Autor

A. Raposo

 

Data

6 de Abril de 1990

 

Secção

O Detective - Zona A-Team [95]

 

Competição

Torneio Sintimex

Problema nº 4-B

 

Publicação

Jornal de Almada

 

 

Ó IMAGINAÇÃO, A QUANTO OBRIGAS

A. Raposo

 

Lisboa, 8/5/89

Meu caro «O Gráfico». Os meus melhores cumprimentos. Eu sei que inventar problemas policiários não é fácil, mas não queria deixar em claro o pedido do confrade Constantino quando da entrega dos prémios da 2ª Supertaça. Assim, resolvi alinhar o meu, a que chamaria com um certo orgulho:

«Ó imaginação, a quanto obrigas»

Não é um problema que fique ao nível dos melhores produtores, mas quem dá o que pode, a mais não é obrigado.

Bem, mas vamos ao problema, que a carta já vai longa e eu gosto mais de problemas chatos que compridos.

A acção teve lugar há, exactamente, uma semana.

Estava eu, de pantufas, em casa, a tomar o cafezinho após o almoço eram perto das três da tarde, quando o meu telefone tocou.

Uma voz de mulher ofegante, gritou-me ao auscultador:

– Ajude-me, estou a ser assaltada. Av. Almirante Reis, nº 148, 5º Dtº. Venha depressa. – Disse e desligou.

Confesso que fiquei atrapalhado. Nunca na vida tal me tinha sucedido. Nem a voz me era familiar.

– Pensei. É capaz de ser alguma partida de Carnaval ou do 1º de Abril. Mas essas datas já tinham passado, há muito.

Resolvi ir investigar. Ou não fosse eu, um tipo com a mania dos Problemas Policiários!

Como você sabe eu moro junto ao Martim Moniz, em Lisboa.

Vesti-me rapidamente e meti-me no meu belo OPEL CORSA GT-TD, a fazer de investigador!

Mas, ao contrário do que sucede nos filmes do 007 o primeiro percalço que me sucedeu foi logo a falta de combustível. Lá consegui uma bomba e meti só 5 litritos de gasolina, porque no bolso, com a pressa, não tinha mais que mil escudos. Comecei a ver os números, já na Av. A. Reis, na espectativa de encontrar o 148.

Quando cheguei junto à cervejaria Portugália parei o carro no primeiro buraco que me surgiu pois já não estava longe o prédio em causa.

Ao olhar a cervejaria senti a garganta seca e resolvi entrar para uma imperial e tomar coragem para o resto da aventura.

Saí com outra força anímica e resolvi fazer o resto do caminho a pé.

Não precisei andar muito para encontrar o nº 148. Olhei o relógio, eram quase 16 h. e comecei a suar. Na rua havia pouca gente.

Por acaso, a porta da rua estava aberta.

Meti-me no elevador e subi ao 5º andar.

A porta do 5º Direito estava aberta e no hall de entrada uma loira, toda nua, jazia no chão num mar de sangue. Comecei a suar em bica.

Tinha chegado tarde de mais!

Entretanto, alguém de baixo, puxou o elevador. Haja Deus – Exclamei.

Desci as escadas furtivamente. O elevador subiu cheio de polícias. Saí para a rua sem ser visto, puxei um cigarro e assobiei baixinho uma velha melodia.

Fui-me pespegar em frente ao prédio, de belos azulejos de vago estilo arte nova, que Lisboa vai perdendo à medida que os anos avançam.

Passaram-se uns cinco minutos e chegou o 115. Saiu, o corpo, saíram os polícias e voltou a calma as minhas glândulas sudoríparas.

A minha aventura acabou aqui. Talvez ingloriamente. Sabe-se lá.

Agora, que lhe estou a escrever estas linhas e passados já estes dias, começo a pensar se isto se passou mesmo ou se foi só aquela frase do confrade Constantino que me levou a escrever estas linhas.

E, pensava eu, no início desta missiva que ia debitar um problema policiário!

Enganei-me, paciência, ainda não foi desta!

Uma coisa é certa às vezes imagino coisas e não é a primeira vez que me chamam de mentiroso.

Tenho, para mim, que tudo se passou como contei.

Meu caro «O Gráfico», se desta vez ainda não consegui produzir o tal problema que você esperava, paciência, nem todos podem ser «Çonstantinos» nesta terra.

Cumprimenta-o o amigo certo

A. Raposo

 

Pergunto:

1) – Acha que isto é mesmo invenção minha?

2) – Alguém poderá dizer que sou mentiroso?

Então, que o digam… mas que o provem!

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO