Autor

A. Raposo & Lena

 

Data

19 de Agosto de 2012

 

Secção

Policiário [1098]

 

Competição

Campeonato Nacional e Taça de Portugal – 2012

Prova nº 5 (Parte I)

 

Publicação

Público

 

 

Solução de:

TEMPICOS E OS PASTELINHOS DE NATA

A. Raposo & Lena

 

Este caso deve ser analisado da forma como faria Hercule Poirot, utilizando somente as células cinzentas – reconstruindo a história, encaixando os intérpretes com as peças do puzzle que necessita ser reconstruído.

Vejamos então os factos:

Tempicos costumava receber um docinho, aos domingos, da dona da pensão. Assim sucedeu nesse domingo. Notamos que a acção se passou a um domingo, em Lisboa.

Tempicos pede um livro emprestado ao irmão João e acaba de o ler nesse domingo à noite, após a reunião amorosa no quarto da senhoria. Na segunda-feira, de manhã, vai devolvê-lo. Ninguém responde e ele e a patroa acabam abrindo a porta com a chave da casa.

Na cama estava o jovem morto com um tiro no peito, tiro esse que ninguém da casa ouviu. A arma não estava ali nem a cápsula da mesma, pelo que presumiu Tempicos que não foi suicídio e teria havido silenciador na arma. Na carteira do morto tudo normal, não tendo havido roubo do dinheiro. Tinha o B.I. e o de estudante.

Tempicos descobriu no fundo da algibeira das calças um pedaço de papel com a inscrição no name – concluiu que seria parte de bilhete da claque dos No Name Boys que esteve tão activa no Benfica.

– Os dois que vão passear até Belém na manhã de segunda-feira apresentam um álibi mútuo. Acontece que o museu que faz parte do Mosteiro está fechado às segundas. O passeio seria a outro lugar, mas dava a Tempicos mais uma pista – uma mentira da Isaltina, que é corroborada pelo rapaz. Ambos estariam conluiados. Afirmou ainda Isaltina que naquele dia não tinham aulas. Isso implicaria que ambos não tinham aulas – logo ambos colegas, sendo ele o João!

– Isaltina poderia estar também a mentir ao afirmar que não tinham aulas mas a forma como o afirma leva a crer que foi uma afirmação que lhe saiu sem se aperceber e sem intenção.

– Se um dos irmãos morresse, a herança seria para os pais que estavam vivos no norte. Só haveria forma de o assassino ficar com o dinheiro e era de fazer-se passar por ele. A semelhança entre os dois ajudaria.

– Os três jogaram cartas na noite de domingo até às duas da manhã. Acabada a jogatina, Manuel mata o irmão e troca de carteiras. Fecha o quarto à chave e deita-a fora. Vai dormir o resto da noite, descansado, no quarto do irmão.

– Aqui podemos e devemos acrescentar a participação na morte da Isaltina. Ela tinha tudo previamente combinado. Todos os detalhes.

– O truque que arranjaram – a afonia – do irmão sobrevivo deu mais uma pista e contribuiu com um factor de desconfiança na cabecinha de Tempicos. Este só conseguia distingui-los pela voz e agora nem isso.

– Dos restantes moradores da casa ninguém beneficiaria com a morte do rapaz, nem a patroa, nem a empregadinha, nem o surdo coronel.

– A dona da pensão diz ter visto descer e sair com a Isaltina o irmão Manuel, mas afirma-o por ter visto na sua mão as chaves do carro. Não prova que seja o Manuel.

– O irmão estudante vivia mal enquanto o outro abarrotava de dinheiro. A Isaltina gostava do colega que lhe era mais chegado, o do seu curso de direito. A matéria os unia. A comunhão de interesses. Os dois pensaram em ficar independentes e quiçá juntar os trapinhos.

Isto foi tudo o que Tempicos pensou e não estaria muito longe da verdade!

© DANIEL FALCÃO