Publicação: “Audiência Grande Porto” Data: 1 de Novembro de 2017 Torneio Policiário 2017 Problemas
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TORNEIO
POLICIÁRIO 2017 SOLUÇÃO DO PROBLEMA Nº 8 UM COPO DE LEITE NOTURNO Autor: Ma(r)ta Hari Coitado
do guarda Abílio Necas! Ainda hoje deve andar por aí a pensar na resposta que
há de dar ao chefe. Mas se pensar um pouco melhor, focando-se mais na
interpretação das palavras proferidas pelo seu superior hierárquico do que no
caso propriamente dito, que deve ser com certeza fictício, chegará à
conclusão que a solução do enigma com que o chefe Machado Faria decidiu
testar a sua alegada vocação para a investigação criminal não é nada difícil.
O facto de Machado Faria se ter referido à pessoa que dormia com quem matou,
afirmando que “ele que se deitara muito mais cedo [do que ela], como era
aliás normal acontecer todos os dias”, revela que a autoria do crime é da
responsabilidade de uma mulher. E a única mulher que tinha por costume
deitar-se muito mais tarde do que o marido era Dália, que “ganhara o hábito
de escrevinhar durante a noite, até meio da madrugada, o que se tornara há
muito num vício”. Já
quanto à pessoa que encontrou “a vítima deitada numa poça de sangue com uma
faca espetada no peito”, se o guarda Abílio Necas atentar nas “obrigações
profissionais” que os quatro amigos levaram para aqueles dias de convívio na
Serra da Estrela, não deixando de as cumprir “de forma quase religiosa”,
verificará que “Carlos passava as primeiras horas de todas as manhãs agarrado
ao seu portátil”, de onde se poderá concluir que foi este quem se confrontou
com o funesto achado. Admitindo que podia ter sido Berta a primeira pessoa a
descer até ao piso inferior da casa, apesar de se saber que ela só tinha
obrigações profissionais a cumprir ao fim da manhã, importa recordar que o
chefe Machado Faria afirmou que foi “um dos amigos” que descobriu o corpo da
vítima. O que quererá dizer que foi um homem a fazê-lo e não uma mulher. Já se
sabe, portanto, quem descobriu o corpo da vítima e quem matou. Falta agora
saber quem morreu, para responder cabalmente à questão formulada pelo chefe
Machado Faria, sem esquecer que se deve ter em consideração “os elementos
conhecidos”. E, assim, conhecendo que se trata de um crime passional (um
crime praticado por paixão doentia, quando a pessoa perde o controle de suas
ações; um crime cometido por pessoa dominadora e sem o domínio de suas
emoções, que mata por ciúme, sentimento de traição ou vingança) e que todos
os intervenientes são heterossexuais, sabendo-se igualmente que quem matou
foi uma mulher, a vítima é um homem. E esse só pode ser António, que fora o
primeiro marido de Dália, cujo casamento se dissolvera seis anos antes, após
uma discussão por causa de um copo de leite morno noturno… António
“levantou-se durante a noite, desceu as escadas até ao piso inferior, onde se
situa a sala de estar, e deslocou-se à cozinha” para beber um copo de leite
morno. Instantes depois, Dália, que sabia deste seu “hábito que ganhara há
mais de seis anos”, interrompeu a escrita de mais um romance policial e,
talvez estimulada pela história que estava a desenvolver e pela paixão que
ainda nutria por ele, foi ao encontro do ex-marido e terá tentado seduzi-lo.
Não tendo sido bem-sucedida nesta sua investida, Dália, ao ser rejeitada,
terá tido um acesso de fúria que a fez perder a cabeça e desferir-lhe uma
facada no peito que lhe tirou a vida. António, apanhado de surpresa com tanta
agressividade da sua ex-mulher, não terá tido tempo para nada. Nem para se
defender. E muito menos para beber o copo de leite que arrefecia na cozinha.
Entretanto, no piso de cima, todos os restantes convivas dormiam e não
ouviram os gritos que antecederam o crime. |
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DANIEL FALCÃO |
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