitação, a vivacidade, a trepidação são sintomas ou diagnóstico; – Percepção instintiva que explicava um estado. Os super poderes de observação e análise fazem dele um
investigador nato. Basta-lhe a leitura dos jornais, ou escutar o relato de
algumas testemunhas, para que o seu cérebro super
privilegiado ex traia conclusões exactas. Curiosamente,
Auguste Dupin não tem uma opinião muito lisonjeira
sobre a Polícia. Critica: Vidoc era bom para adivinhar: era um homem de
paciência, mas não estando o seu pensamento suficientemente educado, fazia
constantemente caminho errado, devido ao próprio ardor das suas
investigações. Diminuía a força da visão por fitar o objecto
de muito perto. Podia ver talvez um ou dois pontos com uma nitidez singular
mas, devido ao seu processo, perdia o aspecto do
caso tomado no seu conjunto. Na presença do
Sr.G., o perfeito da Polícia de Paris, e aludindo a
esta diz: A Policia parisiense, tão elogiada pela sua
penetração, é muito astuciosa, nada mais. Procede sem método. Os seus agentes
são perseverantes engenhosos, espertos e possuem a fundo todos os
conhecimentos que as suas funções especialmente requerem, mas apenas vêem as suas ideias, quando calha aparecer um malfeitor
especial, cuja finura difere em espécie da sua, naturalmente, 'leva-os".No máximo, quando estão incitados por algum
caso insólito, por alguma recompensa extraordinária, exageram e espremem-se o
mais que podem em velhas rotinas, mas em nada alteram os seus princípios. A primeira
exibição de Dupin manifesta-se em Os Crimes da Rua Morgue, quando
passeava com o seu amigo -narrador. Aqui tem ocasião de aplicar os seus
métodos de raciocínio operando por conjunturas que invariavelmente resultam.
A Polícia, a mesma Polícia que ele critica, sente-se impotente para resolver
os mistérios que tem ante os seus olhos e pede a sua colaboração. No caso de A Carta Roubada revela os seus dotes
de conhecimento da natureza e psicologia humanas. Ali, o ladrão era
conhecido; o roubo, uma carta; era necessário saber onde o ladrão escondera
essa carta de valor político inestimável e reavê-la. Dupin
consegue-o. Em O Mistério de Maria Roget,
as perfeitas deduções de Dupin revelam o autor do
crime recorrendo, para tanto e só, à leitura de recortes de jornais. Pouco mais se sabe sobre Charles-Auguste Dupin, o cavalheiro do Bairro de Saint-Germain. A aparência
física, e outras, quedam subjugadas ao deslumbramento da sua mente. Ocupa, sem
dúvida, por direito e mérito próprio, o primeiro lugar da mitologia dos
grandes detectives da narrativa policiaria. Os seus
seguidores apropriaram-se dos métodos e qualidades de Dupin,
adaptando-as segundo as conveniências, superando-as até, como é natural – é
mais fácil desenvolver e melhorar do que criar – contudo, DUPIN é o
primeiríssimo. TEMA – CONTO UM ROUBO DE 60 MINUTOS De Joaquim Paulo Aqui e agora,
levanto a minha voz, porque me considero escandalosamente espoliado e, por
isso, vítima de um verdadeiro crime. E se fui lesado, acho que tenho o
direito de apresentar o meu protesto, e de, veementemente, clamar por
justiça. Desde o momento em que qualquer coisa me é dada, é lógico que se torna,
logo, pertença insofismável e plena, da minha vida e dos meus sentimentos. É
meu! E o que é meu, meu é! Quem mo tirar, rouba. É ladrão. Pratica um crime
de lesa integridade do indivíduo e, por isso, tem de ser chamado à
responsabilidade. Tem de ser, num mínimo, rotulado de ladrão. E se, por
qualquer habilidoso artifício de fuga à justiça dos homens, o culpado não
sofrer o castigo devido, podem crer que, na altura do Julgamento Final,
sofrerá de certeza o pavor de um horrendo trambolhão até às profundezas dos
infernos. E é muito bem feito! Sinto-me
deveras revoltado e não posso deixar de desabafar. Desabafo que tem, repito,
uma forte razão de ser: eu fui lesado! Fui roubado e não me vou calar! E
mais. Talvez, todos vocês, ainda não tenham pensado nisso, mas podem crer que
foram também escandalosamente roubados! Façam bem as vossas contas e digam
se, quando pela mudança da hora, ao adiantarem o relógio, não foram roubados
de uma saborosa hora de sono. Sabem bem o que é andar durante uma caterva de
tempo a ressonar deliciosamente, confortavelmente ciente de que essa
“horinha” é um mimo de bom sono e, de repente, zás, ser-se espoliado em 60
minutos, restando somente o aborrecido desespero de uma noite mal dormida?!
Devem concordar que é muito chato! Contudo, ainda há quem barafuste dizendo
que não é bem assim, que-mais-isto-mais-aquilo! A esses, limito-me a
considerá-los como os já conhecidos “cães que ladram mas a caravana passa”. Bem no íntimo,
será ponto assente que todo este arrazoado não deva passar de lábia barata! Isto, porque já me vou fartando de bocejar
de raiva por me roubarem essa querida hora, mas já me vou fartando de bocejar
de tédio, porque me sinto, sem proveito algum, obrigado a reler o que por
delírio meu, ficou tristemente escrito… M.
Constantino In Policiário de
Bolso,
20 de Abril de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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