Autor Data 13 de Maio de 2012 Secção Policiário [1084] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2012 Prova nº 4 (Parte II) Publicação Público |
TEMPICOS INVESTIGA A. Raposo & Lena Tempicos bebia, aos
poucos, o apreciado néctar de uma “imperial” fresquinha enquanto se
entretinha, numa esplanada da Av. da Liberdade, a ver passar o tempo e o
pessoal. O pessoal feminino, sobretudo. Corria a última semana do mês em que
os romanos homenagearam Juno, Deusa protectora das
mulheres, tal como Tempicos, actualmente. Entretinha-se
a praticar um jogo que aprendera nos cursos da “Judite”. Via passar uma
pessoa, memorizava os detalhes fechando os olhos e depois ia repetindo os
dados visualizados: cor do cabelo, cara, físico, vestuário, calçado,
adereços. Tudo o que a memória conseguira registar em breves segundos. E
aquela brincadeira acabou por ser útil. Passara por ele uma miúda, jeitosa,
azougada, com um andar vivo e apressado. Tempicos fechou os olhos e
fez o retrato após breve observação: cabelo loiro oxigenado, saia preta
curta, sapatos castanhos bem como a mala a tiracolo sustentada por corrente
metálica dourada. Blusa rosa velho com folhos, manga curta. Braços e pernas
torneadas, “bum-bum” cheiinho e saltitante. Quando
voltou a abrir os olhos, reparou ao longe na rapariga no chão, esbracejando e
pedindo socorro. Saltou
da cadeira e correu para ela. Fora assaltada. Contou-lhe em poucas palavras o
sucedido, enquanto limpava os olhos chorosos num lencinho vermelho: “Fui
roubada. Um rapaz veio por detrás de mim e com uma navalha cortou-me a alça
da mala e fugiu com ela.” Tempicos foi mais à frente
umas dezenas de metros junto a uns contentores de lixo; lá no meio, encontrou
a mala da pequena, aberta, sem alça. Trouxe a mala e ambos foram para a
esplanada onde a cerveja de Tempicos aquecia ao
sol. A jovem disse chamar-se Mimi. Tinha guardado dois mil euros na mala, em
notas, para pagar uma conta e o relógio que herdara do seu avô que acabara de
trazer da ourivesaria onde estivera a fazer a revisão anual. Felizmente que
ela mantivera o seguro contra roubo que em tempos o avô fizera, pois
tratava-se de uma relíquia, um James Foxton de
prata de 1804. Junto
com o relógio “voara” um lindo isqueiro Dupont que
Mimi adorava. Fora-lhe oferecido pelo namorado e daí o valor sentimental. Era
o modelo Minijet Girly Pink, modelo cor-de-rosa de senhora. Tempicos pediu mais uma
“imperial” para ele e perguntou a Mimi se queria tomar algo ou se a poderia
levar a casa. Nenhuma das solicitações foi aceite. Ficaram só a fervilhar na
cabeça de Tempicos algumas perguntas: A
– As marcas indicadas do relógio e do isqueiro não existiram. B
– Mimi enganou o Tempicos. C
– A acção passa-se na Primavera. D
– Mimi foi vítima de roubo. |
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© DANIEL FALCÃO |
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