Autor Data 20 de Dezembro de 2018 Secção Competição Prova nº 6 Publicação Audiência GP Grande Porto |
UM REGRESSO DO OUTRO LADO Abrótea Sempre gostei de acompanhar
as conversas de meu Pai, o “Velho inspetor Rick”. Mal imaginava eu que um dia
mais tarde seguir-lhe-ia as pisadas, apesar de estar a tirar um curso de
montador eletricista… Cadê isso?,
já não serve p’ra nada. Invariavelmente o “blá-blá” começava sempre pela noite de lua nova, com
chuva torrencial. Isto quando se juntavam todos os “velhos”, já com os pés
quase para a reforma. E como não me deixavam ir ao cinema ver “daqueles”
filmes, apenas acompanhava as conversas… mas fixava. Com estas recordações
aprendi, e posso dizer que aprendi muito, tanto que nem precisava de estudar,
só cabular (o que só por si já é estudar). E como recordar é “biber” vamos lá… Reunidos meu Pai, Smaluco, Mister Ioso e Flo, que grande POKER. Era eu “puto”, meu Pai,
claro, estava ainda para as curvas. Acabara de chegar de Angola. Em Lisboa,
como era de madrugada e sem transporte decidiu “dorminhar”
no aeroporto Sá Carneiro. Ele que nunca conseguia dormir em qualquer que fosse
o transporte. Mal tinha fechado os olhos, mesmo com os “ólicos”
para sonhar a cores, sentiu um abanão. Quase lhe saiu um palavrão e meio
estremunhado reconheceu o seu “velho amigo Artur” ou Sir Aldra
sénior. – Para aonde se dirige o
meu caro amigo Inspetor – pergunta Sir Aldra. – Não me dirijo, cheguei há
vinte minutos de Angola, e nem me deixas dormir c’a
porra (tradução literal) – resmungou. Entretanto meu Pai expunha
aos seus companheiros o resto da interessante conversa. – Que coincidência, também
cheguei agora de lá, mas se calhar numa outra companhia aérea. Cheguei faz
cinco minutos – respondeu Artur – detestei aquilo e tu? Só de viagem cinco
horas, dá para ficar com calos no rabo. – Bem, (acho que foi
precisamente o que respondeu meu Pai) eu fui lá tirar um curso, estive na
cidade, e ali vive-se noite e dia apesar de ser uma cidade cara, tens
mulheres frias, carros quentes e cervejas (cucas) rápidas. – Sabes, amigo Rick,
cheguei lá a 12 de Setembro, e daí a pouco era o feriado da nossa santa
terrinha, então saí de Lourenço Marques e, não sei como, dei comigo numa mata
cerrada. Mais tarde é que soube, e foi pelo meu filho que me mandou mensagem
no telélé, (já depois do feriado do Bocage, para
aqui também nem consegui ligação) que era a Mata do Maiombe. Já de noite, ali
perdido no meio do nada, só a lua brilhava, o céu com suas estrelas, eis que
cai uma daquelas trovoadas e uma tromba d’água como
só acontece nos países asiáticos. Valeu o luar, noite de lua nova, via
perfeitamente a nossa estrela guia, a Estrela Polar, foi assim que consegui… Imediatamente foi mandado
calar o Artur, mais conhecido por Sir Aldra, e com
razão. “Quais as gaffes cometidas
pelo Artur, e uma pelo menos pelo meu Velho”? |
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© DANIEL FALCÃO |
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