DETECTIVE

Publicação:Detective

Data: 25 de Outubro de 1945

 

 

 

 

PROBLEMA POLICIÁRIO

 

O MISTÉRIO DA LETRA Z

Autor: Aguiar de Oliveira

 

Às 23 horas o conhecido industrial Arnaldo Silveira foi encontrado sem vida, tombado sobre a secretária do escritório da sua residência.

O doutor Macedo, velho amigo da família, chamado a toda a pressa, compareceu volvidos 10 minutos e, após um exame sumário, aconselhou a esposa do falecido e uns visitantes do casal, que se encontravam presentes, a reclamar o auxílio da polícia.

Decorrida meia hora o agente Eduardo Salgueiro dava começo às investigações. Apurou, assim, que nessa noite, como frequentes vezes sucedia, se tinham reunido em casa do industrial os seus antigos condiscípulos José Garcia e Álvaro Duarte e uma visita acidental, Fernando Lopes.

Tinham soado as 22 horas quando Arnaldo Silveira se retirou para o escritório, alegando urgência em rever um relatório referente ao movimento da sua importante de produtos químicos, convidando José Garcia para trocar com ele algumas impressões.

A reunião prosseguiu, iniciando-se, um quarto de hora depois, um jogo de cartas, já com a presença de José Garcia.

Quase às 23 horas Emília Silveira, a esposa do industrial, encaminhou-se para o escritório, a fim de procurar um livro que Álvaro Duarte lhe pedira.

Momentos passados os visitantes acorreram em sobressalto, atraídos por um grito estridente. Deparou-se-lhes o corpo de Arnaldo Silveira sentado à secretária, estando o tronco caído sobre o tampo. Os olhos vítreos fixavam-se, teimosamente, na mão direita. Aproximando-se notaram, com espanto, que os dedos encharcados na tinta derramada na secretária – pois os tinteiros estavam entornados – tinham desenhado, com perfeição, numa das folhas do volumoso relatório, um Z maiúsculo. Mais além um fino copo tombado continha algumas gotas de “whisky”.

Segundo declarações do médico, o industrial, nos últimos tempos, bebia desorientadamente, sem dúvida devido ao azar implacável que o vinha perseguindo nos negócios. Na sua opinião a morte fora motivada por envenenamento e ocorrera não havia mais de meia hora. O exame do corpo e o cheiro pronunciado do “whisky” que ficara no copo eram concludentes: empregara-se um veneno poderoso de efeitos instantâneos, dificílimo de obter e, normalmente, apenas conhecido dos médicos. O “whisky” contido no copo não acusava qualquer odor suspeito. É evidente que estas informações ficavam pendentes do resultado da autópsia e das análises do “whisky”.

Os peritos que acompanhavam o “detective” verificaram que as marcas digitais impressas no copo e no frasco pertenciam à vítima e a José Garcia.

Em face desta conclusão o investigador interrogou Garcia. Este apressou-se a explicar:

– É muito natural. Depois de trocarmos impressões acerca dos relatórios desfavoráveis da Companhia, o Arnaldo pediu-me que lhe chegasse o “whisky” que guardava num pequeno armário, conjuntamente com vários copos. Assim procedi.

– Serviu-se também de “whisky”?

– Não. Nunca bebo.

– Viu-o beber na sua presença?

– Ficou a bebericar quando o deixei.

Emília Silveira forneceu as explicações com uma calma extraordinária.

– Os criados estão fora de casa; eram-no já de meus pais. De resto não posso suspeitar de ninguém. José Garcia foi colega de meu marido no liceu e no curso de medicina onde estudaram juntos até trocarem a carreira de médico pela dos negócios. É recebido nesta casa sem a menor cerimónia, sendo considerado pessoa de família. Álvaro Duarte, também condiscípulo no liceu, fez-se professor. Visita-nos amiúde e estimamo-lo bastante. Quanto a Fernando Lopes passou connosco o serão acidentalmente. Efectuou diversos negócios com meu marido, tendo-me sido apresentado à meses.

Álvaro Duarte afirmou:

– É meu dever elucidá-lo. Não deixarei de lhe contar o que sei. Emília Silveira mantém relações com José Garcia. Todos o sabem. É possível que o pobre Silveira o ignorasse, sempre tão preocupado com a fábrica que ia de mal a pior, é possível que soubesse. Enquanto ele descia o José Garcia firmava uma belíssima posição comercial. É assim a vida.

A autópsia e as análises corroboraram as afirmações do médico e vieram dar certeza às deduções que o agente Salgueiro estabelecera.

Estava desvendado “O Mistério da letra Z”.

 

QUESTIONÁRIO:

1º – Os interrogados falaram verdade ou mentira? Porquê?

2º – O que teria levado Arnaldo a traçar a letra Z?

3º – Qual foi o primeiro indício que conduziu o “detective” ao esclarecimento do mistério? Porquê?

4º – Qual foi a solução do agente Salgueiro?

 

© DANIEL FALCÃO