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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 112 EFEMÉRIDES – Dia 21 de Abril Basil Thomson (1861-1939) – Basil Home Thomson nasce em Oxford, Inglaterra. Administrador nas colónias britânicas, governador
na prisão de Dartmoor, diplomata, chefe do CID da Scotland Yard, director dos Intelligence Service, é também
um autor prolífico. Escreve sobre diversos temas, incluindo memórias, justiça
criminal e policiários. Publica The Story of Scotland Yard e cria duas séries: Peter Graham e
Superintendent Richardson. Pouco antes de morrer escreve e publica a sua
autobiografia, The Scene Changes. TEMA – ENIGMA POLICIÁRIO SOLUÇÃO Está em atraso
a solução do problema publicado no CALEIDOSCÓPIO
104, um enigma de classe ou espécie tipo psicológico. Aqui vai. Face à
explicação anteriormente dada sobre a condução do sistema a resposta é fácil. Observando o
quadro, poderá verificar-se que em relação à resposta 7, Juvenal reagiu,
sinal de que conhecia Amorim, não manifestando qualquer reconhecimento às
palavras de estímulo, Gago e Gazua. O mesmo não aconteceu com Lúcio, e a
palavra Gago apanhou-o de surpresa, pelo que não respondeu, reagindo
igualmente, às palavras Amorim e Gazua, às quais não deixou de responder,
embora cautelosamente, denunciado pelo tempo anormal. Posto perante
os factos, Lúcio acabou por confessar, tendo sido condenado posteriormente. O sistema prende-se com o íntimo culposo do
suspeito, sobrecarregado com um conjunto de sensações, emoções,
reconhecimentos anteriores, raciocínios, decisões, com certeza tormentos de
toda a ordem. – As provas
expostas advêm da interpretação e aproveitamento das reacções
anómalas. – A prova
psicológica por sintomas aflora permanentemente os estados emotivos. A pequena
história, que vamos colocar á atenção dos leitores, ilustra sobejamente o
exposto. Constava-se
que um jovem ambicioso procurou certo mago para que este lhe revelasse o
segredo de fabricar ouro. O mago acedeu
aos seus desejos, forneceu-lhe a lista dos ingredientes necessários e uma
fórmula para invocar o poder do inferno que havia de ajudá-lo a obter o
precioso metal. Advertiu-o, não obstante, que para conseguir o resultado, era
absolutamente indispensável abster-se de pensar em
rinocerontes. O jovem de
pronto respondeu que isso não constituía dificuldade alguma e que jamais lhe
ocorria pensar no designado animal. Poucos dias
passados voltou de novo à presença do mago manifestando a impossibilidade de
evitar de pensar em rinocerontes cada vez que pretendia fabricar ouro. Voltando à
realidade e comparando as motivações: Tal como na
psique do jovem ambicioso se mantinha a lembrança do animal que pretendia
esquecer, na psique do autor de um delito oculta-se, latente, o sentimento da
falta. O delinquente
inevitavelmente, tarde ou cedo, inadvertidamente revela a culpabilidade na
contingência de lhe ser impossível deixar de pensar em tudo aquilo que se
relacione com delito cometido. Um outro tipo de problema psicológico, aquele que
de resto mais se coaduna com a arte da problemística,
é o que abaixo se exemplifica. Devemos, porém, advertir o leitor, que tem
sido classificado como verdadeiro plágio. E, o que é mais curioso, parece igualmente ter sido plagiado enquanto conto, pois
temos duas versões assinadas por autores diferentes, contos que não
resistimos em dar a conhecer. Devemos
referir que, quanto ao enigma que se segue, não é crime usar o mesmo tema
enroupado com novas situações, nomes etc., desde que escrito com habilidade é
perfeitamente aceitável, salvo se for para apresentar em concurso de produção
que, com todo o respeito, só devem ser admitidos enigmas ou problemas
perfeitamente inéditos. Sabe-se que uma das características do bom
solucionista é guardar ideias de casos porque passou, encontrando uma ideia
já usada: fica em vantagem sobre os restantes concorrentes. No que diz
respeito à produção, o uso de uma ideia alheia, parece-nos pouco ético, pelo
menos. E vamos ao
problema. TEMA – ENIGMA POLICIÁRIO PRÁTICO CULPADO OU INOCENTE? De Marco Paulo O Repórter
Barbosa, da revista Dedução, ocupou o lugar que lhe estava reservado na
plataforma da Imprensa, e circunvagou o olhar pela ampla sala do Tribunal,
