Autor Data 28 de Junho de 1979 Secção Mistério... Policiário [223] Competição Torneio
“Novos" e “Iniciados” 79 Problema nº 6 Publicação Mundo de Aventuras [299] |
O ROUBO A. Coelho Com desenhos
de Buck Danny Pouco
passava das quinze horas quando chamaram insistentemente o detective Gouveia pelo telefone. Era a «Baronesa»
Alexandrina, porque lhe tinham roubado todas as jóias.
Rapidamente
se fez deslocar a casa da «Baronesa» acompanhado por Jonas, seu ajudante.
Aquela, tremia e soluçava em cima das suas
septuagenárias pernas, cheias de varizes… Com
grande altivez, tentou explicar ao detective tão
estranho roubo: –
Por causa do meu reumatismo – começou ela na sua voz idosa mas audível –
tenho de tomar «aspirinas» de oito em oito horas. Assim, quando falto um
quarto para as três (ou quinze horas) vou à cozinha beber uma chávena de
leite quente antes de tomar os comprimidos; isto a conselho do médico –
esclareceu, à laia de parêntesis… – Fi-lo hoje como habitualmente, e quando
voltei à sala a gaveta da escrivaninha estava aberta, e as jóias que o meu falecido Albuquerque me ofereceu tinham
desaparecido… –
Onde costuma ter a chave da escrivaninha? – atalhou
o detective. –
Dentro desta caixa de música – retorquiu a velha dama, apontando para a caixa
virada – numa «gaveta secreta», junto com as chaves das portas de entrada… –
Alguém sabia da sua existência? – insistiu Gouveia. –
Todos. A criada, que está agora ausente por morte, de uma pessoa de família e
os meus três sobrinhos, o João, o António e o Alberto, que são, os únicos
familiares vivos que tenho. Entretanto,
alguém bate à porta do salão. –
Dá licença, chefe? – é _lonas. –
Com certeza – respondeu o detective. — Que temos
agora? –
Encontrei sinais de pegadas do lado de fora desta janela – disse Jonas,
apontando firmemente para uma janela aberta, no lado esquerdo do salão. –
Embora não se notem bem com nitidez, indicam, sem sombra de dúvida, ser de
uma pessoa adulto. –
Obrigado, Jonas. Se aparecer mais alguma coisa, avisa. Enquanto
o ajudante fechava a porta, Gouveia retomou o inquérito: –
A senhora costuma ter a janela aberta? –
Claro. Com este calor, uma pessoa não está bem em lado nenhum sem uma aragenzinha fresca –replicou a
«baronesa», abanando vagarosamente o seu leque. –
Costumo ter visitas? –
Desde a morte de meu marido, há dez anos, que vivo sozinha com a criado e o
meu «Tareco» – responde a idosa senhora, afastando gentilmente um siamês que
parecia não se incomodar muito e cada vez se enrolava mais nas pernas da «madame»… –Quanto a visitas, só os meus sobrinhos e por
isso deixo a porta de entrada só no trinco, durante o dia, para que, se algum
deles aparecer eu não tenha de ir abrira a porta, que ainda fica longe… e as
minhas pernas já não são as mesmos!... –
Quando estava na cozinha apercebeu-se de alguma coisa? –
Certamente – respondeu a «Baronesa» com convicção. – Nem cheguei a tomar os
comprimidos todos… Quando perguntei quem estava na sala e ninguém respondeu,
pensei que fosse o «Tareco» a fazer tropelias… mas quando me apercebi que o
gato estava enrolado sobre o capacho da cozinha, vim o mais depressa que pude
ver o que se passava… Contudo, foi tarde de mais… –
Só mais uma pergunta… Alguém sabe a que horas toma os comprimidos? –
Todos! – retorquiu a velha senhora. – A Maria e os
sobrinhos de que há pouco falei. Eles preocupam-se mais com a minha saúde do
que eu própria… –
Obrigado, D. Alexandrina. Pode ir descansar, que nós tratamos do resto. E
a tarde consumiu-se com investigações rotineiras. Só à noite é que Gouveia
conseguiu reunir os três sobrinhos e perguntar-lhes o que faziam e onde
estavam na hora do roubo das jóias. António
– Às 15 horas, eu estava na bicha para o cinema. Como sou desenhador e
trabalho por conta própria, estipulei que a quinta-feira seria o meu dia de
descanso, desde que não tivesse entrevistas marcadas. Por isso fui ao cinema.
Se quiser, posso mostrar-lhe o bilhete. Alberto
– Eu sou fotógrafo de publicações e às três horas estava no aeroporto
esperando um importante oficial americano. Por sorte, uma das fotografias que
tirei ao oficial apanhou o relógio do aeroporto… como pode verificar. É a que
sai nos jornais da manhã – e Aberto mostrou a fotografia ao detective. Gouveia
ficou elucidado quanto à veracidade do álibi de Alberto, pois tinha ouvido
falar, no gabinete, do oficial dos Estados Unidos que chegaria nesse dia a
Portugal. João
– Eu sou administrador de uma empresa fabril nos subúrbios. Como estamos com
graves problemas de produção na empresa eu não tenho saído da fábrica e chego
mesmo a trabalhar de noite para evitar que a unidade se arruine
por falta do cumprimento de contrato de fornecimento. Às três horas posso
precisar que me dirigia para o hospital. Minha mulher está muito doente e o
médico solicitou a minha presença. Realmente, passei a dois quarteirões
daqui, mas ia tão absorvido com os meus problemas que nem pensei na minha
tia. –
Obrigado a todos! Podem retirar-se – disse Gouveia, serenamente. Quando
saiu de casa da «Baronesa» já era noite cerrada. Comeu qualquer coisa no «snack» da esquina e foi para casa, pôr as ideias em ordem.
Mal
chegou ao apartamento atirou os sapatos para um canto, relaxou o nó da
gravata e deitou-se em cima da cama, completamente vestido. No
dia seguinte levantou-se preguiçosamente e preparou um pequeno-almoço
revigorante. Foi buscar o jornal, cortou-o ao meio e começou a ler,
calmamente, folha por folha, enquanto ia comendo o seu apetitoso dejejum. –
Pois claro… – conversou ele com os seus botões. – Nada mais simples! Logo já
trato daquele patife!... Dobrou
e guardou o jornal, estendeu as pernas e acabou de comer descansadamente…
Pois… o problema estava resolvido. 1
– Quem roubou as jóias da «Baronesa»? 2
– Exponha, completamente, o seu raciocínio. |
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© DANIEL FALCÃO |
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