Autor Data 16 de Janeiro de 2011 Secção Policiário [1017] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2011 Prova nº 1 (Parte II) Publicação Público |
SÃO PEDRO RESOLVE Al-Hain César
Murteira, comerciante de cortiça, dirigia-se para casa em Santa Catarina da
Fonte do Bispo quando, perto da saída da Via do Infante para Olhão, foi
embater nas alfaias de um tractor que, de recuo,
vinha saindo de um caminho vicinal. Murteira não se deslocava a grande
velocidade, mas o choque foi o suficiente para lhe tirar a vida. Não havia
testemunhas e o condutor do tractor fugiu do local. O
sargento Veríssimo, da GNR de Tavira foi destacado
para as primeiras investigações do acidente. De pergunta em pergunta, o
sargento descobriu quatro suspeitos. Eram eles: Tiago Fonseca, proprietário
do tractor envolvido no acidente, Jorge Patacão,
Firmino Viegas e Alfredo Bodião que trabalhavam normalmente com tractores. Porém, quando o sargento Veríssimo tinha o
caso quase deslindado teve que intervir nas operações para prender os
assaltantes de um banco. Foi baleado e depois de dias entre a vida e a morte
esta acabou por levar a melhor. Curiosamente, os suspeitos não sobreviveram
muito tempo ao sargento. Alguns dias depois, Tiago Fonseca foi colhido por um
tractor e não sobreviveu aos ferimentos. Alfredo
Bodião deslocou-se a Faro e no Rio Seco, ao atravessar a EN 125, foi
atropelado por um camião TIR. Jorge Patacão, que morava em Moncarapacho, uma
semana depois, num domingo, envolveu-se numa discussão numa taberna e foi
crivado de facadas. Por casualidade, nesse mesmo dia Firmino Viegas foi
acometido por um enfarte do miocárdio e chegou já cadáver ao hospital de
Faro. A
narrativa que se segue não posso garantir que seja real, pois eu não estava
presente para o confirmar. Quem me contou foi um amigo que por essa mesma
ocasião esteve entre cá e lá e teve oportunidade a assistir a tudo. Também
não sei se serei capaz de contar tudo com a riqueza de pormenores que o meu
amigo usou, mas vou tentar. Alguns
dias depois dos acontecimentos narrados anteriormente começaram a chegar os
espíritos de César Murteira, do sargento Veríssimo e dos suspeitos de terem
provocado a morte do primeiro. O lugar se não era o autêntico Paraíso, era
pelo menos paradisíaco. Era uma imensa planície verdejante, cortada aqui e
ali por ligeiras ondulações. Havia muitas e frondosas árvores cujo verde, de
vários tons, das folhas contrastava com o verde da relva. Também eram abundantes
os canteiros de flores maravilhosas e por todo o lado havia lagoas, fontes e
ribeiros rumorejantes. A luminosidade era intensa. Era um lugar de paz e
harmonia. Com
a chegada dos espíritos já referidos a paz foi quebrada, especialmente pelo
espírito de César Murteira que acusava os outros de serem responsáveis por
ele se encontrar ali. Apenas o espírito do sargento Veríssimo se conservava à
parte de todas as brigas, mas bem atento ao que se passava. Como
os brigões não havia meio de se acalmarem, dois dos chefes do lugar
apareceram por ali para se inteirarem do que se passava e para acalmarem os
ânimos. O meu amigo não podia garantir, mas disse-me que um dos dois chefões
era muito parecido com as imagens que na terra pintam de São Pedro e o outro
com as de São Paulo. Como os ânimos mesmo assim não acalmaram, o espírito de
Veríssimo pediu para falar em particular com os dois chefes, ao que estes
acederam. Veríssimo
contou o que se tinha passado na terra e deu pormenores das diligências que
tinha feito antes de ter sido baleado. Nos interrogatórios que havia
feito no dia seguinte ao acidente, Tiago Fonseca, proprietário do tractor que provocara o acidente, afirmou que tinha
estado alguns dias na Feira Nacional de Agricultura para ver umas máquinas e
tinha acabado de chegar naquele momento. Apresentou a factura
do hotel onde tinha ficado e os bilhetes do comboio entre Santarém e Lisboa e
de Lisboa a Faro, onde tinha chegado pouco depois das 13 horas. Não sabia
quem teria trabalhado com o tractor que provocou o
acidente. Aos
outros suspeitos, quando Veríssimo lhes perguntou o que haviam feito no dia
anterior, não falou no acidente com o tractor. Jorge
Patacão afirmou que no dia anterior não trabalhara e que passara o dia todo
em casa. Não tinha testemunhas, apenas a mulher. Por isso não tinha estado em
Santa Catarina da Fonte do Bispo nem tinha nada a ver com acidentes com tractores. Firmino
Viegas, quando interrogado, afirmou que no dia anterior tinha ido a Faro,
onde fizera uns exames, e a uma consulta com um cardiologista que lhe disse
que tinha o coração em muito mau estado pelo que devia ter muito cuidado.
Mostrou os recibos da consulta, que ainda tinha consigo. Alfredo
Bodião disse que não tinha ido trabalhar no dia anterior; fora logo pela
manhã com o tractor para Moncarapacho para o levar
a uma oficina de ferreiro para fazer a reparação dos formões do arado, que já
estavam muito rombas e tortas, e colocar uns reforças nas aivecas, que já
estavam muito gastas. Não tinha facturas porque
iria pagar no final do mês, mas a alfaia estava ali mesmo junto deles e o
sargento podia confirmar que o trabalho referido tinha sido feito havia pouco
tempo. A
mulher de Jorge Patacão afirmou que saíra de casa cedo, ainda não eram 6
horas, para ir trabalhar perto de Quelfes; o marido ainda ficara na cama e
quando voltou, eram já 19 horas, encontrou o marido a rachar lenha.
Veríssimo, que se tinha deslocado a Moncarapacho verificou que havia lenha
rachada recentemente, uns vinte ou trinta tarolos, na casa do suspeito. Quando
Veríssimo acabou o seu relato, São Paulo segredou algo ao ouvido de São Pedro
e este dirigindo-se ao espírito de um dos suspeitos disse: –
Tu mentiste, vais para baixo. Quem
teria sido ele? A
– Alfredo Bodião B
– Jorge Patacão C – Firmino Viegas D – Tiago Fonseca |
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© DANIEL FALCÃO |
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