repleto dum público heterogéneo e interessado que aguardava com a mais viva
impaciência o início de mais uma sessão a última – do caso Philip Roche. A sentença ia ser
lida nesse dia e por isso a expectativa era enorme. O advogado de
defesa começou: – Senhores
jurados! Como sabem, passei todas as audiências ouvindo, enquanto o vosso
promotor público tudo tentou para apertar o laço em torno da garganta do meu
constituinte. Todavia, como
viram, não foi apresentada uma única testemunha ocular dos cinco crimes
atribuídos ao acusado. Não houve quem tivesse encontrado, pelo menos, uma
unha ou cabelo das mulheres desaparecidas. O promotor público baseou a sua
acusação em provas circunstanciais – algumas palavras captadas aqui ou ali,
um botão além e algum sapato mais adiante… Isto é o que
consta no processo contra Philip Roche – que vós julgais um segundo Jack. Lembrai-vos,
porém, de que coleccionar sapatos não constitui
crime. Em obediência à Lei não poderei condenar o meu constituinte, a não ser
que estejais convencidos – sem qualquer dúvida – de ele ser o assassino. O famoso
advogado fez uma pausa. O Repórter Barbosa anotava nos mais pequenos pormenores todos os passos da brilhante
intervenção do defensor de Philip Roche. Este, sentado no compartimento reservado aos réus,
tinha a cabeça mergulhada entre as mãos grossas e compridas, parecendo
alheado de tudo o que o rodeava. O advogado fitou os jurados, um por um. As suas
últimas palavras pareciam ainda ressoar de modo agitado em toda a sala. Toda
a gente estava suspensa do seu discurso. – Asseguro-vos
de que duvidais – murmurou. – Muito embora não estejais cônscios da vossa
dúvida. Não há dúvida
nenhuma! – bradou apopléctica
uma das testemunhas, precisamente a irmã de uma das cinco jovens
desaparecidas. O juiz
interveio, impondo silêncio. O advogado
prosseguiu: – Se uma das
mulheres, de cuja morte estais tão certos, entrasse neste Tribunal, qual
seria a vossa reacção? Continuaríeis positivamente
convencidos de que as outras quatro estavam mortas? Continuaríeis ainda
certos de que não há dúvida? A emoção
apoderara-se de todos. O orador levantou, então, vagarosamente o braço e
apontou para os fundos do Tribunal, na direcção da
porta cinzenta: – Senhores
jurados – exclamou – peço-vos que olheis para aquela porta! As respirações
foram contidas e centenas de olhos se fixaram no ponto indicado. Os
estenógrafos deixaram de escrever. Ninguém
escondia o seu nervosismo. Instantes se
passaram que pareceram durar uma eternidade. Depois, vendo
que o silêncio penetrara bem fundo na consciência de todos, o advogado
prosseguiu: – Perdoai o
haver renovado as vossas esperanças. Perdoai o haver lançado mão deste
recurso canhestro. NINGUÉM VAI SURGIR POR AQUELA PORTA! Mas a única pessoa
que tinha absoluta certeza disso no recinto deste Tribunal, ERA EU! Todos os
demais pensaram que uma das desaparecidas iria entrar aqui e por isso olhavam
aquela porta. Houve dúvida no espírito de todos… Senhores
jurados, se houve dúvida no vosso espírito, o vosso dever é absolver o
acusado. O genial
advogado sentou-se. O juiz
retirou-se para deliberar… O Repórter
Barbosa abandonou a sala por momentos respirando um pouco o ar fresco que
penetrava através dos corredores do majestoso edifício público. O seu espírito
também estava confuso, profundamente chocado com o que se havia passado. Fora
de facto extraordinária a defesa desenvolvida pelo advogado de Philip Roche. Admirara,
todavia, a aparente tranquilidade do réu, continuamente na mesma posição como
se nada tivesse a recear ou não medisse o alcance da responsabilidade que
pesava sobre si, transformada numa acusação horrível, deprimente, arrepiante… Puxou dum
cigarro e acendeu-o, extraindo breves fumaças. Reconstitui a
cena a que acabara de assistir, a luzente alocução do advogado de defesa, a
força dos jurados Qual seria a
sentença? Philip Roche seria
considerado culpado ou inocente? O Repórter
Barbosa concentrou-se ainda mais… A decisão só
poderia ser uma. De facto… Qual a
decisão? É a vez do leitor expor a sua ideia e… aguardar a solução. M.
Constantino In Policiário de
Bolso,
21 de Abril de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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