Autor Data 15 de Outubro de 2008 Secção Competição Problema nº 1 Publicação O Almeirinense |
Solução de: MEMÓRIAS DE TEMPICOS (O CLUBE DOS
MENTIROSOS) A. Raposo & Lena Este
problema, mais não seja, teve uma virtude: ensina que ninguém morre duas
vezes. Uma só chega, como é do conhecimento geral. Neste
caso, temos três suspeitos que pensam todos (e cada um de seu jeito) ter
morto o major Tapioca. Essa virtude (?) só cabe a um. Neste caso a uma, à
menina Aldegundes. Esta virtuosa rapariga de pêlo
na venta não estava a apreciar nada a forma de actuar
da entidade patronal. Jurou vingança e fez como achou melhor. Conseguiu obter
uma cápsula de cianeto e desfê-la no chá, que deixou na secretária do chefe. Claro
que a menina Aldegundes irá pagar na Justiça. É fatal como o destino. Os
problemas policiais têm também que defender a moral e os bons costumes e,
como tal, ela será condenada e os outros dois pretendentes a matadores terão
que fazer um curso para aprender a matar eficazmente. O
facto de a ferida na cabeça (careca) do major e a do punhal nas costas não
apresentarem – como seria de esperar – sangue com alguma abundância quer
dizer que o homem já estava morto, no momento daquelas agressões. Como
sabemos, na morte o coração deixa de bombear sangue e este tem tendência para
se acumular nos órgãos inferiores, se a vítima, como era o caso, estivesse
sentada. Fica explicado o facto de ambas as feridas registarem pouca
abundância de sangue. Poder-se-á
perguntar como é que os dois elementos da direcção
– secretário e tesoureiro – foram enganados pelas aparências. Ambos pensavam
que Tapioca dormitava na secretária! Lembramos que ambos referem a falta de
luz na sala. Igualmente
referem o cheiro adocicado que havia na sala, ao entrar. Tal dever-se-ia a
que o major, após a ingestão do primeiro gole de chá, ter deixado cair a
chávena, que se parte no chão. Ele cai na secretária, onde imediatamente
morre. O cheiro na sala indica que o conteúdo da chávena, espalhado no chão,
fez com que os vapores de cianeto fossem libertados no ambiente, produzindo
aquele cheiro característico a amêndoas amargas. O facto de o chá estar frio
não teria agradado ao Tapioca, mas, como a secretária já teria saído, ele não
teve outro remédio se não tomá-lo mesmo assim, com péssimo resultado para a
sua saúde. A
mentirinha de Aldegundes: A
menina de pêlo na venta diz ter recebido a cápsula
de cianeto de um oficial alemão, de nome Heinrich Himmler,
das S.S., fazendo parte do exército alemão da I Guerra Mundial. Aquela
personagem, que acompanhou Hitler e chegou a ser chefe das S.S., acabou, por
ironia do destino, morto por uma cápsula de cianeto, nos finais da guerra.
Mas da II Guerra, não da primeira. Não há memória de que o senhor tenha
estado em Portugal, muito menos ferido de guerra e ainda menos na época de
Aldegundes. Himmler morreu por alturas em que
Aldegundes estaria para nascer. A
mentira do secretário: O
secretário diz que disparou o revólver da porta de entrada. Aqui está uma
mentira facilmente demonstrável. A ferida na careca foi à queima-roupa,
devido ao facto de apresentar queimaduras nos bordos. As
mentiras do tesoureiro: O
tesoureiro diz que um raio de sol entrava pela janela, quando entrou na sala
do major Tapioca. Apesar de estarmos em Junho (referência a crianças a pedir
para o Santo António) e nesta época do ano o pôr-do-sol se verificar tarde
(segundo o Borda-d´Água, no dia 1 de Junho, o sol
põe-se às 21h56), acontece que a Igreja de S. Roque, no antigo Largo da
Misericórdia – actual Trindade Coelho – tem a
escadaria que dá para o largo virada a sul. Sendo a janela da sala do major
virada a norte (por estar em frente da escadaria), fácil se torna concluir
que o sol (que, teimosamente, sempre se põe a poente) não poderia deixar um raio
que fosse entrar pela janela. Mas
o secretário era ainda mais mentiroso que os outros, ao dizer que deu aos
miúdos que pediam para o Santo António dois tostões (sabendo nós que o caso
se passou em 1990). Verifica-se
que, apesar de o escudo ainda estar em curso legal, as moedas de tostão já
tinham sido retirados da circulação, por força do Decreto-Lei nº267/81 de 15
de Setembro. O “Marcelinho” (tostão de alumínio, pequenino), de saudosa
memória, foi cunhado pela Casa da Moeda pela última vez em Fevereiro de 1980,
com a data marcada na moeda do ano anterior: 1979! Porém,
nada impediria o tesoureiro de “castigar” os putos que pediam um tostãozinho
para o Santo António, fazendo-lhes uma oferta “envenenada”, pois o merceeiro
da esquina não receberia aquelas moedas e os miúdos ficariam a chuchar no
dedo, em vez de num saboroso rebuçadinho… |
© DANIEL FALCÃO |
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