Autor Data 23 de Março de 1978 Secção Mistério... Policiário [158] Competição Problema nº 6 Publicação Mundo de Aventuras [234] |
RUBIS NA SAUNA… António Paulo Santos Ezequiel
Machado pousou a xícara, ideou um sorriso, ergueu-se, dirigindo a bengala e o
passo para o pátio onde o «Armstrong» de Costa Flor estacionara à sombra
perfumada do jardim colorido. Homem
jovial, alegria emoldurada, Flor fora o último dos convivas a volver ao
palacete de Machado. Balouçando o gelo de um bem «temperado» vermute, Manso
Marrazes, charuto tombado na boca sumida, gargalhava com as anedotas da
ressaca actual que parceirava com Sílvio Vicente, um gorducho balofo,
indigente de espírito. Ezequiel
parecia satisfeito, tinha conseguido reunir os três maiores amigos da
mocidade, companheiros de boémia e folia. Jamais seriam os mesmos… gostosos
anos 30!... Envelheceram, perderam aquela particular elasticidade
temperamental, mas mais preocupante era o facto de terem engordado. E de que
maneira! Marrazes referia com insistência o «desinteresse das moças de hoje
por Valentino»; os charlestons, os tangos e o furor louco de viver,
encobriam-se de poeira no sótão da memória, não sem salpicos nostálgicos. Ezequiel
Machado pretendia iniciá-los na arte de «emagrecer» e por isso propusera aos
«vencidos da vida» uma visita às suas recém-inauguradas instalações de sauna
privativa. A
sauna ocupava um pavilhão polivalente nas traseiras da mansão. Aberta a porta
de acesso, viram-se num pequeno cubículo, um vestiário de paredes escorreitas
e asseadas. As instalações eram diminutas, mas altamente confortáveis e
eficientes na opinião do anfitrião. Sito ao centro de uma das paredes
laterais, um espelha quadrangular, reflectia na sua superfície polida a
azáfama que reinava na outra, junto dos cabides. Ligado o aquecedor
eléctrico, três figuras caricatas de barrigas transbordantes, ingressaram na
sala de sauna. Sílvio ficara para trás, aquela confusão de atacadores embaraçava-o.
A sala de sauna desembocava do vestiário por intermédio de uma porta-janela,
que ocupava a largura do cubículo, encravada, pouco cedeu aos puxões de
Sílvio, ficando imóvel, apenas, com a abertura deixada pela barriga do
gorducho. Não fazia mal explicaram-lhe, com a porta que dava para o exterior
fechada, as condições ideais para o aquecimento do ar estavam postas. Três
horas volvidas, o ar quente e o cheiro a eucalipto, há pouco agradáveis,
tornaram-se insuportáveis; a névoa de calor pululava no pequeno salão sinuosa
e bailarina. Os ventiladores foram ligados com a potência máxima, e a sauna
foi dada por terminada. Os
quatro «iniciados» na arte do bem emagrecer, sentados num banco corrido, por
baixo dos cabides, arfavam, enxugando o suor aos atoalhados turcos. Marrazes
percorreu com o olhar o cubículo, e sorriu. Recordou os felizes momentos que
vivera na Tertúlia Policiária «Os Holmes de Alfama». Tornou a olhar de novo
pelo compartimento e virando-se paro os companheiros exclamou: –
Vamos fazer um exame policial!... Fechem os olhos e ouçam… Os
companheiros, boquiabertos, obedeceram, entusiasmados. –
Olhos fechados?... Bem… imaginem neste vestiário o Ezequiel, só, sentado,
aqui, neste banco, logo após uma sauna. Mirava aquele valioso anel de rubis,
que comprou há tempos, mas… Ezequiel não sabia que um dos seus amigos,
penetrara no vestiário, encapuçado e pronto para furtar o anel. Machado é
dominado e amarrado aos cabides, virado com a face para a parede, e de costas
para o ladrão. Na confusão, este perde e deixa cair o capuz, mas Ezequiel, de
costas, não reconheceria o criminoso. Só que o espelho na outra parede
permitiu ao nosso anfitrião, com um ligeiro inclinar de cabeça, reconhecer,
através dele, o larápio. Era… (aqui não se percebia o texto…). Agora vocês,
ainda com os olhos fechados, digam-me, que ao transportarem esse momento hipoteticamente
vivido por Ezequiel Machado, para a situação presente, tudo como está agora,
se notariam um erro, apenas, em relação à história que contei e o presente
momento? –
Ehl... Eu mesmo, inclinando-me não poderia reconhecer o ladrão, porque (de
novo texto ilegível…) – respondeu prontamente Ezequiel. E
então, todos desataram a rir. Tinha sido fácil e cómico. Vocês, leitores, não
julguem que Ezequiel não poderia ter sido amarrado aos cabides, posto de costas,
etc… nada disso! «Exame» feito por Marrazes não tem nada de impossível, só um
pormenor que evitaria Ezequiel de descobrir o ladrão. Agora,
respondam: 1
– Qual foi o tal «pormenor irónico»? 2
– Explique porquê? |
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© DANIEL FALCÃO |
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