Autor Data 1 de Agosto de 2022 Secção Publicação Blogue: Local do Crime |
CASTING PARA ADJUNTO DE BARBA NEGRA Anónimo O
velho e temível malfeitor Barba Negra, o mais bem-sucedido criminoso da
cidade, que tem amealhado ao longo das suas atividades à margem da lei um
pecúlio considerável em várias offshores,
escapando sempre às malhas da justiça, decidiu reunir três dos seus mais
fiéis cúmplices com o objetivo de nomear um deles como seu braço direito.
Para o efeito, escolheu um lugar insuspeito, onde ninguém os surpreendessem, num
sítio afastado da sua zona de ação habitual. Chico
da Nora, Tó Pijama e Zé da Mula, seus fiéis seguidores desde a primeira hora,
que o têm acompanhado em todos os planos por ele engendrados ao longo dos tempos,
não escondiam a sua ansiedade. Ocupar o lugar de braço direito de Barba Negra
era uma escalada sem precedentes na hierarquia do mundo do crime, que
granjearia grande respeitabilidade entre os pares e rendimentos de monta. E
nenhum deles desdenharia exercer tal função num futuro próximo. Na
chegada ao local do “casting”, os candidatos ao lugar de adjunto de Barba
Negra foram surpreendidos com um espaço completamente vazio, onde
pontificavam apenas três cadeiras dispostas em forma de triângulo, umas de
frente para as outras. Sobre elas, pendia um candeeiro que desenhava no chão
um círculo de luz intensa. Com ar muito sério, de maneira austera, o velho
malfeitor pediu aos seus homens que ocupassem as três cadeiras, dizendo-lhes
de seguida: –
Como sabem, a minha idade aconselha-me que escolha com brevidade um adjunto,
uma pessoa inteligente, perspicaz e criativa, que seja capaz de continuar o
meu trabalho quando tiver de abandonar a atividade. Embora esse dia ainda
esteja um pouco distante, acho que chegou a hora de escolher essa pessoa, que
passa a ser o meu braço direito já a partir de hoje. E essa pessoa será um de
vós. Por isso decidi criar um pequeno teste para garantir que faço a escolha
certa. Os
três subalternos favoritos de Barba Negra entreolharam-se, um pouco nervosos
e estupefactos, perante a estranha decisão do chefe, que apresentou de
seguida um saco de tecido negro e cinco cartões, dois pretos e três brancos,
passando de imediato a explicar como se processaria o teste por ele
engendrado. –
Dentro do saco negro vou colocar apenas três destes cinco cartões. E nenhum
de vocês saberá quais é que eu vou lá meter, porque todos estarão de olhos
bem vendados. Depois cada um de vocês vai tirar um cartão ao acaso e
encostarão esse cartão ao peito antes de tirar a venda. Última condição: só
poderão olhar para os cartões que calharem aos outros candidatos. E nunca
para o vosso. –
E qual é o objetivo do teste? – perguntou um deles. –
Adivinhar a cor do vosso cartão. –
Então temos acesso aos cartões que ficaram no teste? –
Claro que não. Isso tornaria o teste demasiado fácil – respondeu Barba Negra.
–
Isto não é um teste de inteligência, é um teste de sorte… – lamentou-se um
dos candidatos. –
Pelo contrário. E garanto-vos que vou torná-lo justo. Aqui ninguém tem mais
ou menos possibilidades de acertar. Usem a cabeça! – sentenciou
Barba Negra. Os
três candidatos, depois de alguma hesitação, acabaram por concordar e
participar no teste. Ser adjunto do velho malfeitor era muito tentador! Barba
Negra vendou-os a todos muito bem, meteu depois três dos cinco cartões dentro
do saco e deixou que cada um dos homens retirasse um dos cartões e o pusesse
à frente do peito sem olhar para ele. –
Já podem ver. Chico
da Nora, Tó Pijama e Zé da Mula tiraram as vendas e olharam para os cartões
dos companheiros. –
Muito bem. Têm cinco minutos para… –
Não é preciso – interrompeu um deles – Eu já sei a cor do meu cartão. –
Estás muito confiante. Então diz-me. O
homem explicou muito bem o seu raciocínio e acertou em cheio na cor do
cartão. Barba Negra sorriu e apertou-lhe a mão, com grande sorriso. –
Parabéns! Vais ser o meu adjunto. Na sua opinião, qual foi o raciocínio do futuro adjunto de Barba Negra
que o levou a concluir qual seria a cor do seu cartão? E, já agora, diga-nos
qual foi essa cor. |
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© DANIEL FALCÃO |
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